Conheci Guilherme Petreca na primeira Comic Con do ABC Paulista. Eu havia conversado com o pessoal da editora Veneta, comentando que faria a resenha de YE, e nem percebi que o autor estava ali sentado. Quieto e ouvindo. Atenta a isso, a representante da editora me alertou da presença dele, que então se apresentou. Autor das HQ’s independentes Galho Seco e Carnaval de Meus Demônios, falou de suas influências, suas referências e sua timidez. Guilherme é uma mente inquieta num corpo silencioso.
Essa poderia ser a apresentação do próprio protagonista do trabalho em questão. YE é a jornada do herói de Guilherme Petreca. A sinopse da história traz um universo fantástico com referências claras à cultura cigana, onde um camponês tímido – que fala apenas a palavra Ye – é obrigado a procurar ajuda quando é tocado pela chaga do Rei sem Cor. Em sua busca, encontrará amigos e inimigos que o ajudarão em sua jornada de auto descobrimento. Não é algo novo e o próprio autor conta que é baseada na Jornada do Herói. Em seu blog é possível conferir muito mais informações sobre a produção da HQ. Então, a abordagem é que faz a diferença na obra, totalmente lúdica e poética, e aqui encontramos o melhor neste trabalho: sua ilustração.
O próprio Guilherme é o responsável pela arte da Graphic Novel e no seu traço estão suas principais características: a simplicidade no personagem e a complexidade no universo que o cerca. YE alterna entre telas cheias de detalhes e alguns borrões até pretensiosos, apesar de muito efetivos. Uma mescla de influências europeias e dos mangás.O autor sabe bem usar os traços para dar clima e intensidade.
Porém, assim como o personagem principal tem dificuldade nas palavras, a obra tem problemas nos diálogos. Quase sempre rasos e, às vezes, redundantes. Em algumas partes entregando as informações de bandeja, o que facilita demais o trabalho do leitor e empobrece um tanto a leitura. Os melhores momentos são justamente quando apenas as ilustrações falam pelo autor. Nesse contexto, os personagens não conseguem mostrar muito suas personalidades, mas um destaque interessante é a mitologia apresentada sobre o Rei sem Cor. É bela e tem uma boa dose de filosofia, só que poderia ter sido melhor explorada.
No entanto, até essas dificuldades acabam por ser uma parte da jornada. Guilherme tem alma. Sua obra ainda é imatura, pois ainda está no começo de seu caminho, mas ele tem o espírito de quem não tem medo de seguir em frente e – pelas suas referências – ele busca por bons mentores. Que continue assim, pois ficaremos à espera de sua volta com o elixir.