David Lynch em doses menores
Quase todos os cineastas, antes de começarem a fazer longas, revelaram o seu potencial artístico através de curtas-metragens. O baixo custo de produção, a ausência de compromissos comerciais e a liberdade criativa proveniente do formato culminam no veículo perfeito para os diretores darem vida às próprias ideias de uma forma livre e pessoal. Sendo assim, é perfeitamente natural que David Lynch, dono de uma uma criatividade ilimitada, não só se rendesse aos curtas no início da carreira, como continuasse realizando-os ao longo dos anos.
Portanto, aproveitando o mini-especial que o Formiga Elétrica está fazendo sobre ele (leia o nosso ranking), decidimos listar os seus principais curtas-metragens. Aos que não conhecem essa faceta do diretor, é hora de embarcar nesta viagem!
*Obs: como não existe um consenso acerca da metragem de um curta, optamos por colocar na lista todos os filmes que têm menos de 60 minutos.
Confiram!
Six Figures Getting Sick (Six Times), 1966
Quando Lynch entrou na Academia de Belas Artes da Pensilvânia, a sua grande paixão era a pintura. Foi somente depois que o Cinema passou a ocupar um grande espaço no seu coração. Six Figures Getting Sick (Six Times), o seu primeira curta metragem, talvez, de todas as suas obras, seja a que mais deixa claro o amor que o diretor sente por essas duas formas de arte. Ao som de sirenes, o público vê, durante um certo tempo, seis homens vomitando seis vezes, numa construção perfeita de pinturas em movimento.
The Alphabet, 1968
A sobrinha de uma das esposas de Lynch costumava ter pesadelos nos quais proclamava o alfabeto enquanto dormia. Esse relato acabou servindo de inspiração para The Alphabet, uma mistura assustadora de animação e live action. Muito da atmosfera e das experimentações que seriam vistas posteriormente em filmes como Eraserhead já dão as caras aqui.
The Grandmother, 1970
Surpreendentemente, The Alphabet acabou fazendo sucesso, e, como sequência disso, Lynch recebeu cinco mil dólares do American Film Institute para realizar o seu próximo projeto. Trabalhando com o maior orçamento de sua carreira até então, o diretor realizou The Grandmother, um curta de trinta e três minutos cuja história girava em torno de um garoto que cria a figura de uma avó para fugir dos abusos dos pais. Assim como o curta anterior, o filme também é uma mistura de animação e live action.
The Amputee, 1974
Filmado em um único plano e inteiramente em live action, The Amputee é o segundo filme feito por Lynch durante o tempo em que esteve no American Film Institute. Centrado em uma mulher que está escrevendo uma carta de amor, o curta tem a curiosidade de contar com a participação de Catherine E. Coulson (a Senhora do Tronco de Twin Peaks) e do próprio diretor, que interpreta uma enfermeira.
The Cowboy And The Frenchmen, 1988
Aqui, há um salto considerável no tempo. Entre 1974, ano em que The Amputee foi realizado, e 1988, ano de lançamento de The Cowboy And The Frenchmen, Lynch já havia realizado quatro longas metragens e se consolidado como um dos melhores diretores do cinema americano. Diferentemente de seus outras curtas, esta produção de 1988 já mostra um cineasta muito mais seguro e consciente da linguagem cinematográfica.
Industrial Symphony Nº 1: The Dream Of The Broken Hearted, 1990
Quem diria que Lynch, um dia, iria fazer um musical? Pois isso aconteceu em 1990, quando, juntamente com Angelo Badalamenti, Nicolas Cage, Laura Dern, Michael Anderson e Julee Cruise, ele contou a história de dois amantes através, principalmente, de canções. Para os admiradores de Coração Selvagem e Twin Peaks, Industrial Symphony Nº 1: The Dream Of The Broken Hearted é um prato cheio.
Premonition Following An Evil Deed, 1995
Em 1995, foi lançada um antologia constituída de curtas realizados por quarenta e um diretores de diferentes lugares do Mundo. Nomeado de Lumière And Company, esse projeto exigia que os cineastas usassem a câmera original inventada pelos irmãos Lumière. Premonition Following An Evil Deed foi a contribuição de Lynch para a antologia.
Darkened Room, 2002
Falando sobre bananas (sim, “bananas”, você não leu errado), Darkened Room apareceu no site de Lynch em 2002. Dividido em três mulheres – uma japonesa, uma loira e outra morena -, o curta é o primeiro experimento do diretor com digital. Lynch iria afirmar posteriormente que não trabalharia mais com a película, pois a câmera digital trazia inúmeros benefícios.
Rabbits, 2002
Realizado como uma série de curtas a serem exibidos na internet, Rabbits é uma sitcom distorcida na qual três coelhos (interpretados por Scott Cofrey, Naomi Watts e Laura Elena Harring) conversam banalidades e são interrompidos pelo som de risadas (como as que são usadas nas sitcoms norte americanas). Assustador e enigmático, o filme surge brevemente no longa Império dos Sonhos.
DumbLand, 2002
De fato, 2002 foi um dos anos mais prolíficos de David Lynch. Ele não só realizou a sua maior obra-prima, o filme Cidade dos Sonhos, como lançou vários projetos. E um desses projetos é DumbLand, uma série de oito curtas animados nos quais a rudimentaridade dos trações contrastam com a profundidade de algumas reflexões feitas pelo protagonista.
Bug Crawls, 2007
O fato de ter crescido nas regiões industrias da Filadélfia produziu um forte efeito em David Lynch. Basta ver alguns de seus filmes para perceber como o zumbido das máquinas e o cinza das fábricas influenciaram o estilo do diretor. Outro filme que também deixa isso bastante claro é Bug Crawls, um curta avassalador em que a atmosfera melancólica é emocionalmente devastadora.
Boat, 2007
Com a narração em off de uma mulher (a voz é da atriz Emily Stofle) e contando com a participação do próprio Lynch, que interpreta o sujeito tentando colocar um barco na água, Boat é mais um dos experimentos que o diretor fez com a câmera digital.
Absurda, 2007
Lançado numa antologia que continha curtas de outros cineastas, Absurda é um filme sobre o caráter onírico do Cinema. Em quase três minutos, Lynch consegue criar um clima perturbador. E o fato de enxergarmos somente à distância o que está acontecendo é essencial para a sensação de inquietude.
Lady Blue Shangai, 2010
Lady Blue Shangai é um vídeo promocional feito para a marca Dior. Contando com a presença da talentosa Marion Cotillard, o curta começa com a protagonista entrando em um hotel em Shangai. Depois disso, há uma série de sequências oníricas típicas de Lynch. Além disso, o filme também contém uma das coisas que mais atraem o diretor: as histórias de amor.
Idem Paris, 2013
Dos curtas que estão listados aqui, Idem Paris é o único documentário. Filmado em preto e branco e, novamente, com câmera digital, ele acompanha um processo litográfico no famoso estúdio de impressão que dá nome ao projeto.
Para os que estavam ansiosos por um novo longa do diretor e desconheciam por completo os seus curtas, esta lista saciará a sua sede pelos trabalhos de David Lynch!