Chegou às bancas e livrarias, há algum tempo, o encadernado Flash: A Revolução dos Vilões, segundo arco do personagem dentro dos Novos 52. Pois bem, o arco segue os eventos mostrados em Seguindo em Frente, que (re)apresentou a origem do velocista escarlate para nós, pontuando alguns dos principais elementos que permeiam seu universo- como a presença de Iris West, a existência da Força da Aceleração e uma breve apresentação da Galeria de Vilões.
Em Revolução dos Vilões, arco que se divide em dois menores no volume, em um primeiro momento nós temos Barry Allen arremessado, sem qualquer memória, em Gorilla City, após os eventos mostrados no primeiro encadernado. Ali, sua presença se revela profética, pois ele seria uma espécie de avatar, cujos anciãos que guardam a profecia acreditam que irá reaproximar os gorilas da “Luz”. É óbvio que isso irá coloca-lo em rota de colisão com ninguém menos que Grodd, o gorila telepata e psicótico favorito de todos nós.
Após supostamente resolver a situação, Allen volta para Keystone City, onde decide se fazer útil, já que uma certa lógica interna da história “exige” que ele seja o Flash. Ali, enquanto tenta resolver sua vida, ele acaba precisando resolver uma situação inusitada – um conflito interno da Galeria dos Vilões, que, devido a liderança de Leonard Snart, o Capitão Frio, teve seus poderes aumentados, mas com sérias consequências. Na ausência do Flash, ele tentaram fazer a festa na cidade, mas só acabaram prejudicando a si mesmos.Reunidos pela Patinadora, eles decidem se vingar dos excessos cometidos pelo seu antigo líder, que, aparentemente, foi o que se deu melhor com os novos poderes, embora isso não o tenha ajudado em nada em termos de sucesso como bandido.
Passada essa situação, cheio de reviravoltas bastante previsíveis, nós temos Grodd de volta à cena, puxando o gancho do próximo encadernado. Antes do fim do volume, ainda temos a edição 0 de The Flash, que explica – de novo – a origem e motivações do personagem.
Vamos direto aos pontos. Primeiro ponto: Esse é um dos mais fracos volumes dos Novos 52 até agora e nós sabemos o quanto isso pesa, porque o resto, salvo uma ou outra exceção, já não é nenhum primor. Novos 52 tem como premissa ser mais um reboot, para – em tese – reapresentar os personagens da DC para um público novo. Ok, isso nós entendemos. Mas precisa reapresentar tudo, mas absolutamente tudo, de novo? E, principalmente, de forma tão atabalhoada? No volume anterior, nós mal tínhamos nos habituado a essa nova versão do velocista – apenas para entendermos que de nova ela não tem nada – e aqui já estamos vendo-o enfrentar os seus principais vilões, em um ritmo frenético que simplesmente voa pelas páginas. E não em um bom sentido. Não sabemos se a intenção dos autores Francis Manapul e Brian Buccellato era emular, de alguma forma, a velocidade intensa na qual o personagem vive – o que é uma hipótese, pois ambos aparentemente gostam de fazer joguinhos com metáforas e brincadeiras semióticas, como nos letreiros de abertura das edições.
O que nós de fato sabemos é que não funciona, pois o ritmo da aventura é tão acelerado que os roteiristas esquecem de fazer algo básico: nos conectar com os personagens. No final do encadernado, a única questão que paira no ar é: “sim, e daí?” Porque, mais uma vez, o cão arrependido dos roteiros de HQ retorna, e nessa “reapresentação” do personagem para um novo público, tudo é tão óbvio e previsível, que seria melhor simplesmente pegar HQ’s clássicas do herói e mostrá-las a nova geração.
Toda essa tentativa de revitalizar os heróis torna-se desnecessária – para não dizer falaciosa – quando nós vemos exemplos do que foi feito recentemente com personagens como o Lanterna Verde ou o Aquaman. No primeiro caso, o herói foi praticamente deslocado dos eventos do resto do universo DC, para ter sua própria mitologia expandida. Foi um tamanho sucesso, que essa mitologia acabou arrastando o resto da casa para suas histórias, em mega-sagas (desnecessárias e caça-níqueis, óbvio) como O Dia mais Claro e A Noite mais Escura.
No segundo caso, nós tivemos autores com a coragem de fazer o que deveria ter sido feito a tempos – reformular – de fato – um personagem considerado universalmente bobo e transformá-lo em um badass. Mas, para isso, é aquela velha história: tira o personagem do contexto geral, foca no desenvolvimento da sua mitologia particular, explora melhor suas motivações. Não tem segredo. Basta não se preocupar em reciclar velhas ideias e tudo dá certo. O que não dá é ficar apertando o botão de reset, e torcer para que, da próxima vez, o que está chato fique divertido de repente.
O que, aliás, nos traz de volta a outra velha questão: CHEGA-DE-REBOOTS. Se é para fazer coisa desleixada assim, encerra a produção dessas tranqueiras e nos deixem viver com a memória desses personagens de quando eles eram legais.
E não é só uma questão de roteiro. A arte não chega a ser ruim, pelo contrário; o que falta a Manapul como escritor, sobra como artista. Entretanto, isso não adianta em nada, se a escolha pela arte final e pela colorização não funcionam juntas. Manapul tenta dar um visual mais clean, mais jovial ao personagem, mas isso, associado a pesadíssima colorização digital feita às pressas – típicas desses volumes de continuidade – torna todo o encadernado em um convite a um ataque epiléptico, com uma profusão bagunçada de “cores modernas” em cada página.
Não obstante, agora sim, temos o segundo ponto: o amigo leitor que já enfrentou a primeira facada de Seguindo em Frente, e esperou ansiosamente que as coisas melhorassem no segundo volume, pode consultar seu plano médico, porque dessa vez não vai ser diferente. Não bastasse ser mais um volume luxuoso – ou seja, brutalmente mais caro – dedicado a uma história genérica e questionável, ainda existe a total incerteza de quando e se a Panini as lançará aqui no Brasil.
Independente do que as chefias digam, quem quer que leia HQ’s aqui no país – há pelo menos 10 anos -sabe que o mercado é meio de lua e amanhã toda essa fortuna que o amigo leitor gasta com esses volumes pode se tornar, do dia para o noite, um colossal desperdício. Então, porque não fazer volumes mais simples, e mais baratos, para garantir as vendas e continuar as publicações?
Honestamente, não faz o menor sentido. Se eu fosse o amigo leitor, não esperaria ser banhado por produtos químicos atingidos por um raio para sair correndo disso aqui. Para bem longe.