Em Pedaços trabalha temais sociais importantes, com uma ótima atuação de Diane Kruger
Pessoa perde a família em um atentado e decide se vingar dos responsáveis. Trama clássica que, com diferenças pontuais, já se viu em Desejo de Matar ou até mesmo o recente O Estrangeiro com Jackie Chan. Mas e se essa premissa viesse com outra abordagem, mostrando os reais resultados políticos e psicológicos de um ato violento? É isso que o diretor Fatih Akin mostra em seu novo longa, Em Pedaços (Aus dem Nichts), co-produção entre Alemanha e França, onde o foco não é a vingança da vitima, mas sim as consequências de uma perda como essa.
Ambientado em Berlim, o filme conta a história de Katja (Diane Kruger), uma ex-usuária de drogas casada com Nuri (Numan Arc), descendente de turcos e ex-traficante, que largou o crime após o casamento e o nascimento do filho. Após deixar o filho no escritório do marido, Katja vai a um spa. Quando retorna, encontra o lugar destruído por uma bomba caseira e sua família morta. Após o trauma, Katja recebe a ligação de seu amigo, o advogado Danilo (Denis Moschitto), dizendo que os responsáveis, um jovem casal de neonazistas, foram presos. Destruída pelo luto, a moça vai fazer tudo o que é capaz para conseguir justiça.
Vamos deixar claro que não veremos Diane Kruger atirando em bandidos, torturando-os e virando uma vigilante. Como já dito, o foco do roteiro de Akin e Hark Bohm é ser o mais realista possível, mostrando todo o sofrimento da perda e de temas políticos que devem ser discutidos, como o aumento da xenofobia na Europa e a nova ascensão dos movimentos extremistas na Alemanha. Não que o diretor berre a sua mensagem, pois a própria situação do filme já a deixa clara. E é importante dizer que o roteiro evita se aproveitar do sofrimento da protagonista, deixando que essa característica se desenvolva junto com a progressão da história. Para que esses temas sejam discutidos e mais bem aprofundados, o longa é dividido em três capítulos: A Família, O Julgamento e O Mar.
Além do roteiro, deve-se também elogiar a direção de Fatih Akin, que mostra seguir uma lógica inteligente. Até a metade do segundo ato, é tudo feito com uma câmera na mão nervosa e deselegante, que serve para mostrar a emoção da personagem. Conforme o filme avança, ela vai tornando mais racional quanto à situação na qual se encontra. Nisso, a câmera que era nervosa e deselegante se torna mais calma e mostra mais cuidado nas composições dos quadros, fazendo vários planos contemplativos durante o terceiro capitulo.
A estrela: Diane Kruger
Todo o elenco se mostra muito bem, apesar de uma ou outra composição caricata. Porém, o grande destaque do filme fica para Diane Kruger, que faz o melhor trabalho de sua carreira. É uma atuação muito difícil por ela, praticamente, sofrer e chorar durante toda a projeção, soando monotônica. No entanto, chama atenção o sofrimento real que o olhar dela passa, nos mostrando alguém que perdeu tudo. É um trabalho muito forte que se mostra valorizado por Akin, que a filma ela em todos os planos, mas nunca se torna um recurso barato para mostrar a beleza da atriz. Como já comentado, existe cuidado na composição dos quadros.
Isso se deve ao esmero da composição física da atriz, que aqui não é a beldade que ficou famosa por Troia, Bastardos Inglórios e Desconhecido pela sua beleza. Além do corpo tatuado, como a personagem era usuária de drogas ela se mostra magra, com olheiras e descabelada. É um belíssimo trabalho que confirma um grande talento dramático.
Em Pedaços é um ótimo filme e já atrai pela escolha de um tema que nos faz lembrar dos filmes de burucutus, mas busca um lado real e toca em pontos políticos e sociais importantes, tratados como tal. E, ainda por cima, tem uma excepcional atuação de sua protagonista, merecidamente premiada em Cannes pelo papel. Independente de quaisquer premiações, quem ganha é o espectador.