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Sobre mangás e comics – Parte 2

 Sobre as raízes históricas de mangás e comics

Hm, acho que passou mais de uma semana. Foi mal. Enfim, onde estávamos? Ah, sim: sobre as diferenças entre mangás e comics. Contudo, antes de prosseguirmos, uma pequena digressão, que foi a pergunta que mais me fizeram pessoalmente sobre esse assunto: e qual o padrão brasileiro? Bom, esse é bem interessante. Não herdamos nem o padrão americano, nem o japonês; nossa raíz vem da Europa.

Assim como a maioria das coisas, nossa cultura de quadrinhos foi herdada do sistema europeu, que consiste em uma revista que é uma compilação de histórias – antologias. Pense na Turma da Mônica, ou nos “mixes” com histórias dos heróis americanos. Parece o sistema japonês, porém é mensal. Eu sei, falar sobre isso parece meio aleatório, porém fará sentido mais abaixo (ou não, quem sabe?).

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Herança das antigas.

E, ainda falando de “raízes europeias”, é importante mencionarmos as histórias. Eu mencionei da última vez como as histórias dos mangás focam em momentos chaves do personagem, ao passo que as histórias de comics focam no cotidiano; porém, há mais do que isso para explorarmos. Histórias japonesas tendem a não ter um “final feliz”, a catarse, enquanto as histórias ocidentais prezam muito isso.

Perceba que, na última sentença, eu não pontuei “mangá” ou “comics”, pois estou comentando no geral. Já leu algum conto japonês? Eles não são histórias com lições de moral ou finais felizes. Isso é um conceito ocidental, cujas origens passam muito pelas culturas antigas e medievais. Muitos de nossos valores, nossa estrutura de sociedade, pensamentos, são consequência de séculos sob a influência da Igreja Católica e do pensamento greco-romano antigo.

Disclaimer: Não estou fazendo uma crítica a Igreja ou a qualquer outra religião. Não é essa minha intenção, nem de pregar alguma coisa, é apenas apontar os fatos como eu os vejo. Se você tem uma opinião contrária, sinta-se a vontade para debater isso. Só não seja rude. Como diria Luke Owens, “se é para ser rude, seja pelo menos Rick Rude” (piada de fã de luta livre).

Quer aprender um truque? Como descobrir se o herói morre no final: analise o personagem. Ele é um personagem que foi “corrompido”? Ele era mal e virou bom? Ou ele mata pessoas? Ele é “moralmente cinza”? Então as chances são de que ele morrerá. Se ele é bom, “puro” (não precisa ser santo, só não ser… você sabe, anti-herói)., ele sobreviverá.

Eu me lembro na época que J. K. Rowling estava escrevendo o último livro do Harry Potter, e ela dizia “ah, não sei se ele sobreviverá no final…”. Para mim, sempre foi claro que ele sobreviveria (ops, spoilers de um livro de 2007!), pois ele, por mais chatonildo que fosse (era a adolescência), era “bom”. Agora, eu fui ver o “Logan“, filme sobre um Wolverine velho, sabendo que ele morreria (ops, spoiler de um filme… mais recente XD). Isso por causa do conceito cristão da morte como redenção.

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A analogia está clara, né?

 

A Jornada do Herói – ocidente x oriente

“Mas Shrek”, você me interrompe, “eu não sou católico. Eu sou <insira sua religião>“. Primeiro lugar: Quem te deu intimidade de me chamar de Shrek? Zueira, pode me chamar assim. Segundo lugar, é como eu falei acima: não é mais uma questão de religião, mas sim uma questão cultural. Os países ocidentais (e a Oceania) tiveram como base a estrutura européia e, quando você recebe o “European Structure Starter Pack“, todas as superstições, tendências, costumes e preceitos estão inclusos.

Pense assim: como você se sentiria se Harry Potter morresse no meio do caminho? Quer dizer, estou supondo que você tenha lido. Se você for mais velha guarda, pense como seria se o Superman do Christopher Reeves (A.K.A. Melhor. Superman. EVER) morresse no segundo filme, e fosse o final da série (sem ressurreições, como no filme da Liga da Justiça, não é o Henry Cavill).

Agora, em comparação, pense no final de Rogue One. Não é uma sensação de “injustiça” que você sente? Isso porque, lá no fundo, você se sente “traído” pela história – se o mocinho bom morre, e o vilão malvado do mal, vive. Essa é, tradicionalmente, a nossa relação maniqueísta com as histórias no Ocidente. (Mesmo os personagens de Rogue One e suas origens duvidosas?).

Pois é, é assim nas histórias japonesas. Herdadas da tradição clássica chinesa, pré-dinastia Han, as histórias japonesas não estão interessadas em te deixar feliz; elas retratam a vida de uma perspectiva mais realista – pode ser que dê certo, pode ser que não. Não é uma questão de “conformismo”, e sim uma questão de “a vida continua”. Eu ia fazer uma piada, dizendo “exceto se você morre”, porém, as religiões japonesas creem numa vida pós morte e reencarnação, ou seja, literalmente a vida continua.

“Ah,” você me interrompe novamente, “mas eu li vários mangás com finais felizes! Mais felizes do que o contrário!” Mano, você precisa parar de me interromper, apesar de ser uma pergunta interessante. Sim, é um fato, muitos mangás, filmes e séries tem finais felizes, porém, é óbvio o motivo: influência ocidental. Da mesma forma como pegamos trejeitos e costumes estadunidenses por influência de filmes e séries, o mesmo acontece com eles. Contudo, como não está no “DNA” deles, sendo mais comum em obras infanto-juvenis. Ou romances melequentos.

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Se você já assistiu esse anime, sabe da relação dos japoneses com tragédias, e provavelmente está viciado em Rivotril agora.

Considerações inú… finais

Para fechar em um clima menos pesado (afinal, uma lição de história não é o que vocês esperam de mim, e sim piadas idiotas e cultura inútil), vamos ver alguns factoides:

  • O mangá mais antigo que ainda é publicado é Golgo 13, de Takao Saito, e é, até hoje um dos mais vendidos. Começou em 1968 Não é semanal como a maioria, acho que é mensal. O comics mais antigo ainda em circulação? Detective Comics, claro, de 1937!
  • O Homem-Aranha faz um batia sucesso no Japão. Isso porque, nos idos dos anos 1970, a Marvel fez uma empreitada, tentando expandir para o oriente e se juntou a Toei. Lá, lançaram um tokusatsu (aquelas séries tipo Jaspion/Power Rangers) do Aracnídeo, em que ele era um jovem chamado Takuya Yamashiro, que ganha os poderes de aranha de um alienígena. Ele tinha um robô gigante, chamado Leopardon. Sabe os robôs gigantes dos Changeman, Flashman e Power Rangers? Pois é, o Aranha foi o primeiro a usar, e o sucesso da série inspirou os Super Sentai (grupo de heróis que os PR são inspirados) a terem robôs gigantes também. Até hoje, muitos anos depois, o Aranha é famoso lá.
  • “E o hentai?”, sempre me perguntam. Isso é uma faceta muito interessante do japonês (e merece, talvez, uma abordagem a parte). Para eles, a sensualidade/sexualidade é algo que, na ficção, é ok. Eles não curtem muito proximidade ou que as pessoas fiquem em… “momentos íntimos” em público (beijar nas ruas é MUITO mal visto), porém, conteúdo sexual não é visto como se fosse um crime. Eu sempre ia em konbinis (lojas de conveniência) e tinha as revistas, mangás, fofoca… e eróticas, tudo junto. Sex-shops são gigantes e não ficam em becos escondidos. E ninguém tem vergonha de entrar. Não é falta de pudor, é só parte da cultura deles. Ainda que eles sejam sexualmente reprimidos.

Ok, acho que destrinchei um pouco mais. Ou não, só fiquei divagando. Não sei. O que importa é que você julgue o amiguinho que lê revistas de teor adulto (…não que eu faça isso, estou apenas dando uma lição de moral no estilo ocidental…).

Para ler a primeira parte dessa matéria, clique aqui!

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