7 Dias Em Entebbe é mais um thriller político de José Padilha
Há muitas coisas acontecendo quase que simultaneamente em 7 Dias Em Entebbe (Entebbe). Temos o principal evento — o sequestro de um avião da Air France por um grupo de revolucionários pró-Palestina –, as consequências desse ato — o pouso na cidade que dá nome ao filme, localizada em Uganda –, as reuniões decisivas no escritório do Primeiro Ministro de Israel (interpretado por Lior Ashkenazi), a preparação dos soldados israelenses encarregados de fazer o resgate dos reféns, a insegurança da terrorista vivida por Rosamund Pike (Garota Exemplar) e o sentimento de culpa do protagonista (Daniel Brühl, de Capitão América: Guerra Civil).
O gênero escolhido por José Padilha para abarcar essa multiplicidade de acontecimentos é o thriller. Várias convenções estão presentes: a trilha sonora composta de batidas e sons que deixa o espectador num constante estado de atenção, a montagem repleta de cortes rápidos que alterna repetidamente entre diferentes espaços de ação e a câmera intrépida sempre em busca de uma urgência narrativa. Esse itinerário, aliás, não é estranho ao diretor, uma vez que a maior parte da sua carreira é constituída de filmes que recorrem aos mesmos elementos (os dois Tropa de Elite e Robocop).
Ademais, uma outra característica evidentemente prezada por Padilha — os contextos politizados — também surge em 7 Dias Em Entebbe. Desta vez, o cenário é o embate entre as táticas dos defensores da Palestina (os personagens de Pike e Brühl são alemães) e a política diplomática de Israel. Portanto, não é exagero dizer que, tanto do ponto de vista temático quanto da perspectiva estética, o cineasta brasileiro está se colocando numa região confortável, na qual os principais signos cinematográficos são compreendidos e até dominados com uma certa destreza.
No entanto, é quando ele rompe com as amarras do gênero que o filme adquire personalidade. São breves cenas em que há o vislumbre de uma maior complexidade política e psicológica. Nesses momentos, aprendemos mais sobre os personagens e os ideais que os movem. Não à toa, toda vez que isso ocorre há uma ligeira quebra no ritmo, como se um filme mais auto-consciente tivesse sido introduzido no andamento corrido de um longa eficiente, mas demasiadamente convencional. Nos instantes dedicados às oscilações do protagonista, por exemplo, quando há a possibilidade de conhecer sobre o seu passado e o planejamento da missão, essa diferença se torna evidente.
Resquícios da Segunda Guerra Mundial e a mentalidade revolucionária
Sempre que o personagem de Brühl se sente como um carrasco da Gestapo (por separar judeus do restante do grupo e ameaçá-los de morte), a história se posiciona fortemente e oferece uma densidade dramática que não existe noutras oportunidades. Pode-se dizer algo parecido dos flashbacks destinados a mostrar os dias que antecederam o sequestro. Há um retrato corajoso da mente dos revolucionários e das mentiras que eles precisam contar para que as suas ações se tornem menos escabrosas (o diálogo do protagonista com um dos pilotos no terraço é de uma precisão e profundidade impressionantes).
Por sua vez, a dança que é intercalada com a ação principal rende os momentos mais poéticos e plasticamente belos. A escolha de mostrar a sua preparação ao longo da narrativa se mostra ainda mais acertada quando Daniel Rezende (o montador) estabelece um elo com o clímax, o que cria não só uma rima visual como também temática, já que o terceiro ato só se torna possível quando Israel decide repensar a sua posição, duramente criticada pela encenação e pelos movimentos dos bailarinos.
Como todos esses relances não se destacam em função das outras cenas, mas quase que apesar delas, se torna lamentável que a ousadia por trás de sua realização não tenha se estendido ao restante do filme. Ao que tudo indica, Padilha parece ter encontrado uma fórmula à qual recorre e deseja ser associado. Em alguns momentos, ela até se revela funcional, mas sempre empalidece diante de um instante inspirado. Geralmente, há um filme diferente tentando respirar debaixo da carcaça de outro muito mais prosaico.