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O Filme da Minha Vida – A voz de um cineasta!

O Filme da Minha Vida comprova o talento de Selton Mello

Selton Mello é um dos atores mais queridos e talentosos que trabalham no Brasil. Com uma carreira de mais de 35 anos, o mineiro já demonstrou várias vezes o seu carisma e o seu alcance dramático. Basta lembrar de filmes como O Auto da Compadecida, Lisbela e o Prisioneiro, A Mulher Invisível, Lavoura Arcaica e o recente Soundtrack. Além de se mostrar um ator excepcional, nos último anos, revelou-se também um cineasta muito maduro e eclético. É só lembrarmos da excelente série Sessão de Terapia, na qual dirigiu todos os episódios, e o seu último longa, o lindo e delicado O Palhaço. Após o grande sucesso do filme de 2011, o diretor lança o seu terceiro longa: O Filme da Minha Vida, unindo novamente seus dois talentos no mesmo projeto.

Crítica de o Filme da Minha Vida

O Filme da Minha Vida

Baseado no livro de Antonio Skármeta, o longa se passa no começo dos anos 1960 e conta a história de Tony Terranova (Johnny Massaro), um professor de francês que mora em uma cidade no interior do Rio Grande do Sul, mas foi fazer seu mestrado na capital. Ao retornar à cidade, ele descobre o seu pai, Nicolas (Vincent Cassel), um francês que vive no Brasil há muito tempo, deixou sua mãe (Ondina Clais) e voltou para a França. Mesmo triste, Tony decide seguir a sua vida vendo o amigo da família, Paco (Selton Mello), se aproximar de sua mãe e tendo amores pelas irmãs Luna (Bruna Linzmeyer) e Petra (Bia Arantes), que o atraem de maneira diferentes.

É uma história muito simples, mas que o roteiro – assinado por Mello e Marcelo Vindicato, que fizeram O Palhaço – desenvolve de maneira calma e precisa. Não há pressa para revelar seus conflitos e conta com personagens muito fascinantes, lembrando alguns filmes italianos, marcantes pelos tipos muito característicos e inesquecíveis. A prostituta vivida por Martha Nowill, que sabe de cor as capitais de todos os países, é um desses casos, ou o jovem irmão de Luna, que pede a Tony que o leve à um bordel para perder a virgindade. São elementos que deixam o filme com uma personalidade forte.

Outro ponto crucial do roteiro são os ótimos diálogos criados pela dupla de roteiristas. São rápidos e inteligentes, variando entre o humor e a melancolia. Alguns são boas piadas com a linguagem, como diz Paco quando o convidam para ir ao cinema: “É um lugar escuro em que você vê a vida das pessoas por duas horas.” São linhas profundas, que falam dos sentimentos dos personagens sem que soem como algo expositivo ou gratuito. Dito isso, é um roteiro com uma sensibilidade semelhante a O Palhaço.

Crítica de o Filme da Minha Vida

A Luz e a Imagem de Walter Carvalho

Se o roteiro de O Filme da Minha Vida se mostra tocante e inteligente, visualmente ele é maravilhoso. Há planos que dão vontade de emoldurar pela sua beleza, mas como Mello já provou que é um diretor muito inteligente, há um conceito por trás disso. O tom sépia da fotografia invoca o clima melancólico daquele universo. Isso se deve à belíssima direção de arte de Claudio Amaral Peixoto – outro que repete a parceria com o diretor­ – e principalmente à excepcional fotografia de Walter Carvalho, em um dos seus melhores trabalhos. Dono de uma obra incrível, com filmes como Central do Brasil, Abril Despedaçado, Carandiru e o recente Redemoinho, Carvalho sempre mostrou um cuidado muito forte com a concepção da imagem e, como todo bom fotógrafo, não preocupa-se apenas com a beleza da imagem.

É só ver o cuidado com que O Filme da Minha Vida é filmado e como a câmera de Carvalho – obviamente direcionado por Mello – consegue criar símbolos para o universo criado. A importância da moto que era de Nicolas, como se fosse o grande símbolo do pai; o de assistir Rio Vermelho, como se fosse uma perda de inocência e o começo da vida adulta; como Paco está sempre perto dos porcos, etc. Esse tipo de linguagem, feita apenas pelo visual, denota uma grande inteligência e sensibilidade. É um dos trabalhos mais incríveis da carreira de Carvalho, igualando o extraordinário Lavoura Arcaica.

Já a direção de Mello merece destaque. É um trabalho muito seguro, que reforça a sensibilidade vista em seus outros trabalhos como diretor. Aqui, percebemos um amadurecimento, levando em conta seus créditos anteriores. Ele também mostra grande domínio de ritmo. Por mais que demore a chegar ao seu principal conflito, o conjunto não se torna arrastado. É muito satisfatório para qualquer cinéfilo ver essa evolução narrativa e técnica de Selton Mello, ao mesmo tempo em que percebemos uma voz autoral se tornando mais evidente. A sensibilidade da obra envolve personagens em busca de algo que falta a eles, tão cativantes que parecem saídos de algum desenho, além de um senso de humor próprio, que varia para o melancólico de forma fluida.

Crítica de o Filme da Minha Vida

O elenco se mostra muito bem escolhido, saindo-se muito bem em suas funções. Johnny Massaro consegue transmitir todo o sentimento escondido de Tony com olhares e gestos calculados. Não à toa, seu ar de inocente o torna perfeito para o papel. O ator francês Vincent Cassel deixa a sua participação emocionante, mesmo com muito pouco tempo em cena. Ele consegue passar amor e carinho e faz um dos seus trabalhos mais contidos, já que é conhecido por ser mais expansivo em papéis mais explosivos. Aqui, sua caracterização calma passa todo o sentimento pelo filho de uma forma emocionante. Já o próprio Selton Mello seria o “alivio cômico” do filme, por fazer o bronco da cidade. Além de ter um sotaque gaúcho fortíssimo, Paco é um personagem que nunca deixa claras suas reais intenções e Mello consegue dar essas camadas ao personagem.

Enfim, O Filme da Minha Vida é um dos melhores filmes do ano. É lindo, sensível e muito bem executado. É uma tarefa é difícil um realizador manter uma qualidade regular em sua obra, mas Selton Mello está se mostrando um dos melhores diretores do cinema brasileiro. Aguardando com ansiedade seu próximo filme.

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