Esses encadernados em capa dura reunindo as séries renovadas da DC, no advento Novos 52, são uma beleza em termos gráficos. Reserva de verniz, miolo couché, um preço razoável (R$32,90), porém, a fase da editora que compõe esses álbuns é o problema. Existem exceções, claro, mas Esquadrão Suicida: Chute na Cara (Suicide Squad Vol. 1: Kicked in The Teeth) não é uma delas. Na verdade, entre os volumes desta coleção que a Panini já publicou por aqui, este é facilmente o pior.
A reinvenção do Esquadrão durante a reformulação da DC, publicada originalmente em 2011, é um desgosto para qualquer leitor atrás de uma história minimamente boa. Mais insatisfeito fica o fã mais velho, que conhece a fase comandada por John Ostrander, lá pelos idos de 1987. Deixemos as comparações de lado e vamos ao que interessa. Se você não é um iniciado no Universo DC, o Esquadrão Suicida – ou Força Tarefa X – é um grupo de supervilões que atua para o governo em troca de redução da pena, mas com nanobombas plantadas no corpo como garantia. A formação que temos aqui é Pistoleiro, Arlequina, El Diablo, Voltaico, Aranha Negra e Tubarão-Rei, liderados remotamente por Amanda Waller.
Dependendo do tempo que você lê esse tipo de quadrinhos, já percebe uma apelação gritante nestas novas aventuras. Amanda Waller, antes uma mulher de meia-idade bem acima do peso, passou a ser retratada com um visual mais, digamos, sexy da maioria das super-heroínas. Claro que isso seria apenas um pecado isolado se o resto funcionasse. Enfim, o grupo é obrigado a se infiltrar em um estádio lotado e deter a epidemia de um vírus zumbi tecnorgânico.
A progressão dos acontecimentos ao longo da edição, reunindo os números 01 a 07 de Suicide Squad, vai na base dos solavancos violentos. Depois dessa apresentação, é necessário deter uma rebelião no presídio de Belle Reve, onde eles cumpriam pena, em seguida temos a origem da Arlequina, que ganha um destaque maior que dura até o fim, ligando esta série com o que acontecia nas HQ’s do Batman, onde o Coringa havia perdido a pele do rosto.
Os roteiros de Adam Glass, da série de TV Supernatural (isso justifica a contratação do cara?), não tem uma sequência cadenciada e parece um amontoado de situações desconexas. Se é possível elogiar algo, fica por conta de um início interessante, onde existe um bom clima de tensão e até uma breve surpresa. Partindo para a ação, a coisa descamba. O roteirista nem mesmo consegue disfarçar quem está ali somente como boi de piranha, já que é preciso justificar o nome do gibi, não é? Isso nos lembra que o filme também tinha esse defeito, entre outros.
Quem conferiu a estreia cinematográfica do grupo este ano, vai perceber que esse arco inspirou várias situações vistas na tela. O destaque para o relacionamento de Arlequina com o Coringa, a filha do Pistoleiro, a relutância de El Diablo, tudo facilmente reconhecível, inclusive a falta de lógica em recrutar uma mulher doente mental e sem poderes – ou habilidade excepcional – para esse tipo de serviço. Ok, posso até estar exigindo demais neste caso, mas mesmo esquecendo esse detalhe, não há muito o que salvar aqui. Alguém aí perguntou sobre a arte?
Com Federico Dallocchio e Clayton Henry como os desenhistas principais, mais uma meia dúzia de artistas correndo para cumprir os prazos… já entendeu, não? Dallocchio tem um estilo mais realista e sombrio, que casa perfeitamente com o conceito da revista, mas é um esforço prejudicado quando temos o trabalho dele misturado com traços bem diversos, como é o caso de Henry, que tem uma pegada mais tradicional de super-heróis. Seria pedir demais que houvesse um planejamento na narrativa visual desta equipe, o que acaba bagunçando ainda mais o conjunto, consequentemente emperrando a leitura.
Você é muito fã do grupo de vilões da DC? Em caso afirmativo, ainda arrisco dizer que esse Esquadrão Suicida: Chute na Cara será lido apenas uma vez, com certo sacrifício, e ficará esquecido na estante, apenas para não deixar um buraco em sua coleção. Se você for aquele leitor mais ocasional, comprando apenas o que é bem recomendado, fuja. Ao contrário dos membros do Esquadrão, sua cabeça não vai explodir por isso.