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Temporada – Nasce uma estrela!

Premiado em vários festivais, Temporada consolida o talento e o estilo do diretor mineiro André Novais 

Uma das coisas mais difíceis de se alcançar na arte é a simplicidade. Desbancar para o simplista ou mesmo imprimir uma monotonia sem significado é um risco mesmo quando se tem segurança sobre a história que se quer contar. O diretor mineiro André Novais Oliveira já havia deixado claro seu apreço por personagens “gente como a gente” e por cenários mais intimistas e afetuosos em seu primeiro longa-metragem, Ela Volta na Quinta, de 2014. Agora, com Temporada, ele parece ter encontrado seu lugar de filmar no mundo e esse lugar é o interior. Das cidades e das pessoas.

Crítica Temporada

A trama gira em torno de Juliana (Grace Passô), uma jovem mulher que deixa a cidade de Itaúna por conta de seu novo emprego. Em Contagem, também em Minas Gerais, ele começa a integrar a equipe responsável pelo combate e prevenção de endemias. Não é o trabalho dos sonhos e os primeiros dias são silenciosos e apreensivos, já que ela aguarda a chegada de sua mudança e também do marido. Mesmo contando com a ajuda de familiares, ela passa grande parte do tempo sozinha. Mesmo ao lado dos novos colegas de trabalho, percorrendo as casas da periferia de Contagem, ela parece estar só. Poucas perguntas e quase nenhuma interação.

(Confira críticas de outros filmes brasileiros: Rasga Coração e O Segredo de Davi)

Aos poucos, o espectador descobre o porque de tão pouco diálogo e Juliana ganha novas camadas. Nuances, na verdade, pois tanto a direção quando a interpretação de Grace Passô fazem questão de não dar a quem assiste Temporada todas as respostas. Chegamos no meio de um caminho e vamos seguir por ele com as mesmas dúvidas dos coadjuvantes que surgem na história de Juliana. Exibido no Festival de Locarno e na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Temporada só chega às telas comerciais por conta de seu sucesso no festival de Brasília do ano passado, onde conquistou cinco prêmios, incluindo o de Melhor filme.

Protagonista iluminada

Assim como havia feito em seus curtas-metragem e seu longa anterior, André Novais Almeida opta por uma trilha sonora insólita (chega a lembrar desenhos animados em alguns momentos) e uma fotografia simples, respeitando a luz natural. Aliás, tudo é natural, familiar em Temporada. Em especial sua protagonista. A atriz e dramaturga Grace Passô, constrói Juliana como alguém que, mesmo adulta na idade, ainda está se descobrindo. Sua mudança para uma cidade maior e a independência financeira fazem com que ela vá, aos poucos, encontrando os seus próprios desejos. E o público acompanha esse percurso, essa temporada de transformação sem o alento dos contos de fada.

Crítica Temporada

Não que Temporada seja um filme triste, longe disso. Os diálogos protagonizados por Grace e seu companheiro de cena Russão são engraçadíssimos e inteligentes, pois fazem pensar sobre os pequenos problemas que as cidades nos apresentam no cotidiano e do qual, muitas vezes, a gente esquece de observar por outro ângulo. Esquece de colocar poesia para apaziguar as coisas. Juliana nos causa empatia porque poderia ser nossa vizinha, nossa prima, nós mesmos. Grace traz gestos simples para sua personagem, mas vale-se da força de seu olhar para deixar claro que estamos diante de uma grande mulher que ainda não conhece sua real força.

Ao final do filme, estamos tomado por aquela rotina simples, mas repleta de significado que tornou-se a vida de Juliana. A direção não esquece de mostrar os perrengues e as dores, mas não dá aquele tipo de atenção que os mais espertos da plateia vão perceber que estão ali só para provocar lágrimas e desviar o foco de quem assiste do que realmente importa. São dramas que todos já viveram ou conhecem alguém que viveu. Mas como tudo que é mostrado na tela grande, cresce e parece muito mais intenso do que na vida real.

Temporada não é filme de protesto, nem crítica política, muito menos uma superprodução disposta a quebrar padrões ou modificar o rumo do cinema brasileiro. Tem tudo isso que citei na frase anterior, mas contem por mero acaso, não por intenção de seus realizadores. É um pedaço do Brasil que está muito perto, mas que por parecer simples demais diante das “grandes aventuras” do cinema, parece não render uma boa história.Mas não só rende como pode apresentar para muita gente o talento de Grace Passô que iluminou os outros elementos do filme e fez dele um dos mais aplaudidos do Festival de Brasília. Lady Gaga que nos perdoe, mas é em Temporada que nasce uma estrela.

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