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Frankie – Um elenco formidável fazendo turismo em Portugal!

Dirigido por Ira Sachs, Frankie é um drama familiar franco-português que se apoia nas locações e atuações

Uma mulher desce até a piscina do hotel, tira a parte de cima do biquíni e mergulha. Sua neta lhe traz uma bandeja com o café da manhã e avisa: “O hotel não está vazio, eles podem te ver!”. “Não tem problema”, a mulher responde, ainda desfrutando da experiência. “Eles podem tirar fotos!”,protesta a neta, determinada a proteger o pudor da avó. “Sou muito fotogênica!”, ela a tranquiliza, dando mais um mergulho. Essa é a cena de abertura de Frankie, que estabelece um dos muitos ricos momentos do filme. Isabelle Huppert (do polêmico Elle) interpreta a personagem-título, a atriz Françoise Clement, apelidada de Frankie. Ela está com câncer terminal e decide juntar toda a família uma última vez para uma viagem até Sintra, em Portugal. Seus familiares têm seus próprios problemas: um possível divórcio, decepções amorosas, desentendimentos entre irmãos, entre outros. 

Crítica de Frankie

O filme tem dez personagens principais, que dividem o tempo de tela de uma hora e quarenta com mais alguns coadjuvantes, mas não chega a ser corrido, graças ao roteiro de Ira Sachs, com co-autoria do carioca Mauricio Zacharias, que também colaborou no roteiro em outro filme do diretor, O Amor é estranho. Eles conseguem estabelecer com clareza cada núcleo de personagem e levar até a cena final, sem perder interesse por cada arco, mas também evitando dar resoluções para as narrativas.

Frankie está em Sintra com seus filhos Sylvia (Vinette Robinson) e Paul (Jérémie Renier). Sylvia está pensando em se divorciar de Ian (Ariyon Bakare), e sua filha Maya (Sennia Nanua) está sendo forçada a manter segredos do pai. Maya está irritada pela mãe não conseguir decidir se que ser mãe ou melhor amiga” dela. Ela decide passar o dia na praia para ficar longe dos problemas dos pais e conhece um rapaz português. Paul quer se mudar para Nova York e Frankie espera poder apresentá-lo para sua amiga de longa data Ilene (Marisa Tomei), mas ela trouxe um novo namorado (Greg Kinnear) na viagem. Ilene está aproveitando seus dias de descanso de trabalhar no novo Star Wars com o assistente de fotografia Gary, que parece estar mais apaixonado por ela do que ela por ele. Ela não consegue achar um homem por quem se interesse de verdade.

O marido de Frankie, Jimmy (Brendan Gleeson), está tendo dificuldade em lidar com a realidade do óbito iminente da esposa. Ele procura alento nas palavras do ex-marido dela, Michel (Pascal Greggory), que saiu do armário depois da separação. Frankie quer que “pelo menos finjam” que aceitaram seu destino, aproveitar seus últimos dias e talvez deixar o futuro das pessoas que ama encaminhado. Entre planejar uma bolsa de estudos com seu nome e inesperadamente participar de um aniversário de uma fã, seu enfrentamento da morte não é dramático, somente contido.

Visual e estilo

Crítica de Frankie

As influências do cineasta Eric Rohmer em Frankie são claras: lugares bonitos, protagonistas insatisfeitos que expressam bem seus sentimentos, dois toques de melancolia e um de melodrama. Não é uma fórmula ruim e Sachs consegue trazer inovações para o formato que trazem o filme para um cinema mais contemporâneo e um público internacional.

Enquanto Rohmer usava atores menos conhecidos, Frankie tem um elenco recheado para apoiar Huppert. Sachs também não tem restrição em usar trilha sonora, uma notícia feliz para amantes de piano clássico, já que o trabalho composto por Dickon Hinchliffe é de uma beleza incrível. Sachs opta por cores vivas, tanto nos cenários quanto nos figurinos, e não foge do humor se a situação permite, criando um equilíbrio mais amistoso para o público internacional. Seu posicionamento de câmera e atores é feito com sagacidade, como na cena de discussão entre Ilene e Gary em que, ao invés de cortar para cada reação, as personagens trocam de lado para ter tempo igual de tela. São recursos interessantes para gerar realismo e intimidade, mesmo que tudo seja tratado de maneira superficial por conta da escassez de tempo gerada pelo excesso de personagens.

Com diálogos em inglês, francês e português, a narrativa passa a sensação de se estar fazendo turismo, se apoiando muito nas belas vistas e pontos turísticos de Sintra. A caça pelo próximo local impulsiona a narrativa para frente, permitindo novos confrontos e diálogos, além de reforçar o quanto estão todos “perdidos” em seus mundos e decisões. Simples, direto e sensível, Frankie é um filme gostoso de assistir e carrega em si uma melancolia bonita, mas poderia beneficiar de menos personagens e mais história. Mesmo assim, vale uma conferida para quem gostou dos outros filmes de Sachs ou gosta de filmes que se baseiam no estilo de Eric Rohmer, como Frances Ha ou O Ato Indizível.

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