Para realizar o seu segundo longa como diretor, Rowan Joffe (Brighton Rock) resolveu fazer uma adaptação de um romance de suspense homônimo escrito por S. J. Watson. O livro é um fenômeno recente e best seller em diversos países, também o primeiro e único livro do escritor até o momento. Não é qualquer um que consegue abrir sua carreira com um sucesso como esse, mas o tal do S. J. Watson conseguiu cair bonito nas graças do grande público.
Importante: antes de continuar, deixo claro que não há nesta resenha comparação do livro com o filme, combinado?
Convenhamos que adaptar best seller não é das tarefas mais fáceis para um diretor de cinema, mas uma ação corriqueira de Hollywood para chamar a atenção da plateia com maior facilidade. Porém, é difícil não dividir opiniões ou formar o grupo do tipo “não é tão bom quanto o livro”. Isso Joffe já sabia ao embarcar nessa realização. Quase novato na direção, sua referência no cinema é como roteirista. Realizou o argumento de Extermínio 2, sequencia do filme dirigido por Danny Boyle (Trainspotting e 127 Horas), mas seu trabalho mais interessante talvez tenha sido o roteiro do ótimo Um Homem Misterioso, protagonizado por George Clooney, para quem não se lembra.
Então, Joffe tinha em mãos um romance de sucesso, inclusive roteirizado pelo próprio, e foi atrás de um elenco forte. Em seu comando estavam estrelas como Nicole Kidman (Reencarnação), Colin Firth (O Discurso do Rei) e o competente Mark Strong (Sherlock Holmes). E o que Joffe conseguiu fazer com tudo isso?
Nicole Kidman é Christine, uma mulher de 40 anos que acorda todos os dias sem saber quem é. Após ser violentada e deixada quase à morte em um incidente, teve uma sequela incomum, amnésia de fatos recentes. Diariamente é ajudada por seu marido Ben (Colin Firth) a relembrar de seu momento atual. Ela consegue lembrar de seu passado mais antigo, mas tudo o que vive atualmente e viveu após a tragédia é apagado após dormir. Aos poucos sua memória vai melhorando, com a ajuda do psiquiatra Nasch (Mark Strong), e descobre que muita coisa não é o que parece ser.
Como escrito antes, vamos deixar de lado a história do livro e tentar comentar sobre a adaptação feita por Joffe.
Em primeiro lugar, o início incômodo. O diretor já entrega ao espectador o jogo da trama logo na primeira cena. Desprezou a montagem de um clima mais tenso ou incerto e, sem rodeios, explica para onde vai à história e o espectador mais preguiçoso agradece. O caminho do longa ruma para a previsível conclusão de que alguém dentro da trama não está falando a verdade. Mesmo que você não acerte quem é esta pessoa, entender a proposta da história logo no início é desanimador para quem quer algo mais expressivo ou estimulante. A provocação de fazer o público raciocinar com mais força ficou de lado e as reviravoltas não aliviam o desconforto de assistirmos algo que no fundo já vimos antes, em outra roupagem cinematográfica provavelmente. Mesmo assim, não acho difícil agradar boa parte do público nos cinemas e entregar o que basicamente promete, mas tenha ciência de que será esquecível em pouco tempo.
Mesmo com o pouco entusiasmo gerado pela história adaptada, o trio de atores principal faz o possível para engrenar a trama. O destaque maior fica para Colin Firth que apesar de suas caras e trejeitos manjados, convence bem. Nicole Kidman e Mark Strong não comprometem, mas já estiveram em papéis melhores ou mais desafiadores.
Curioso pensar também que a perda de memória, ou amnésia, faz parte das doenças mentais mais exploradas no cinema, sem dúvida, e com uma boa leva de exemplos, inclusive de melhor realização do que o filme aqui comentado. Quem não se surpreendeu com a narrativa inteligente de Amnésia do diretor Christopher Nolan ou se divertiu com a eficiente trilogia Bourne? Podem até ser de estilos diferentes, mas ambos provam que esta matéria pode ser melhor trabalhada…
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