DPF: Departamento de Polícia da Física agrada dois tipos de leitor
Entre leitores de HQ, não é incomum encontrar aqueles com interesse real por ciência, mesmo que hoje o termo “nerd” não tenha a mesma conotação de anos atrás. Não apenas isso, muitas vezes é algum produto da cultura pop que inspira uma pessoa a pesquisar sobre determinada área científica, ou mesmo abraçar uma carreira. No caso da TV, Star Trek (assunto que a gente aborda bastante…) não me deixa mentir, mas digamos que você seja somente o tipo curioso pelo funcionamento primordial das coisas, a ponto de passar seu tempo lendo livros de Stephen Hawking e afins (se é a sua praia, confira também a resenha do livro Buracos Negros). Neste caso, é mais do que certo que DPF: Departamento de Polícia da Física (FBP: Federal Bureau of Phisics) exerça um grande atrativo só pela premissa.
“Ora, não sei se me enquadro nesta categoria… Apenas gosto de uma boa HQ de aventura…”. Se algo parecido com isso passou pela sua cabeça ao ler o parágrafo anterior, não se sinta segregado. Essa outra parcela do público também é contemplada neste primeiro volume da série publicada pela Panini, acertando aqui, errando ali e deixando algumas questões pendentes para o desenvolvimento posterior. O encadernado Mudança de Paradigma contém os sete primeiros números de DPF, com os quatro primeiros capítulos fechando o arco que dá nome à edição.
Lançado pela Vertigo, o selo adulto da DC, originalmente em 2013, o quadrinho é uma criação do roteirista inglês Simon Oliver (The Exterminators, também da Vertigo), mostrando uma divisão policial criada para lidar com perturbações das leis da física, sofrendo distorções frequentes e localizadas, dentro de um contexto atual e cotidiano. No caso, o bordão é “Nas condições adequadas, o impossível é sempre possível”. Dentro deste ambiente, o protagonista é o agente Adam Hardy, cujo pai, morto durante sua infância, descobriu esses fenômenos, mas foi desacreditado. Existe o clichê da ausência paterna e as contas a acertar com o passado.
Nos quatro capítulos de abertura, o primeiro arco apresenta, além de Adam, seu parceiro mais velho Jay e o supervisor Cícero. Enquanto a personalidade de Adam é delineada como o típico policial meio irresponsável, mas competente, o roteirista vai brincando com conceitos elementares de física. Tornados quânticos, buracos de minhoca, distorções da gravidade e dimensões-bolha se misturam neste balaio divertido e despretensioso. Não haveria como sustentar uma série apenas com isso, então existe uma tradicional conspiração por trás dos eventos.
Em seguida, a história As Coisas Que Passaram traz mais luz ao passado do pai de Adam, tirando uma licença enquanto o ramo de reparos da Física é privatizado. As peças vão encaixando-se e o inimigo é descoberto aos poucos. Quem Vai Ficar Com Rosa, em duas partes, fecha a edição e apresenta a hondurenha Rosa Reyes, nova parceira de Adam. A personagem tem um passado muito traumático – ainda não totalmente explicado – envolvendo a desordem das leis da Física, além de acabar chantageada por uma quadrilha que se aproveita da situação manipulando buracos de minhoca.
Com um texto ágil, essa apresentação do universo de DPF perde força na elaboração de alguns estratagemas dos caras maus que encontramos pelo caminho. Em um dos momentos, vemos Adam e Jay em um ambiente onde tudo é absolutamente imprevisível em matéria de Física, mas, mesmo com tantas possibilidades, as coisa dão muito certo para o protagonista, no mais absoluto acaso. Além desta sorte toda, no capítulo final, a líder da tal quadrilha toma uma decisão bem pouco inteligente para alguém em sua posição, deixando o leitor mais atento cabreiro.
A arte valorizando o conjunto
Ainda bem que o dinamismo do texto permite que o artista Robbi Rodriguez (Spider-Gwen) extrapole na arte. Com um estilo solto, ele resolve bem as sequências onde a ação domina e não decepciona quando o roteiro segue em uma levada mais lenta. A questão visual ainda ganha com as cores de Rico Renzi, que já havia trabalhado com o desenhista. Nada daqueles brilhos padronizados, pois isso estragaria a leveza dos traços. O trio responsável se entende bem e produz um conjunto agradável. Não menos importante, as capas de Nathan Fox enchem os olhos.
Nada absolutamente genial ou revolucionário, DPF: Departamento de Polícia da Física – Mudança de Paradigma é um bom gibi que vale o tempo e o dinheiro investido. Capa cartonada de boa gramatura com papel brilhante no miolo, mais uma pequena galeria de extras no final, valorizam essa edição. Os sete primeiros capítulos apontam um caminho que seria legal seguir e ver onde vai dar. Então, vamos ver o próximo volume!