A Nova Geração de Jornada nas Estrelas
Em 28 de setembro de 1987, estreou Star Trek: A Nova Geração (The Next Generation), naquele momento em que era mais comum as pessoas se referirem à franquia como Jornada nas Estrelas. A parte óbvia é que seria uma continuação da série original dos anos 60, respeitando o cânone dos filmes que seguiram com a trajetória de Kirk e companhia, mas a partir daí, só restavam incógnitas. Embora a marca Star Trek fosse vista com bons olhos pela sua detentora, a Paramount, ninguém parecia apostar muito nela, nem mesmo seu criador, Gene Roddenberry, com medo de que sua criação fosse pervertida. Felizmente, foi Roddenberry em pessoa quem impediu que a nova série se tornasse uma mera extensão da original.
(Acesse também nosso Top 10 da Série Clássica e uma lista com os longas da tripulação original ordenados por qualidade)
Ele criou a Série Clássica para falar de problemas que ninguém mais tinha coragem de tratar, mas o mundo de 1987 era diferente do mundo de 1966. Muito pelo qual se lutava duas décadas antes já se havia conquistado, mas outras questões surgiram e Gene Roddenberry iria novamente onde nenhum homem jamais esteve para trata-las. A Nova Geração é, em muitos sentidos, mais “humana” do que a série original. Embora seus protagonistas sejam muito menos conflituosos do que a tripulação de Kirk, os desafios que eles enfrentam questionam muito mais a pretensa utopia conquistada pelos humanos do século XXIV.
Religião, política, raças, gêneros, cultura. Nada escaparia de ser debatido pela intrépida tripulação comandada por Jean-Luc Picard, o grande destaque da série. Muito longe de lugares comuns, a série não se furtaria a se utilizar de toda a liberdade existente no mundo dos anos 80 (em relação aos 60) para se posicionar de maneira até mesmo polêmica em relação a todos os assuntos citados. Se a Série Clássica pode ser considerada subversiva, sua sucessora é uma série que trabalha temas extremamente sensíveis, com uma filosofia que estava além do seu tempo, muito além. Questões éticas complexas são tratadas com uma sensibilidade poucas vezes vista em qualquer mídia de entretenimento.
Nesse Top 10 de Jornada nas Estrelas… ops, ou melhor Star Trek: A Nova Geração (referida a partir de agora como ANG), separamos uma lista de episódios que demonstram toda sensibilidade, mas também ousadia, desse fenômeno da televisão. Vamos a lista!
Confira nosso Top 10 de Star Trek: A Nova Geração
10 – Best of Both Worlds (O Melhor de Dois Mundos) – E26x3T / E01x4T
Se ANG não se furtava a polêmicas, nós também não vamos. Começamos a nossa lista colocando em décimo lugar um episódio duplo que, para muitos, são os melhores da série. O que o amigo leitor irá notar é que aqui não faremos como a maior parte das listas fazem, elencando os episódios conforme qualidades gerais. Iremos elencar os episódios conforme suas qualidades conceituais e narrativas, afinal, não é exagero estabelecer que é o que todas as séries de Star Trek sempre tiveram de melhor.
Nas suas primeiras temporadas, ANG vivia à sombra da sua predecessora. A primeira em particular foi considerada fraca, colocando em cheque a sua continuidade. Mas com um crescimento progressivo, aos poucos ela foi se afirmando e com o episódio duplo O Melhor de Dois Mundos ela confirma que veio para ficar. No geral, ANG tem um aspecto menos episódico do que a série original, e isso se deve muito ao sucesso dessa narrativa. O amigo leitor só não conheceria o famoso bordão “Resistir é inútil” se estivesse do outro lado da galáxia durante 30 anos.
Na trama, os Borg, uma mente coletiva de organismos cibernéticos que assimila outras formas de vida, se dirige à Terra. No caminho, um rastro de destruição e uma preocupação: eles parecem ser invencíveis em combate e irredutíveis para negociar. Após severas derrotas da Federação em inúmeros combates contra eles, a Enterprise se põe como a última linha de defesa entre eles e a Terra. Mas a resistência sofre um revés quando Picard é sequestrado e assimilado pelo inimigo, tornando-se uma forma híbrida e semi-independente de Borg chamada Locutus. Após usar o próprio Locutus como uma maneira de atingir os Borg, a Enterprise consegue elusivamente afastar o perigo, mas apenas temporariamente e não sem um grande custo mental e físico para Picard.
A crítica latente do episódio está na própria maneira como os Borg operam: são uma sociedade de organismos que pensam e agem de maneira uniforme. Mais do que isso, entendem que a sua existência, dado o seu “sucesso” operacional é inerentemente superior a qualquer forma de vida orgânica e “caótica”. Eles são derrotados justamente quando uma pequena brecha de pensamento independente ocorre na figura de Locutus. Em 1987, o mundo vivia um período de incertezas devido ao iminente encerramento da Guerra Fria. A pergunta que se fazia, e que – incrivelmente – ainda se faz, tornando esse episódio, como outro de ANG, muito atual era: que tipo de sociedade seremos/queremos ser? Poderemos pensar e existir livremente agora que as potências ideológicas minguam, ou um tipo de dominação só será substituída por outra? O Melhor de Dois Mundos nos dá um embasamento para refletir.
9 – Chain of Command (Cadeia de Comando) – E10 / E11x6T
Mais um episódio duplo para a lista, e aqui temos um exemplar de contestação aberta às estratégias políticas e militares, não apenas americanas, mas de qualquer outra nação/sociedade que acredite na violência repressora como “mantenedora da paz”.
Na trama, Picard, Worf e a Dra. Crusher são enviados pela Federação para uma missão secreta que visava destruir uma fábrica de armas biológicas dos Cardassianos. Enquanto isso, a Enterprise ficaria nas mãos do Capitão Jelico. Entretanto, Picard é capturado e torturado, e tanto a Enterprise quanto a Federação se vêem em uma situação delicada ao extremo, pois uma palavra mal colocada pode ser uma sentença de morte para Picard, ou pior, o início de uma guerra que custaria milhares de vidas.
Interessante é notar que aqui não existem lados certos. A Federação invadiu a soberania de um território Cardassiano de maneira ilegal e moralmente questionável. Os Cardassianos responderam com tortura e um ridículo e irritante jogo político. É um exemplo vívido do que acontece quando nações agem como adolescentes colegiais em um jogo e abandonam o diálogo para estabelecer pífias estratégias, de maneira a obter vantagens que façam o inimigo se submeter não apenas politica e militarmente, mas também moralmente.
Sob a patética desculpa de garantir a “segurança nacional”, diversos países no mundo não pensam duas vezes antes de prender e torturar pessoas para conseguir informações privilegiadas. Notadamente, os Estados Unidos, bastiões da “democracia”, que são conhecidos por invadir países em outros continentes, prender e torturar pessoas de outras culturas e etnias para garantir que o “cidadão de bem” possa comer suas montanhas de donuts tranquilamente. Não que esse tipo de atitude seja exclusiva deles, muito pelo contrário, mas Cadeia de Comando é um episódio que, para nós em 2016, grita “Guantánamo” do começo ao fim.
O destaque fica por conta da tour de force de Patrick Stewart. As cenas de tortura do segundo episódio incluem toda variedade de violência que se pode praticar contra um ser humano. Não apenas física, mas também psicológica e moral. Pouquíssimos atores poderiam transmitir todo o sofrimento e a dor de seu personagem como faz Stewart. Não apenas pelo que é mostrado das torturas, mas também das suas consequências. Picard, que é representado na série como aquilo que a humanidade oferece de melhor, não escapa de ser quebrado pela brutalidade de seus torturadores. Por breves momentos, ele não apenas está disposto a dizer o que seus captores querem ouvir, mas ele de fato acredita naquilo.
Não se engane. There are four lights.
8 – Yesterday’s Enteprise (Elo Perdido) E15x3T
O que você faria se a única maneira de salvar tudo o que você conhece – na verdade, toda a existência como você a conhece – fosse mandar todo um grupo de inocentes para um fim inevitável e trágico? Você sacrificaria poucos para salvar a todos? Essa é a terrível escolha enfrentada pela tripulação da Enterprise em um magnífico episódio que trata da ética diante da inevitabilidade da catástrofe.
A Enterprise encontra uma versão antiga sua – a Enterprise-C – emergindo de uma fenda temporal. Em frangalhos, a tripulação dessa nave afirma que por muito pouco escapou de um ataque na sua linha temporal. O problema: no momento em que as naves se encontram, a realidade se altera; agora, a Enterprise de Picard é uma nave de guerra, em uma nova linha temporal onde humanos e klingons travam uma guerra sangrenta, que, por sinal, vai muito mal para o lado dos humanos. A única pessoa que parece estar ciente da alteração é Guinan, a dona/ “guardiã” do deque de recreação da nave. Ela precisa convencer Picard de que enviar a Enterprise-C de volta pela fenda é a única maneira de consertar a linha temporal e evitar que a guerra aconteça. Porém, enviar a nave de volta para esse momento significa sua destruição certa e a morte de todos dentro dela.
É uma situação precária, para dizer o mínimo. Podemos citar um punhado de filósofos éticos, de Spinoza até Peter Singer, que provavelmente sustentariam o retorno da nave a sua linha temporal. O fato é que Star Trek não precisa desses filósofos, pois é uma série inteligente o bastante para pensar por si própria e, mais do que isso, nos oferecer essa belíssima peça para reflexão. Durante o episódio, nós vamos – sutilmente – nos aproximando dos tripulantes da Enterprise-C. Conhecemos suas ambições, seus sentimentos, seus caráteres. É muito fácil tomar uma decisão como enviar pessoas para a morte quando você não as conhece e não se importa com elas, mas e quando elas não são apenas números, adidos, mas seres conscientes das circunstâncias e daquilo que elas exigem?
E você, amigo leitor, o que você faria?
7 – I Borg (Eu, Borg) E23x5T
Um episódio particularmente difícil de se lidar. Novamente, a série não se priva de esfregar nos nossos narizes que, se quisermos ser uma sociedade realmente civilizada, existem decisões a serem tomadas que vão nos desafiar enquanto seres pretensamente racionais. Mais uma vez, ela nos traz questões que não podem ser respondidas sem pensarmos.
Já mencionamos os Borg. Já deixamos claro o quanto eles são implacáveis e o tamanho da ameaça que eles representam para a humanidade. Desta vez surge uma oportunidade de ouro para derrotá-los de uma vez por todas. O problema é essa oportunidade adquire consciência, dá a si mesmo um nome e, do alto da sua inocência, tem um único desejo: viver.
Na trama, a Enterprise encontra restos de uma nave borg. Nesses restos, eles encontram um Borg sobrevivente. Praticamente todos são a favor da sua destruição, pela ameaça que mesmo um deles representa. Lembrem-se, eles não são indivíduos, mas uma mente coletiva totalmente desprovida de moralidade ou ética. Apenas a doutora Crusher, representando o espírito humanitário que é o estandarte da série, se recusa a aceitar essa decisão e exige tratá-lo antes de qualquer outra coisa. Onde está Picard nesse momento de dilema ético tão intenso? Profundamente abalado pela sua experiência de assimilação em O Melhor de Dois Mundos, sem desejar refletir demais sobre o que fazer com esse inimigo. Surge uma ideia. Plantar um vírus no borg, devolve-lo a coletividade e dar fim a essa ameaça sem que mais nenhuma vida se perca.
A tripulação considera uma vitória arrebatadora sobre um inimigo quase invencível. A Dra. Crusher considera genocídio. Tudo piora quando algo inesperado acontece: separado da coletividade e em contato com humanos independentes, o borg desenvolve rudimentos de individualidade e sentimentos. Pior, recebe um nome e passa a referir a si mesmo como “eu”. A situação é óbvia. Ele é um ser consciente, mas, ao mesmo tempo, inocente da sua condição. Como uma criança recém-nascida. Envia-lo de volta continua sendo genocídio, agora às custas de algo que seria claramente um assassinato por parte da tripulação.
Este escriba sabe o que faria, apenas porque, do alto de uma consciência, pode referir-se a si mesmo como “eu”.
6 – Who watches the watchers? (Quem observa os observadores?) E04x3T
A Primeira Diretriz, a regra de ouro da Federação, deveria de fato ser seguida por cada nação do planeta. Ela dita a não interferência nos assuntos de outras civilizações e restringe o contato com culturas “pré-dobra” – aquelas incapazes de viajar pelas estrelas, porque se existe uma coisa que a História prova – da antiguidade até mesmo hoje – é que quando uma civilização mais tecnologicamente avançada tenta impor seus valores a outra, o desastre é inevitável. Se você não está lendo esse artigo na Ucrânia, você sabe muito bem o que os portugueses fizeram com os nativos brasileiros quando chegaram aqui.
Agora imagine o encontro hipotético de uma civilização que acabou de passar por um período análogo a Idade do Bronze com uma que perscruta o universo em naves estelares. O que a primeira pensaria da segunda? Não precisa responder essa pergunta, amigo leitor. Arthur C. Clarke já a respondeu antes de você. “Qualquer tecnologia realmente muito avançada é indistinguível de magia” diz sua terceira lei. Magia, ou, como a história da Terra comprova, religião.
A tripulação da Enterprise, nesse episódio, comete o pior erro que uma nave da Federação pode cometer: se expor a uma civilização cientificamente ainda não desenvolvida. Um dos membros desse povo acredita ter testemunhado milagres de um ser divino, que ele chama de “O Picard”. Sim. O bom capitão, nesse terrível equívoco, acaba se tornando o foco de uma crença recém-nascida, e como se isso já não fosse o bastante, essa civilização acabara de abandonar a crença no misticismo e no sobrenatural e passava a se dedicar à lógica e à razão. Para um homem como Picard, é um crime quase sem perdão.
Essa trama é extremamente corajosa e ao mesmo tempo brilhantemente escrita porque, além posicionar a série de maneira muito clara em sobre a religião – nenhum sistema de crença pode suplantar o desenvolvimento crítico, racional e científico de uma pessoa ou civilização – também evita, concomitantemente, fazer uma apologia ideológica ao ateísmo. A razão é o único caminho aceitável de qualquer sociedade que se pretende civilizada, e o diálogo e a compreensão são a única maneira para trilhar esse caminho. Um episódio que é um tapa de luva de pelica tanto na cara de fanáticos religiosos, que existem as pencas por aí, quanto na de apologistas ideológicos (viu, Sr. Dawkins?)
5 – Tapestry (Trama) E15x6T
E se você pudesse aprender com todos os erros da sua vida… mas desfazer as consequências? E se você pudesse trapacear a morte? E se você pudesse contemplar mais de uma realidade? E se puder dobrar o tempo à sua vontade? Quem você seria? O que você seria?
Picard tem a oportunidade de se fazer essas perguntas. Após sofrer um atentado que prejudica o seu coração artificial e ficar no limiar da vida e da morte, o capitão é confrontado pela entidade cósmica Q, um ser praticamente onipotente que oferece a ele uma chance única: retornar ao momento em que seu coração original foi destruído e refazer todas as escolhas que levaram àquele momento. Picard aceita, mas as consequências da sua escolha são muito diferentes das que ele imaginava.
Trama trabalha com uma ideia muito simples: o que nós somos, quem nós somos, é o conjunto e a soma de uma série de fatores que incluem questões sociais, históricas, geográficas… e escolhas individuais. Se mudássemos qualquer um desses fatores, basicamente não seriamos quem ou o que nós somos, mas outra coisa impossível de prever . As nossas escolhas, as boas e as ruins, são uma parte inerente e constituinte de quem nós somos, e o aprendizado (ou não) que temos com essas escolhas constroem não apenas a nossa psique, mas a própria ontologia do nosso ser.
Um episódio cerebral, difícil de ser analisado, pois fala ao espectador em um nível profundamente particular. Este colunista só pode dizer que nunca mais foi o mesmo depois de assistir à Trama.
4 – Darmok (Darmok) E02x5T
“Sem a comunicação, não se pode compreender ou se fazer compreender ao outro. Não se pode entender suas esperanças e aspiração, aprender sua história, ler sua poesia, apreciar suas canções. Sem a comunicação, nada resta.”
Essa inspiradora citação pertence a Nelson Mandela, alguém que viveu na pele a necessidade de comunicar para aprender e compreender e assim construir a sua nação multicultural. Em Darmok, Star Trek nos ensina sobre a necessidade de estar disposto a fazer o que for necessário para se comunicar, pois essa é a única forma de construir pontes entre povos.
A Enterprise encontra uma nave tamariana pela primeira vez em muito tempo. A Federação é absolutamente a favor da inserção desse povo em sua aliança multicultural, não fosse um entrave: o idioma. Embora os tradutores universais da nave consigam traduzir a gramática, a semântica é incompreensível. Pois os tamarianos se comunicam de forma figurada, usando analogias e metáforas como fundamento da comunicação. Mas os tamarianos também estão dispostos a qualquer coisa para se comunicar, mais do que os humanos. Ao ponto de “sequestrar” Picard e isolá-lo em um planeta junto com o próprio capitão dos tamarianos para que eles encontrem uma maneira. A solução surge na figura de um inimigo comum no planeta, que irá fazer com que os capitães se unam ou morram juntos.
Darmok é uma celebração da sociedade multicultural em que vivemos hoje. Ele celebra as diferenças e estabelece que vale a pena – e muito – se esforçar para formar laços entre povos de culturas distintas. É muito mais do que deixar as diferenças de lado, mas também entender que é dentro dessas diferenças que um futuro mais rico pode prosperar.
3 – The Drumhead (Inquisição) E21x4T
É difícil resumir este episódio. Dizer que os temas tratados aqui são densos, contundentes e falam diretamente aos problemas que vivemos atualmente – não só em nosso país, mas em todo o mundo – é um eufemismo até ofensivo. Mas vamos tentar.
Um klingon é pego tentando sabotar a Enterprise. Na esteira da investigação, um jovem de herança alegadamente vulcana é descoberto: sua ascendência na verdade é romulana. Com a suspeita de uma possível associação entre klingons e romulanos para sabotar internamente a Federação, tem início uma rigorosa investigação na Enterprise liderada pela juíza Satie. Entretanto, o que deveria ser um procedimento legítimo, rapidamente se torna uma caça às bruxas conforme o verdadeiro caráter dos envolvidos se revela – principalmente da juíza. A situação chega ao ponto de, em nome da “segurança nacional”, Satie acusar o próprio capitão Picard, que vê seu futuro – e sua liberdade – em jogo.
Poderíamos explorar aqui as imensas implicações dos temas tratados no episódio, mas são muitos. É necessário um artigo só para ele. Não apenas pelas interpretações, mas pelo texto brilhante de Jeri Taylor, que empilha citações em defesa das liberdades civis de uma democracia – o discurso de Picard no fim do episódio deveria ser adotado pela ONU para ser ensinado para todas as crianças do planeta – e pela direção precisa de Jonathan Frakes, que interpreta o imediato Riker na série.
Inquisição é um daqueles episódios que explicam questões complexas do mundo de uma maneira tão simples que nos obriga a questionar porque nos permitimos cometer equívocos tão grandes que provocam tanto sofrimento na nossa sociedade. Sobre como o fanatismo, a paranoia e o ódio jamais podem prevalecer sobre a razão e a justiça. Um episódio que transcende a barreira do tempo, pois mostra um futuro tão real que parece agora.
2 – Measure of a Man (O Valor de Um Homem) E09x2T
O que é vida? É isso aí, sem alívios nem eufemismos. Você sabe responder essa pergunta? E se puder, está preparado para as consequências?
Esse talvez seja o maior debate ético provocado pelos avanços da ciência no século XX. Envolve desde questões relacionados aos avanços das inteligências artificiais quânticas até questões de saúde pública como o aborto. E entre médicos, cientistas, biólogos, sociólogos e filósofos, nós não estamos nem perto de chegar a um consenso. Evidente que isso não iria impedir Roddenberry e sua visionária série de tentar.
Data é selecionado por um engenheiro da frota estelar para ser desmontado e estudado. Tem início um debate feroz e intermitente. O engenheiro alega que Data é apenas uma máquina e não uma forma de vida sensciente, a despeito de toda a tripulação o considerar um membro pleno e um igual. Como é uma questão que envolve diretamente o futuro da Federação, uma corte é convocada em caráter de urgência, e as peças são dispostas: Picard defenderá Data, enquanto, para sua absoluta miséria e infelicidade, é imposto a Riker o papel de acusador.
O que vem depois é uma sequência de alguns dos melhores diálogos já vistos não apenas na televisão, mas em toda a indústria do entretenimento. Tão incríveis que é conhecido o uso recorrente desse episódio em universidades para trabalhar temas relacionados à ética. O episódio não se priva, inclusive, de tocar em uma das feridas mais profundas e doloridas da história do mundo: a escravidão. Se fosse possível, o diálogo entre Picard e Guinan deveria ser emoldurado e colocado em uma parede. De quebra, ainda agrada aos fãs mais ferrenhos de ficção cientifica, pois o episódio remonta aos melhores momentos da literatura de Isacc Assimov. Para assistir diversas vezes até o fim da vida – seja lá o que você entenda como tal.
1 – Inner Light (Luz Interior) E25x5T
Imagine carregar dentro de si não apenas toda a sua história, mas a história de todos. Imagine que você não é apenas seu amor, sua tristeza, sua esperança, mas toda a existência de uma civilização. Imagine que você é um mundo. A responsabilidade de carregar toda a existência de toda uma civilização dentro de si é algo tão monumental e sobrenatural que é reservado apenas a deuses e seres míticos… E ao bom capitão.
A trama é muito simples, assim como seu desenvolvimento. A Enterprise encontra uma sonda no espaço. Ao acessa-la, Picard cai desacordado, e seu estado se deteriora rapidamente, com todos temendo por sua vida. Paralelamente, vemos Picard acordar em outro mundo, com outra identidade – Kamin, um líder comunitário daquele local, que sofre com a escassez de água e de alimentos. Enquanto a vida de Picard se esvai na Enterprise, nesse outro mundo o vemos vivendo toda uma vida de alegrias, tristezas e esperanças.
Este talvez seja o episódio mais bem escrito e realizado de ANG e de Star Trek em geral. Também, ao contrário do que comumente se diz sobre O Melhor de Dois Mundos, é o episódio mais importante para o personagem mais bem desenvolvido das séries de ST, o capitão Picard. Ele evolui de uma forma incrível e repentina, mas coerente. E estamos falando de um personagem que já era universalmente admirado por seus valores e vanguardismo, mesmo no universo utópico de Star Trek.
Toda uma vida. O próprio conceito é quase incompreensível. Imaginar a vida de inúmeras pessoas, guardadas apenas na sua memória, só poderia gerar uma nova perspectiva sobre sua própria existência, para dizer o mínimo. Pois se nós somos o conjunto de nossos memórias e experiências, então enquanto Picard viver, a civilização dentro dele viverá junto. Quando ele se for, essa civilização desaparecerá junto com ele e uma luz se apagará para sempre.
De todos os episódios de todas as séries de Star Trek, esse talvez seja o mais comovente. O fato de o colocarmos em primeiro na lista, entretanto, não é somente devido a isso.
Assistir Luz Interior é ter uma experiência de vida – literalmente – transformadora.
Gostou da nossa lista? Odiou nossa lista? Deixe seus comentários, críticas e tiros de phaser para nós!
Até a próxima!