Quase todo mundo já sabe que Grant Morrison está num estágio avançado do desenvolvimento de uma história da Mulher-Maravilha, mas o que se pode esperar do projeto?
Inicialmente, a história seria escrita por Greg Rucka e faria parte da série Terra Um, que reconta as origens dos personagens. Após Morrison assumir, o título foi mudado para The Trial of Diana Prince, mas, segundo ele, continua sendo uma narrativa de origem. O desenhista é Yannick Paquette e já foram divulgadas várias artes do álbum, ainda sem data de lançamento.
No semestre passado, o escocês se abriu ao The Guardian e falou bastante sobre o assunto com a repórter Laura Sneddon. A tradução da matéria é cortesia da equipe FORMIGA ELÉTRICA!
Glasgow, final da década de 1970. Uma mulher está ocupada fazendo cópias do último trabalho criativo de seu filho, em uma velha copiadora, alegremente ignorando que aquilo um dia será um item de colecionador. O garoto se chama GRANT MORRISON, e uma cópia desbotada de seu velho fanzine, chamado The White Tree, recentemente foi vendida no eBay por mais de £ 100.
“É ridículo!” diz Morrison rindo, que tornou-se escritor dos quadrinhos de Batman, Superman e X-men, entre outros. “ O primeiro que foi impresso -você sabe – nessas copiadoras Banda.” Ele sorri. “Era tecnologia steampunk. Elas fizeram cópias estranhas que saíram com tinta azul. Teria sumido com o tempo. Cada número subsequente (do fanzine The White Tree) era feito por minha mãe, em uma cooperativa de datilógrafas. Ela faria cerca de 150 cópias daquilo. Honestamente, tudo que me lembro dessa revista é que eu desenhei uma garota em estilo bárbaro para a capa do número 3. E ela tinha um biquíni de pele”
As mulheres na cooperativa – ele acrescenta – estranharam o traje de banho. “Todas as garotas diziam, ‘Que tipo de brincadeira é essa? Eu estava mortificado, um garoto de 16 anos. ‘Oh, Deus” eu pensei. ‘O que foi que eu fiz?’ Voltei e pintei um tipo de saia enorme – com uma caveira na frente. Então existem duas versões”
Foi um início de aprendizado, talvez, para o escritor de The Trial of Diana Prince (O Julgamento de Diana Prince), que é o título da vindoura graphic novel da Mulher-Maravilha. Já está causando debates entre os fãs de quadrinhos, pois Morrison escolheu restaurar alguns dos elementos originais em sua Mulher-Maravilha, ou Diana, como ela é conhecida por seus amigos. Mas sobre o que é esse julgamento?
“Eu pensei: Essa é a condição da Mulher Maravilha” diz o escritor, que compareceu ao Stripped, o importante evento de quadrinhos que é um desdobramento do festival do livro de Edimburgo. “ Ela está sempre sendo julgada. É algo como, por que ela não é boa o bastante, por que (sua revista) não vende o bastante, por que ela não representa isso, isso, ou isso? E então eu pensei, ‘Não seria ótimo apenas basear a história em um julgamento de verdade – ter as amazonas colocando-a no tribunal e contar uma história de origem a partir disso?’”
Mulher-Maravilha, para os que não conhecem, é uma princesa guerreira amazona, conhecida em sua terra natal como Diana de Themyscira. Criada por um psicólogo e escritor dos EUA, William Moulton Marston em 1942, os interesses da super-heroína são justiça, amor, paz e igualdade sexual. Para ajuda-la em seus objetivos, ela tem uma tiara bumerangue, braceletes indestrutíveis e um laço da verdade (Marston também inventou o detector de mentiras). Ocasionalmente, ela voa com seu avião invisível, presumivelmente tomando cuidado para lembrar onde o estacionou.
Morrison falou brevemente sobre Marston no festival do livro no ano passado. “William Moulton Marston foi basicamente alguém que propunha o amor livre”, ele diz, “ Ele e sua esposa tinham uma amante chamada Olive Byrne, de 18 anos de idade, e Olive foi o modelo físico para a Mulher-Maravilha. Eles criaram a personagem porque sentiam que o Superman representava uma masculinidade assustadora. Queriam introduzir algo mais feminino”.
Marston tinha outras excentricidades coloridas: “Ele tinha essa ideia de que o mundo seria melhor se os homens simplesmente se submetessem completamente às instruções das mulheres. Mas não apenas submeter-se às instruções, mas usar coleiras, andar de quatro e admitir que é esse o seu papel, caras! Então, um monte de histórias da Mulher-Maravilha passa esse conceito, essa ideia de bondage. Mas Marston chamava isso de ‘submissão amorosa’.”
Em um episódio, a Mulher-Maravilha resgata algumas garotas escravizadas por um nazista. “As escravas não sabem o que fazer. Mesmo depois de terem sido resgatadas, elas continuam se sentindo como escravas. Então a Mulher-Maravilha apenas diz, ‘Oh, não se preocupem, vocês podem ser escravas na Ilha Paraíso e uma das nossas garotas tomará conta de vocês. Mas ela será boa de verdade – diferente do nazista!’ E isso foi a resolução da história.”