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Cafarnaum – Excelência mirim!

Diretora libanesa Nadine Labaki volta seu olhar para o universo das crianças negligenciadas em Cafarnaum

Cafarnaum (Capharnaüm) é o retrato fiel e inevitavelmente triste da miséria e da exclusão social das camadas populares no Líbano. A atriz e diretora Nadine Labaki (responsável por E Agora Onde Vamos? e Caramelo) traz a comovente história do garoto Zain (Zain Al Rafeea) que deseja processar os pais por o terem “colocado no mundo”, como o mesmo afirma.

Crítica Cafarnaum

Trabalhando com flashbacks, Labaki nos mostra a miserável vida de Zain, que aos doze anos precisa sustentar os irmãos mais novos enquanto o pai, alcoólatra, e a mãe, traficante de narcóticos em presídios, negligenciam à todos. É interessante a maneira como a diretora trabalha a montagem nesses primeiros momentos do longa, com cortes rápidos e uma narrativa dinâmica para nos envolver no cotidiano de luta do garoto.

(Confira a crítica de outra estreia da semana, Temporada!)

A situação muda quando a matriarca da família decide vender a filha de onze anos (uma triste realidade em países árabes) como esposa para o dono da marcenaria em troca de algumas galinhas. Isso causa revolta em Zain e ele foge de casa. Perambulando pelas ruas,o garoto acaba acolhido pela refugiada etíope Rahil (Yordanos Shiferaw), e a ajuda a cuidar de seu filho Yonas. A partir desse momento, a montagem torna-se truncada, quase um retrato documental sobre refugiados, miséria e exclusão social.

Elenco e Câmera 

Talvez o maior problema seja na maneira como a diretora conduz esses eixos de mudança na montagem, principalmente quando traz o espectador para o presente e articula as cenas no tribunal que acabam tornando-se encostos para a transição entre imagens. O elenco escalado por Labaki é o xeque-mate do longa. A verossimilhança do ator mirim Al Rafeea à Zain é surpreendente. Ao mesmo tempo rebelde e amoroso com as irmãs, Zain assume uma persona séria, às vezes amargurada, e com ares adultos, justamente por conta da responsabilidade que assume com as pessoas que ama. Um trabalho nada fácil para um ator mirim e Al Rafeea o realiza com bastante intensidade.

Crítica Cafarnaum

Já Rahil é representada fortemente por Shiferaw que, trabalhando em múltiplos empregos para sustentar o filho sozinha, ainda decide por ajudar Zain lhe dando um lar. É elegante a maneira como o bebê Yonas interage com a câmera e como as lentes do diretor de fotografia Chistipher Aoun são simbiótica ao desenvolver essa relação. Ele também constrói uma fotografia aos olhos de uma criança, com a câmera sempre na altura de Zain, limitando o quadro do plano ou investindo em contra-plongées.

O único problema na condução da fotografia é o uso incessante de uma câmera trêmula que em muitos momentos ajuda a trazer o caráter documental da obra, mas desliza em outros, tornando esse recurso estético falho.Uma subtrama em Cafarnaum é justamente sobre refugiados árabes no Líbano e a exclusão social dessas pessoas que buscam um novo lugar para viver. O tom de registro documental da obra leva os espectadores a imaginar o filme como um documentário sobre o tema.

Vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes do ano passado, Cafarnaum é interessante e comovente. Vale a pena conferir a história de Zain, um registro de tantas outras crianças, libanesas ou não.

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