Quando os atores passaram a ter maior autonomia em Hollywood, automaticamente começaram a influenciar a indústria de outra forma. Uma vez que não eram mais tratados como meros funcionários dos estúdios, o poder de negociação cresceu consideravelmente e isso se traduz até hoje em projetos pouco comerciais, mas que acabam sendo bancados por terem caído nas graças de algum ator famoso com potencial de atrair público. Muitas vezes, o mesmo ator aceita um salário menor, ganha um crédito como produtor e assim o risco do investimento é minimizado. Enquanto isso, a internet vai se firmando como plataforma de autores à procura de maior liberdade criativa. Com público segmentado, opções de patrocínio e maior flexibilidade no formato e na duração, é um celeiro fértil para projetos cada vez mais interessantes e inovadores.
Quando se concentram esses dois fatores numa mesma situação, é difícil não criar expectativa por algo pelo menos interessante. Felizmente, a websérie animada Electric City, criada por Tom Hanks em 2012, não decepciona. O ator, que dubla o protagonista Cleveland Carr, contou numa entrevista á MTV que começou a desenvolver a história em 2003, e que sua motivação era criar algo diferente da maioria das séries de animação no formato, buscando desenvolver temas e personagens sérios. O Yahoo! gostou da ideia e em parceria com a Playtone, produtora de Hanks, colocaram no ar 20 episódios com duração variável de 4 a 5 minutos, totalizando a duração de um longa-metragem. Mas afinal de contas, sobre o que é Electric City?
Na linha das ficções como 1984 e Admirável Mundo Novo, Electric City apresenta uma sociedade utópica apenas na superfície. Ambientada em um futuro que tomou forma a partir de uma guerra, aparentemente mundial e não totalmente explicada, a população é dividida em assentamentos que tem como foco produzir energia. Numa curiosa inversão, a tecnologia regrediu ao ponto de uma das formas de geração de eletricidade ser através do esforço físico, a liberdade é restrita e a comunicação wireless proibida. A cidade é comandada pela “Knitting Society”, um grupo de idosas sobreviventes da tal guerra, cujos agentes, treinados para matar, entram em ação quando as mesmas descobrem algo considerado uma ameaça ao status quo. Cleveland Carr é um desses agentes. É o típico personagem do universo noir, ambíguo, com passado e motivações obscuras aos poucos reveladas, lembrando o Deckard de Blade Runner. O visual é um show à parte. Imagine o estilo do quadrinhista Paul Pope unido aos traços angulosos do animador Genndy Tartakovsky e mesclados a um colorido próprio dos animes, belamente contrastado nas cenas noturnas.
Ao fim do vigésimo episódio, Electric City pode até decepcionar quem procurava uma trama mais fechada e linear. Até agora, nada foi dito se a série terá continuidade ou não. Se não tiver, ainda assim vai agradar muitos fãs de ficção científica e a quem aprecia uma história que exige mais do espectador. O Yahoo! Brasil começou a disponibilizar os episódios legendados, mas parou no décimo segundo sem dar satisfações e atualmente, a página da série informa que os arquivos não estão disponíveis. Ainda assim, foi lançado há pouco o aplicativo gratuito para Android “Tom Hank’s Electric City”, que permite baixar os episódios ou assisti-los transmitidos em HD. A instalação garante uma prévia da série e algum conteúdo extra, sendo que os episódios completos e o restante do material estão disponíveis para compra. Se você é usuário do sistema, vale a pena conhecer :