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Três Sombras – Encarando o inevitável!

Entre o singelo e o pungente, Três Sombras encanta o leitor

Independente do tema, normalmente, o autor precisa definir com qual público quer dialogar. Se a trama toca em pontos mais sensíveis, complica ainda mais. São raros os quadrinhos que conseguem a façanha de ser agradáveis para os pequenos e os mais maduros, uma qualidade que encontramos quase sempre nas animações da Pixar. Com Três Sombras (Trois Ombres), Cyril Pedrosa mostra que faz parte do seleto grupo bem sucedido na tarefa.

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Resenha de Três Sombras, de Cyril Pedrosa

Não por acaso, o roteirista/desenhista já trabalhou em uma animação da Disney, Hercules, antes de se aventurar nas HQ’s. Segundo álbum de sua autoria e publicado originalmente em 2008, Três Sombras saiu no Brasil pela Companhia das Letras cerca de três anos depois. Com descontração e leveza, ele ambienta sua narrativa em algum lugar França medieval, em uma habitação em um bosque.

A história começa apresentando a rotina feliz do casal Louis e Lise com o filho Joachim. O pequeno se encontra naquele maravilhoso estágio da infância, quando a dependência dos pais já diminuiu e toda descoberta é uma alegria. O incidente que desencadeia a trama é a chegada de três sombras, avistadas ao longe primeiro pelo menino. O casal tenta afastar as aparições esporádicas, mesmo sem muita ideia do que se trata, porém, essas reações só mascaram o que já sabiam antes da real confirmação. As sombras vieram para levar Joachim.

A atitude de Louis é desesperada. Talvez, se conseguir levar seu filho para bem longe, as sombras não o alcancem. Assim, os dois partem enquanto Lise fica. A breve sinopse já deve ter deixado clara a metáfora que Cyril Pedrosa construiu em Três Sombras. Simples, mas absolutamente cativante pelo apelo universal que essa situação carrega, algo que atingirá mais forte os leitores que tiverem filhos pequenos.

A construção de uma situação alegórica faz sua parte para atenuar o peso deste drama, andando de mãos dadas com a estilização do traço. O desenho ainda confere uma agilidade narrativa pelas suas composições econômicas, nunca entrando em conflito com o texto. São mais de 250 páginas que passam muito rapidamente, evidenciando mais um valor que a experiência como animador trouxe ao conjunto.

Resenha de Três Sombras, de Cyril Pedrosa

Decifrando os simbolismos

Longe de truncar o roteiro com excesso de referências de qualquer tipo, o autor se mantém fiel ao que parece ser o objetivo de agradar crianças e adultos. Existe algo a se refletir quando terminamos de ler Três Sombras, o que a faz destacar-se, evidentemente. Nem por isso é algo hermético que parece deslocado ou pretensioso dentro de uma premissa basicamente simples.

As figuras do trio de sombras chamam atenção. Por que seriam três? O que uma trindade teria a ver com esse tipo de situação? Se a chave está em alguma mitologia específica, ou simplesmente em um significado cabalístico do número 3, sem mencionar as implicações psicológicas de um símbolo como a sombra, ficará a cargo do leitor interpretar esses elementos e encaixar seu sentido na trama.

Felizmente, esse caráter mais interpretativo é apenas um atrativo a mais. Quem preferir ignorar essas reflexões ainda terá em mãos um belo trabalho para se emocionar, mostrando que a simplicidade temática e visual não impede que uma obra tenha camadas.

Resenha de Três Sombras, de Cyril Pedrosa

Entre várias qualidades, uma ressalva…

Já ficou claro que Três Sombras é algo especial. O co-protagonismo de Joachim é um fator que faz muita diferença, como em outros casos de crianças como personagens principais (Dodô e Chico Bento: Arvorada, por exemplo). No entanto, se o roteiro de Cyril Pedrosa peca em algo, é justamente em acontecimentos durante a viagem de pai e filho.

Abrindo uma subtrama durante a estadia em um navio, os eventos que se desenrolam por ali não parecem ter muita razão de ser, tampouco os personagens que se apresentam na ocasião. Não compromete o conjunto, mas não deixa de ser perceptível em um álbum com essa quantidade de páginas.

Ao final, saldo muito positivo e aquele nó na garganta inevitável que roteiros sensíveis nos provocam. Independente da condição de pai, mãe ou de alguém que escolheu não ter filhos, Três Sombras nos captura pela sinceridade de sua jornada de aceitação e o inevitável auto-conhecimento que chega logo depois.

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