Vingadores: Prelúdio para Infinito não tem muito o que dizer
Vingadores: Prelúdio para Infinito é uma continuação direta do último encadernado da super-equipe, cuja resenha publicamos há alguns meses. A trama segue parcialmente os eventos mostrados ali, com a apresentação do personagem Estigma, e o aprofundamento (relativo) do mythos de alguns personagens cujas histórias estão conectadas, como Máscara Noturna, Ex Nihilo, Abismo e Capitã Universo.
Hipérion e Capitã Universo, que ficaram na Terra Selvagem como babás super-poderosas dos Filhos do Sol, as crianças geneticamente transformadas que habitam o local. Entretanto, no meio do semestre da creche cósmica, Herbert Edgar Wyndham, mais conhecido como o Alto Evolucionário, o super-biólogo e geneticista que aparentemente nunca leu um livro de ética na vida, decide aliciar as pobres crianças para si. Se alguém aqui lembra do personagem, sabe que, na melhor das hipóteses, essas crianças, em algum tempo, vão se tornar serviçais animais antropomórficos. Porque… quadrinhos.
Hipérion – obviamente – resiste – despertando a ira do titã tecnológico Términus. Com uma ajuda do Deus do Trovão favorito da galera, a situação até se resolve, mas isso era apenas o início. A consequência direta disso é o despertar dos chamados Pontos de Origem da Terra, uma espécie de sinal espacial que liga o próprio planeta Terra a um contexto cósmico muito maior e mais antigo do que a humanidade inteira.
Concomitante a isso, algumas raças alienígenas começam a chegar na Terra, fugindo de algum tipo de horror cósmico. Isso tirará a Capitã Universo da Terra, preparando o cenário para um contexto muito maior, envolvendo uma raça bizarra e antiga, conhecida como Os Construtores, enquanto os Vingadores precisam recrutar um contingente gigantesco para garantir a proteção do planeta diante do que está por vir.
O roteiro fica a cargo novamente de Jonathan Hickman, cuja competência já atestamos anteriormente, e de Nick Spencer, sendo Vingadores o seu primeiro grande trabalho. Mesmo assim, passa longe de decepcionar, pegando uma história que tem muito pouco a oferecer e estruturando de maneira clara e objetiva.
Os desenhos, do glorioso brazuca Mike Deodato Jr e de Stefano Caselli, italiano que já havia trabalhado em Guerra Civil e Guerreiros Secretos, também são bons e competentes, com visuais chamativos e claros, não exigindo demais do leitor em termos de atenção. A colorização apressada e pesadamente digital não agrada, mas falar sobre isso é dar murro em ponta de faca.
A preguiça causada pelas mega sagas
Na verdade, tudo isso é um grande murro em ponta de faca. Até essa resenha. Se o amigo leitor quiser saber o porquê da minha – e do resto da editoria do Formigueiro também – resistência em relação a esse tipo de encadernado envolvendo as enfadonhas mega-sagas, ele pode ficar a vontade para explorar os outros textos sobre o assunto (aliás, que tal esse sobre as Guerras Secretas?). Para o leitor que estiver com preguiça, é basicamente o seguinte: Thanos vai vir, algumas coisas vão acontecer, certos detalhes do status quo vão mudar. O que isso importa para os quadrinhos em si? Muito pouco.
Volumes como esse são caça-níqueis; simples assim. São importantes para você se inteirar do que está acontecendo no Universo Marvel? Relativamente. Aqui, como em Último Evento Branco, você tem as linhas gerais. Mas se você quiser saber 100% do que está acontecendo, precisa adquirir 5 ou 6 títulos de uma vez. E sim, é óbvio que nós vamos reclamar do preço e antes que o amigo leitor pense que é chatice, dê um google sobre o assunto, confirmando por si próprio que mesmo nossos camaradas gringos andam MUITO insatisfeitos com a relação custo benefício do material apresentado não apenas pela Marvel, mas pelas grandes em geral.
O fato é que, com esse modelo de volumes encadernados, o que as editoras estão fazendo é “maquiar” um problema sério, que só não se tornou crítico ainda devido ao volume colossal de dinheiro oriundo das adptações dos personagens ao cinema: são produtos, hoje mais do que nunca, descartáveis. Ler um quadrinho não é mais um processo de coleção, é um processo de descarte. A estratégia óbvia desses encadernados é tentar minimizar esse efeito – mas voltamos ao murro e à faca.
É claro que aqui nós somos meros reprodutores de um sistema que vem de fora. Mas é exatamente por isso que o amigo leitor, antes de gastar uma quantidade preciosa de Temers em um encadernado desses deve se perguntar: vale a pena? Este colunista atesta – VIGOROSAMENTE – que não.
Salvo algumas exceções bastante específicas, como os encadernados do Thor de Jason Aaron (O Carniceiro dos Deuses e Bomba Divina), o Gavião Arqueiro de Matt Fraction (Minha Vida Como Arma e Pequenos Acertos), ou mesmo o Aquaman de Geoff Johns (Os Outros), da Distinta Concorrência – que sofre dos mesmos males – gastar essa quantidade de dinheiro em encadernados luxuosos, cujo conteúdo foi originalmente lançado para enfeitar banheiros e salas de dentista, é simplesmente loucura.
E frisamos, novamente, que o esforço sobre a produção não foi pouco – Hickman e Deodato, por exemplo, são nomes de qualidade incontestável, e longe deste ignorante escriba diminuir seu trabalho. Mas os grilhões das tolas mega-sagas tornam mesmo o trabalho de gênios apenas regular – talvez por isso nunca tenhamos visto Moore e Gaiman fazendo algo assim.