A Princesa Amazona em Liga da Justiça e Liga da Justiça Sem Limites!
A Mulher-Maravilha não é uma personagem fácil de desenvolver. Necessita de certa cautela durante a sua evolução para que ela não se torne caricatural, ou apenas uma participação qualquer. Isso foi algo que o excepcional animador Bruce Timm, criador da ótima série animada de Batman, que abriu caminho para uma seguinte do Superman, fez durante as duas séries com a Liga da Justiça. A primeira teve duas temporadas, de 2001 a 2004, enquanto a sequência, com subtítulo Sem Limites, contou com três, entre 2004 a 2006.
(Confira este artigo sobre Bruce Timm e o Formiga na Tela dedicado a ele!)
Timm e os outros roteiristas da série sabiam que tanto o Batman quanto o Superman já eram heróis que o público conhecia bem, então, por razões óbvias, era necessário o desenvolvimento dos outros membros da Liga, principalmente os menos conhecidos. “Mas a Mulher-Maravilha é uma das heroínas mais famosas da DC!!! Como assim menos conhecidos?” Explico: até aquele momento, ela não havia sido trazida ao grande público, principalmente aos mais jovens. Além de Diana, os outros membros da Liga eram Flash, Lanterna Verde, Caçador de Marte, Mulher-Gavião e Lanterna Verde, lembrando que, na animação, não era Hal Jordan, mas John Stewart como o guardião do anel.
Desde o primeiro capítulo, quando a Liga é formada para impedir um ataque alienígena, percebemos que Diana já tem uma vontade de conhecer o mundo fora da ilha de Themyscira, o lar das amazonas. Ao perceber que há algo ameaçador, sua mãe, Hipólita, é contra seu envolvimento com o Mundo dos Homens, como é chamado o que existe fora da ilha. Em seu primeiro combate com os alienígenas, Diana se mostra uma eximia guerreira de personalidade forte, ao ponto de já bater de frente com a postura militar do Lanterna Verde. Durante essa primeira fase da Liga, vemos que o arco da personagem é uma constante adaptação ao mundo exterior. Aliás, estamos falando de uma moça que cresceu em um ambiente da mitologia grega, então um choque cultural é inevitável.
Não à toa, ela cria um elo forte com o Caçador de Marte, que também está adaptando-se a outro contexto. Durante a série, principalmente nessa primeira fase, a princesa vai aprendendo a controlar sua personalidade belicosa, pois, como no caso da Mulher-Gavião, a atitude agressiva traz conflitos com os colegas. Além dessa adaptação, Diana vai se descobrindo como mulher. Durante a segunda temporada, há um arco (melhor chamarmos assim, pois as histórias sempre estendiam-se por mais de um episódio) chamado Dama de Honra, onde ela se torna guarda-costas de uma adolescente princesa de um país fictício. A menina leva Diana a fazer, de acordo com a própria, um “programa de mulher”, então as duas vão às compras, ao salão de beleza, etc… É muito interessante vê-la baixar a guarda em algum momento e perceber como ela se satisfaz com essa folga. Também há uma brincadeira na parte da ação, onde ela utiliza os seus brincos como protetores de ouvidos contra um ataque sônico, referindo-se a eles como os melhores amigos de uma mulher.
Vale destacar outro arco chamado Fúria, que se passa na primeira temporada, protagonizado apenas por mulheres. A irmã adotiva de Diana, uma moça nascida no Mundo dos Homens, porém treinada como amazona, decide acabar com os homens – no sentido literal da palavra – com um vírus mortal. É uma história com um sério viés feminista, mostrando todas as mulheres tão capazes quantos os homens, mas, além disso, mostra a evolução de Diana como personagem.
Guerreira com coração
Houve descobertas até emocionalmente falando. Steve Trevor aparece na segunda temporada em Nos Tempos de Savage, onde Diana, junto aos os outros membros da Liga, exceto Batman, voltam para a Segunda Guerra Mundial para evitar que o vilão Vandal Savage crie um novo regime militar dando tecnologia do futuro para os nazistas. Essa história é contada em três episódios, mostrando Trevor como um espião dos Aliados com a missão de encontrar o segredo para derrotar as máquinas do vilão e vencer a guerra.
Diana se apaixona por Trevor não apenas pelo seu estilo galante e encantador, mas por ser uma pessoa sem super poderes se arriscando por um ideal. Ao voltar para o presente, Diana encontra Trevor em um asilo e ele a chama de anjo, apelido que ele deu a ela durante a guerra. Esse tipo de caráter, semelhante ao de Trevor, é o que faz ela se apaixonar pelo Batman. Durante essa fase e a seguinte, vemos que existe um sentimento forte de um pelo outro, mas, por conta do medo do morcego em ter um relacionamento mais profundo, não vai além disso. Ela faz suas tentativas, mas ele não corresponde.
Esse desenvolvimento da Mulher Maravilha tem mais profundidade durante essa primeira fase. Não que isso não prossiga em Sem Limites, mas como os sete personagens principais já haviam sido bem desenvolvidos, essa segunda fase tem muito membros novos que precisam de espaço, como o Arqueiro Verde, Questão, Caçadora, Canário Negro, Capitão Átomo, etc.. Há alguns episódios (agora eles são mais fechados em único capítulo) específicos que focam em Diana, como um chamado Rapina e Columba que ela vai até o país fictício Kasnia, junto com os personagens-títulos do episódio, para evitar uma guerra civil e entra em conflito com sua selvageria guerreira. Há uma armadura feita por Hefestos (Deus do fogo e do trabalho que criou a armadura de Diana) chamada de Aniquilador, que reage a qualquer sinal de violência. Neste episódio, a amazona percebe que precisa controlar o seu espírito de luta.
Enfim, durante essas fases da série de Bruce Timm, é perceptível que a Mulher-Maravilha teve uma abordagem muito interessante. Evitou-se que ela fosse simplesmente uma mulher agindo como homem, mostrando-a como uma guerreira que vai se descobrindo e se adaptando a uma nova realidade pouco a pouco. Foi um desenvolvimento sem pressa, mas foi o melhor para a personagem. Que os filmes para o cinema sigam esse exemplo.