O Silvio Santos La Lalalala Lala…
É raro encontrar pessoas que não suportam de jeito nenhum a figura do Homem do Baú. Compreensível que alguém não goste de algo ou alguém por qualquer motivo que seja, mas é fato que a longevidade e o vigor desta carreira de comunicador são notáveis. Até mesmo nestes tempos em que a TV aberta perde espaço a cada dia, as excentricidades do dono do SBT alcançam grande público via internet, divertindo a maioria das pessoas. O relançamento da HQ Silvio Santos: Vida, Luta e Glória é mais uma prova desta popularidade.
Publicada originalmente em 1969, trata-se da primeira biografia autorizada de Silvio Santos. O lendário escritor e roteirista R. F. Luchetti, a serviço da editora Prelúdio, relata que a inciativa surgiu da proposta de lançar HQ’s com o nome de um programa de rádio do apresentador. Com a necessidade de autorização, houve o encontro e o acerto sem maiores problemas. Já se despedindo, surgiu subitamente uma ideia ousada que foi lançada no mesmo instante. Assim, uma série de pequenas entrevistas foi combinada, dando origem ao relato daquela trajetória no inusitado formato de histórias em quadrinhos.
O relançamento partiu do esforço de Rafael Spaca (conhecido por sua pesquisa sobre os filmes e as HQ’s dos Trapalhões), que procurou o Professor Alexandre Uehara, diretor acadêmico das Faculdades Integradas Rio Branco. O contato possibilitou a restauração dos originais, evidentemente desgastados. A editora Avec é responsável pela nova edição, através do selo Memórias dos Quadrinhos Brasileiros.
Sobre a HQ em si
A arte de Silvio Santos: Vida, Luta e Glória, de Sérgio M. Lima, captou bem as expressões do então jovem empreendedor. Com traço clássico e leve, o desenhista soube utilizar bem o preto e branco, com tons de cinza aquarelados. Não há exagero nas composições e a narrativa visual funciona, mantendo um ritmo bem agradável para o leitor. Esse é um fator fundamental para o conjunto funcionar, já não se trata de um roteiro com grandes viradas ou picos dramáticos, é claro.
Considerando as limitações que R. F. Luchetti enfrentou na realização deste texto, contando com entrevistas curtas e com a memória seletiva do biografado, o resultado é muito satisfatório. Conforme já ficou claro, não espere a catarse da superação após dificuldades intransponíveis, ou uma história pautada pela fidelidade absoluta aos fatos, já que nem mesmo o nome verdadeiro do apresentador é citado.
Trata-se de uma geral até aquele ponto do caminho de Silvio Santos, trazendo os detalhes que afirmam o quão determinado e visionário ele sempre foi. Está lá o início da carreira nas ruas do Rio de Janeiro, como camelô, a entrada no mundo do rádio, a escola de paraquedismo, a sociedade com Manoel de Nóbrega e outros detalhes que os admiradores desta figura já ouviram falar. Tudo entremeado com pequenos casos que levam de um acontecimento mais importante a outro.
A importância deste projeto
Tudo que envolveu a produção original e o relançamento de Silvio Santos: Vida, Luta e Glória é digno de reconhecimento. O resgate de um material clássico como esse, mais a disposição da Avec em criar uma linha de publicações com esse intuito, é para ser comemorado e conferido. Qualquer eventual ressalva sobre os méritos da HQ é diluída dentro deste contexto. Além disso, a qualidade gráfica do álbum, que conta com prefácio do próprio Luchetti, está à altura da importância. Isso tudo por um preço acessível.
Independente do grau de admiração por Silvio Santos, aqui existe uma dimensão que vai além do biografado. É um pedaço da História dos Quadrinhos no Brasil, importante não só pela nostalgia, mas pelo espírito de manter esse tipo de obra ao alcance de pesquisadores, curiosos em geral e, principalmente, de verdadeiros entusiastas da Nona Arte e de sua produção nacional.