Se apenas uma palavra pudesse ser usada para descrever O Físico (The Physician, 2013), seria indecisão. Depois de alguns adiamentos (o filme chegou a ser anunciado para junho deste ano), finalmente, a adaptação do best-seller homônimo do escritor norte-americano Noah Gordon chega às telas brasileiras. A primeira confusão que expectador se depara logo de cara é o título: apesar da manutenção do nome original da obra literária, não é exatamente sobre a ciência da física que o longa se debruça, mas sim a medicina – ele chegou ser nomeado como O Médico em alguns países. O termo é citado diversas vezes no decorrer da trama, mas ele fica mais claro para os leitores que para os espectadores, resultado das evidentes limitações que as adaptações cinematográficas de qualquer livro sempre carregam.
Não é fácil resumi-lo. Em suma, o filme conta a saga de Rob Cole, um jovem inglês órfão que, durante a idade média, descobre em si mesmo um talento nato para a medicina após a morte da mãe por uma doença incurável. O jovem passa a ser criado por um barbeiro-cirurgião, profissional comum na Europa da época, responsável por pequenas cirurgias e procedimentos médicos. Após uma série de acontecimentos, Cole descobre a existência de Ibn Sina, considerado o melhor médico do mundo, professor de uma universidade de medicina na Pérsia. Decide então, partir em busca de aulas com o famoso sábio, mesmo sabendo que a escola em questão não aceitava cristãos – apenas judeus e muçulmanos – e que sua vida corria perigo.
A grande questão, é que esta sinopse abrange apenas um aspecto deste longa multiuso. O Físico tem assuntos para todos os gostos: dramas familiares, romances açucarados, dramas médicos, aventuras de matinê, road-movie, conflitos sociais, intolerância religiosa, crítica política, romances proibidos, aulas de história, paranormalidade, filosofia moral…..a lista não para por aí. Tudo é abordado em um ritmo de novela editada, sem uma decisão sobre qual deles deve se sobressair. Parece que o diretor alemão Philipp Stölzl não quis abrir mão de nenhuma abordagem do livro e o resultado não poderia ser mais óbvio: uma irritante superficialidade que permeia o filme do começo ao fim. Uma rica seara temática que apenas desperta o desejo de aprofundamento. A finalização é um exemplo básico do problema pela forma abrupta como surge, justamente o quando o espectador esperava o desenrolar de mais uma importante sequencia de ação. A situação pode ter sido agravada pela decisão da distribuidora de reduzir, em quase 40 minutos, a versão original para o lançamento no Brasil, que ficou em cerca de 120 minutos de duração.
A obra é uma coprodução Alemanha/EUA/Inglaterra. O diretor Stölzl é pouco conhecido fora das terras germânicas. A direção de arte é primorosa e aplicada, reproduzindo com dignidade as cidades, os campos e as vestimentas da época, tanto nas cenas ambientadas na Inglaterra, quanto no mundo árabe. Porém, peca pelo artificialismo dos planos abertos. O elenco é o destaque: conta com o premiado Ben Kingsley (Gandhi, a Invenção de Hugo Cabret) no papel de Ibn Sina, que a despeito dos clichês impostos pelo roteiro ao personagem, está em bela atuação, como esperado. Rob Cole é vivido por Tom Payne (Luck), cuja presença se deve mais aos olhos verdes de herói do que pelos dotes dramáticos, mas que também não faz feio. Outro destaque fica pela pequena participação do digno, mas frequentemente injustiçado, Stellan Skarsgård (Melancolia, Anjos e Demônios), um ótimo ator que sempre mereceu mais do que Hollywood lhe oferece.
O Físico é um desperdício quase geral. Tem bons atores, uma fantástica variedade de assuntos que teriam uma força tremenda no momento político que o mundo árabe vivencia, base em um livro popular e orçamento gordo, mas nada disso resulta em qualidade evidente. Assisti-lo, não chega a ser um tempo perdido, mas será uma daquelas sessões em que o espectador saíra mais confuso e frustrado do que, necessariamente, irritado.
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