Litros de sangue e revelações em Lady Killer Vol. 2
Dando continuidade aos eventos vistos no primeiro volume de Lady Killer, Josie Schuller mantém sua vida dupla como dona de casa e assassina profissional. Ocultando essa ocupação de sua típica família norte-americana, naquele momento mais conservador do fim da década de 1950, ela agora trabalha como freelancer, com a roteirista/desenhista Joëlle Jones trazendo detalhes de um passado que explicam algo da personalidade de Josie.
(Clique na imagem para comprar!)
Simples assim, quem curtiu o encadernado anterior tem grandes chances de divertir-se horrores novamente. Trazendo mais uma vez cinco números da série da série da Dark Horse, Lady Killer Vol. 2 é uma montanha russa gore, recompensando quem busca violência gráfica explícita. Nada gratuito dentro do contexto da HQ, que assume um ar satírico sutil ao colocar uma mulher “exemplar” pela visão social da época em questão, praticando essas crueldades.
Sem o apoio de uma organização, Josie se vira como pode na função, se esforçando muito para ocultar seus rastros. A volta de Irving, que conhecemos no álbum anterior, acaba forçando uma associação vantajosa para ambos, já que ele, apesar de idoso, é hábil em livrar-se de corpos. As pontas em aberto do arco anterior, que envolvem esse personagem e a sogra mal-humorada de Josie, serão desenvolvidas aqui.
Lady Killer trabalha seus arcos como temporadas de uma série de TV. Para aqueles que lembram do seriado Dexter, é inevitável comparar os dois no esforço de Josie em manter as aparências. Mas não só por isso, já que a história se preocupa em justificar essa opção da protagonista, que não poderia ser apenas por dinheiro. Saindo um pouco deste lado mais dramático e entrando mais na ironia do texto, os leitores mais cinéfilos também podem lembrar do filme Mamãe é de Morte, de John Waters, embora seja uma comparação mais distante.
A continuação da história, apesar de superior à apresentação, ainda recorre a soluções pouco inspiradas, infelizmente. O relacionamento de Josie com sua sogra evolui, mas sua solução no grande final bombástico da “temporada” é um tanto ilógico, assim como toda alteração no status quo da protagonista. Não chega a ser decepcionante pela ação cheia sangrenta que experimentamos até ali, mas é algo difícil de deixar pra lá.
Existe mais um gancho em aberto para a continuidade da série. A fórmula ainda parece ter fôlego, especialmente porque o sustentáculo deste trabalho é a bela construção visual de Joëlle Jones, bem à vontade quando precisa mostrar Josie barbarizando.
O visual é a grande estrela
Os desenhos de Joëlle Jones conferem uma personalidade muito atraente a Lady Killer Vol. 2, já que percebemos sua evolução no trabalho com esses personagens. Seu traço tem algo de clássico para combinar com esse ar norte-americano da época do baby boom, mas traz uma qualidade mais estilizada que o destaca e agrega ao conceito geral. As cores chamativas e chapadas de Michelle Madsen e Laura Allred têm tudo a ver com essa proposta, evitando efeitos que prejudicariam o detalhismo de alguns quadros.
É preciso destacar que a artista não mostra só mais desenvoltura nos quadros isolados. Em termos de narrativa visual, também supera o volume anterior, com soluções de diagramação muito interessantes que imprimem um ritmo muito agradável na história. É muito gratificante perceber esse passo além, o que torna a comparação entre os dois um exercício interessantíssimo para os interessados na linguagem dos quadrinhos.
Novamente realizando um trabalho gráfico maravilhoso, a DarkSide (Silvestre), valoriza demais o produto final. Lady Killer Vol. 2 pode até patinar um pouco no roteiro, mas a julgar pela evolução do arco dramático anterior para esse, não seria surpresa se o texto também evoluísse nos números seguintes.
Cumpre bem seu papel de entreter e passa rápido. Só aí, já supera muitos outros trabalhos de ontem e hoje.