Patrulha do Destino: Condenados pelo nome
Começo esse texto com uma advertência. Não confiem no editor-chefe do Formiga Elétrica, Daniel Fontana. Digo isso porque eu estava sem tempo para escrever um post sobre HQ para o site. Ele, então, apelou para os meus sentimentos usando de golpe baixo: “Dr, vou mandar mais uma provocação à possibilidade de nos brindar com um artigo. Hehe Sem compromisso, é claro. Que tal um texto sobre a Patrulha… ah, nem preciso completar.” E pronto! Aqui está meu artigo sobre uma das minhas grandes paixões na Nona Arte: a Patrulha do Destino.
É muito provável que você conheça ou se lembre da Patrulha pelo período em que o escocês Grant Morrison, junto com o desenhista Richard Case, assumiu o título na revitalização do super grupo, na edição #19 (Fevereiro de 1989). Permaneceu até a edição #63 (Janeiro de 1993). Representante da chamada Invasão Britânica no mercado americano de quadrinhos de fim dos anos 1980, marcada também pela presença de, dentre outros, Neil Gaiman e Alan Moore, Morrison trouxe grandes inovações e rupturas para o gênero super-herói.
Apesar de já ter se destacado durante seu período como roteirista do Homem-animal, foi com a Patrulha do Destino que ele encontrou o cenário perfeito para o desenvolvimento de narrativas que misturavam elementos oriundos do Surrealismo e do Dadaísmo. Inspirado pela escrita fragmentada de Burroughs*, com estratégias narrativas literárias pós-modernas, como a metaficção e a paródia, criou histórias que subvertiam o esperado pelo público leitor médio.
*(Leia também a resenha de Almoço Nu)
Mas por que esse grupo da DC Comics, que completa 55 anos de existência em 2018, caiu como uma luva para as experimentações narrativas de Grant Morrison? E por que o criador da Patrulha do Destino – Arnold Drake – em entrevista em 2007, disse que o britânico tinha sido o único a capturar o espírito original deste grupo criado em 1963?
O ponto é que, para o bem e para o mal, a sina da Patrulha do Destino sempre foi o de fazer justiça ao seu nome original, se constituindo como uma patrulha de condenados (Doom Patrol) dentro da DC Comics, se destacando no universo heroico da editora de Superman, Batman e Mulher-Maravilha.
Na infância e adolescência, eu era leitor regular de várias revistas da DC e da Marvel (hoje, as contas me obrigam a ler menos títulos…), mas, desde aquela época, eu percebia as orientações de cada editora. Enquanto uma buscava uma dimensão mitológica, levando-os, por vezes, em mãos menos habilidosas, à criação de super-heróis distantes dos leitores, os personagens da concorrente enfrentavam problemas rotineiros, como pagar as contas ou a simples aceitação social.
Neste sentido, sempre enxerguei a Patrulha do Destino como o grupo mais Marvel dentro da DC Comics, no sentido de destoarem de outros grupos de super-heróis, já que também precisavam lidar com seus fantasmas pessoais e sociais. Mais até do que com as ameaças comuns deste tipo de história.
Essa conexão com a Casa das Ideias, de fato, aparece desde os primeiros momentos deste grupo surgido na edição #80 da revista My Greatest Adventure, em Junho de 1963, antecedendo em três meses a estreia dos X-Men, em Setembro do mesmo ano.
O fato de nos dois casos termos um grupo de pessoas desajustadas com poderes, liderados por um homem em uma cadeira de rodas, fomentou por muito tempo a especulação de que Stan Lee teria se influenciado pela criação de Arnold Drake, algo que o próprio criador da Patrulha do Destino suspeitava.
No entanto, se Stan Lee copiou Arnold Drake com os X-Men, o mesmo pode ser dito da Patrulha em relação a outro grupo criado também por Stan Lee em Novembro de 1961. Afinal de contas, quando você pensa em um supergrupo formado por quatro integrantes em que o líder é um gênio, o segundo integrante tem o corpo quase invulnerável, o terceiro membro consegue voar alterando seu corpo e a quarta integrante, a única mulher do time, pode alterar o seu corpo, qual é o nome que vem à cabeça do leitor?
O fato é que, perto de morrer, em 2007, Arnold Drake reviu sua posição, considerando que tanto ele quanto Stan Lee estavam apenas alinhados com a atmosfera de luta por direitos civis das minorias dos anos 60.
Esse desajuste da Patrulha do Destino nos seus primeiros anos, com histórias marcadas por super-heróis angustiados pela sua condição, sofrendo de baixa auto estima e enxergados como aberrações pelo grande público, contrastava com as narrativas de personagens e grupos como a Liga da Justiça, caracterizadas por aventuras de caráter heroico e de espírito juvenil, que faziam sucesso junto aos leitores adolescentes.
Como era de se esperar, esse quadro se traduzia em quedas crescentes de venda da revista. Isso levou o desenhista Bruno Premiani e o editor Murray Boltinoff, nos fins dos anos 1960, a pedirem aos leitores que escrevessem para a redação da DC Comics. O público decidiria se a Patrulha do Destino deveria morrer ou não na edição seguinte.
Condenados já no nome, o grupo inteiro, surgido no começo da Era de Prata dos Quadrinhos, encontrou o seu fim na edição de Doom Patrol #121 em Outubro de 1968. Foi a primeira vez que uma revista de super-herói foi cancelada devido à morte de seus integrantes.
Antes de Morrison, duas tentativas
O retorno do grupo, com novos membros, aconteceu em 1977, nos primeiros momentos da Era de Bronze dos Quadrinhos, quando vários grupos de heróis estavam surgindo ou sendo reformulados. Voltando com uma fachada mais tradicionalmente super-heroica, em Showcase #94, o grupo seguiu sem título próprio e passou pela mega saga Crise nas Infinitas Terras, entre 1985 e 86.
O editor Paul Kupperberg, entusiasta do grupo, insiste e, em 1987, recria o título com Doom Patrol Vol. 2, procurando retomar o estigma da condenação. Sem sucesso neste objetivo, após 18 edições, a revista passou para as mãos de Grant Morrison, com a condição de que outros membros da Patrulha, incluindo a líder do grupo naquele momento, fossem mortos.
E assim, voltamos para o início desse texto.
A vida segue para a Patrulha do Destino
Desde a saída de Morrison, em 1993, a Patrulha do Destino já passou por outras seis encarnações (até comentamos a fase Novos 52), sempre alternando seus membros a partir da inclusão de novos personagens e da presença parcial ou total do quarteto original formado pelo Chefe (Dr. Niles Caulder), Mulher Elástica (Rita Farr), Homem Negativo (Larry Trainor) e Homem Robô (Cliff Steele).
Ainda que malditos, o grupo vem mantendo presença regular dentro da editora, seja com títulos próprios ou participações especiais dentro de outros títulos da editora. Esse padrão se repete no momento em que escrevo este texto, quando a Patrulha do Destino, em sua oitava formação, está desde 2016 novamente com título próprio dentro do selo Young Animal, voltado para o público mais maduro.
Como um leitor que tem a Patrulha do Destino como o seu grupo de super-heróis favorito, desejo que ela seja eterna enquanto dure.
Aproveite e confira agora estes curtas animados da Patrulha!