Biografia de John Coltrane em quadrinhos
Originário dos Estados Unidos no início do século XX, o jazz é um estilo musical muito conhecido pelo caráter de improvisação e variedade rítmica. Dentre os maiores nomes do gênero, podemos destacar John Coltrane, que marcou a década de 50 e 60 com seu experimentalismo e talento característico. Na HQ Coltrane sentimos claramente a paixão do autor, tanto pelo músico que dá título à obra quanto ao Jazz em si. É uma pena que a história não se aprofunde o suficiente para gerar a empatia necessária em uma narrativa desse tipo.
(A Veneta também lançou Carolina, outra HQ biográfica, e Os Últimos Dias de Pompeo, onde Andrea Pazienza colocou algo de si em seu protagonista. Confira as resenhas)
Escrito e desenhado pelo italiano Paolo Parisi, o álbum Coltrane foi originalmente lançado em 2009. Publicado recentemente no Brasil pela Editora Veneta, conta a história do músico lendário, um dos saxofonistas mais marcantes do Jazz experimental. Narrada de maneira não cronológica, a HQ faz um breve resumo da vida do artista e aborda seus momentos mais marcantes, desde problemas com drogas até o estrelato impulsionado pela parceria com Miles Davis.
O traço de Parisi é simples e eficaz. Os quadros não utilizam muitos elementos, a menos que seja necessário e pertinente ao momento da narrativa. A fisionomia dos personagens também é muito bem feita. Com poucos traços, conseguimos reconhecer personalidades marcantes da época, como Malcolm X e Miles Davis. Porém, essa simplicidade faz de Coltrane uma obra que não aproveita as diversas possibilidades de linguagem que a nona arte permite.
Algumas ressalvas
O grande ponto fraco do quadrinho é que ele não se aprofunda em nenhum momento na vida de Coltrane. Todos os problemas pelos quais o saxofonista passou ao longo da vida, como racismo, a infância pobre e o vício em drogas, não são desenvolvidos e se resumem em poucos quadros. Isso atrapalha a experiência, pois o leitor não se identifica o suficiente com o protagonista, tirando a força de momentos que deveriam ser catárticos.
Além disso, a diagramação e a arte poderiam ser mais ousadas e diferentes, até mesmo para criar uma relação com o próprio caráter experimental do Jazz. A história contada de forma não cronológica até conversa com o estilo musical, mas como é um recurso tão utilizado em diversas outras obras, acaba não fazendo muita diferença em termos de linguagem.
Ainda assim, a HQ traz uma agradável atmosfera de um universo musical muito idolatrado e com um verdadeiro tom de homenagem. Mesmo que possa frustrar pela falta de profundidade e versatilidade, é uma obra feita com carinho e dedicação.
Coltrane merece ser lida pela importância de seu personagem-título e pela dificuldade em encontrarmos quadrinhos que abordam temáticas mais musicais. Porém, o desafio de fazer com que o leitor sinta a música sem escutá-la, ao ler uma obra desse tipo, ainda não foi superado. Um dia, espero que algum artista consiga tal feito.
Uma dica, caro leitor: leia Coltrane ouvindo o álbum Soultrane, de 1958.