Bingo disputará vaga no Oscar 2018
Nos últimos anos, o cinema nacional tem sofrido uma forte polarização política. Na realidade chega a ser uma tradição nacional que os cineastas tomem partido de causas que afloram no cenário do país. O cinema brasileiro sempre teve uma tendência a ser ensaísta.
Essas tendências fizeram com que ações que deveriam ser somente artísticas acabassem se tornando atos de protesto ou de lamúria. Como foram os casos dos protestos em Cannes, o boicote ao CinePE e a escolha do candidato brasileiro ao Oscar de 2017. O filme representante do ano passado, Pequeno Segredo (cujo diretor David Schurmann fez parte da comissão deste ano), foi indicado por uma comissão que desagradava a uma parte dos cineastas. Por isso, passou a ser atacado como se tivesse alguma culpa por ser escolhido ao invés do polêmico Aquarius.
Talvez para colocar panos quentes e deixar as rusgas para trás, o Ministério da Cultura se absteve de indicar os julgadores que iriam escolher qual o filme que representará o Brasil. Esse papel foi relegado à ABC, Academia Brasileira de Cinema. A ABC seria o equivalente à Academia americana, a entidade que celebra o Oscar.
Dentre mais de duzentos profissionais, coube a uma comissão presidida por Jorge Peregrino (diretor vice-presidente da ABC) e por seis membros da Academia: André Carreira (Diretor de Teatro e professor), Iafa Britz (produtora), David Schurmann (Diretor), Doc Comparato (autor e roteirista), João Daniel Tikhomiroff (Diretor Geral Artístico da MIXER) e Miguel Faria Júnior (Cineasta).
A lista dos inscritos nesse ano: A Família Dionti, de Alan Minas; A Glória e a Graça, de Flávio Ramos Tambellini, Bingo: O Rei das Manhãs, de Daniel Rezende, Café – Um dedo de prosa, de Maurício Squarisi, Cidades Fantasmas, de Tyrell Spencer; Como Nossos Pais, de Laís Bodanzky; Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano; Divinas Divas, de Leandra Leal; Elis, de Hugo Prata, Era O Hotel Cambridge, de Eliane Caffé, Fala Comigo, de Felipe Sholl, Gabriel e a Montanha, de Fellipe Barbosa; História Antes da História, de Wilson Lazaretti, Joaquim, de Marcelo Gomes, João, o Maestro, de Mauro Lima, La Vingança, de Fernando Fraiha e Jiddu Pinheiro, Malasartes e o Duelo com a Morte, de Paulo Morelli; O Filme da Minha Vida, de Selton Mello; Polícia Federal: A Lei é Para Todos, de Marcelo Antunez; Por Trás do Céu, de Caio Sóh; Quem é Primavera das Neves, de Ana Luiza Azevedo, Jorge Furtado; Real: O Plano Por Trás da História, de Rodrigo Bittencourt e Vazante, de Daniela Thomas.
Nova tendência?
E, aparentemente, eles debateram bastante, pois o anúncio atrasou mais de uma hora do previsto. Marcado para hoje, dia 15 de setembro às 11 horas na Cinemateca, o anúncio oficial do filme brasileiro indicado para a disputa de uma vaga entre os indicados como Melhor Filme Estrangeiro demorou, mas não trouxe uma grande surpresa. Nosso representante será Bingo: O Rei das Manhãs, do diretor Daniel Rezende.
Antes do anúncio já havia um burburinho de que estava entre ele e Era O Hotel Cambridge, de Eliane Caffé, que tem uma vertente mais próxima dos filmes produzidos nacionalmente, com presença de discurso e uma tendência mais naturalista.
A indicação de Bingo pode representar uma nova tendência para os caminhos da cultura nacional, uma vez que aconteceu devido a critérios mais artísticos que políticos. Isso é bom, pois, se confirmada, deverá puxar pra cima a régua de medida das obras como peças de arte que apresentam, entretêm e debatem.
Agora, só nos resta saudar o novo rei, Bingo.
Ah, e torcer para que consiga, de fato, concorrer à estatueta…