É evidente que hoje existe um filão para um tipo de herói de ação mais velho, lutando contra as limitações da idade e/ou travando um conflito de gerações com outros integrantes do elenco. Se Liam Neeson – chegando aos sessenta – deu a dica fazendo Busca Implacável em 2008, Stallone e sua turma chutaram o balde, dois anos depois, com o primeiro Os Mercenários. No caso do primeiro, foi uma espécie de novo rumo na carreira, já que Busca Implacável 3 está em pré-produção no momento, além de um ou outro filme anterior em que o irlandês interpretou um tipo durão. Se colou uma vez, que tal tentar a mesma fórmula com outro veterano, um tanto em baixa? Alguém deve ter feito essa pergunta ao agente de Kevin Costner, pois ei-lo aqui tentando a mesma travessia.
3 Dias para Matar (3 Days To Kill) tem Kevin Costner como Ethan Renner, o típico agente cujo trabalho lhe custou o casamento e que não vê a filha há tempos. A trama se inicia em uma missão da CIA em Belgrado, com o objetivo de capturar o terrorista conhecido como Wolf, cujo rosto é desconhecido, aproveitando o encontro do mesmo com seu contato. A missão fracassa – claro – e o herói termina dispensado do cargo por haver sido diagnosticado com câncer no cérebro. Buscando uma reaproximação com a família, muda-se para Paris e tenta quebrar a resistência da filha adolescente-problema, vivida por Hailee Steinfeld, de Bravura indômita. Contentando-se em resolver isso com os poucos meses de vida que lhe restam, ele é procurado por Vivi – Amber Heard, de Machete Mata- que continua a procura por Wolf e quer sua ajuda, pois, teoricamente, Ethan o viu no dia da missão mal sucedida. A relutância do aposentado é vencida, quando ela oferece uma droga experimental para sua doença em troca do auxílio.
Como se trata de uma história da autoria de Luc Besson, do recente Lucy, com um tratamento do roteirista pouco experiente Adi Hasak – repetindo a dobradinha de Dupla Implacável, de 2010 – essa premissa básica nem é o ponto fraco do filme, pois ainda poderia render algo esteticamente bacana e divertido. O diretor McG, dos dois As Panteras, poderia (deveria?) ter optado por investir na ação, mas preferiu criar uma colcha de retalhos misturando isso a um drama familiar ineficiente com situações cômicas aqui e ali. O resultado é que ele acaba fracassando em todas as frentes, às vezes arrancando risadas das tiradas absurdas que o roteiro espreme, mas já beirando o ridículo e comprometendo a credibilidade do conjunto, que não diz a que veio. Com esse título, seria de se esperar que o foco principal fosse a caçada ao terrorista, mas mesmo quando esse assunto dá as caras, não empolga muito.
Como se não bastasse essa falta de uma linha de gênero mais definida, o roteiro ainda sofre com situações pouco convincentes, que acabam fazendo questionar a real utilidade de Ethan no plano de Vivi. Não se anime achando que isso é alguma pista falsa para uma reviravolta final, pois a trama se resolve em um estalar de dedos, com soluções caindo do céu. Falando em pistas falsas, pode até ter havido algum problema de edição, mas o filme cria situações que depois acaba esquecendo, como a suposta ameaça à ex-esposa e filha do protagonista. Se 3 Dias Para Matar fosse um ser humano, com certeza seria alguém com sérios distúrbios mentais, juntando sintomas de transtorno bipolar, múltiplas personalidades e Alzheimer.
Apesar de tudo, Kevin Costner é um cara carismático. Talvez esse seja o único ponto positivo do filme, ainda que eu considere sua figura como algo muito mais próximo do homem comum. Neste sentido, esteve perfeito em O Campo dos Sonhos, Dança Com Lobos e Um Mundo Perfeito, e não por acaso, sua escalação como Jonathan Kent em O Homem de Aço foi um dos (poucos) acertos daquele filme. Não digo que por causa dele você deva aguentar os 117 minutos de 3 Dias Para Matar, mas acho que ele ainda merece algum crédito. Resta escolher melhor daqui para a frente, caso o intuito não seja apenas pagar as contas.
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