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Mulher de Fases – As fases da Mulher-Maravilha nos quadrinhos!

Os quadrinhos da Mulher-Maravilha ao longo das décadas

Existem bilhões de personagens. Dentre estes, uns milhares são conhecidos. Destes, poucos são ícones. E destes ícones, nenhum fala mais sobre as mulheres do que a Mulher-Maravilha. Sempre a “terceira parte” da Trindade (Superman e Batman são o restante), Diana não tem o reconhecimento que merece, porém é reconhecida como um símbolo do poder feminino. Tal fenômeno, porém, não é coincidência.

Em 1941, William Moulton Marston, que era consultor educacional da National Periodicals e a All-American Publications (editoras que se fundiriam e se tornariam a DC Comics de hoje) e, por sugestão de sua esposa, criou uma nova personagem, uma heroína, afinal, o que mais havia era eram homens como heróis e as mocinhas apenas como interesse romântico e “donzelas em perigo”.

(Já leu a crítica do filme? Veja também este vídeo dos 75 anos da personagem!)

Confira uma geral na trajetória da Princesa Amazona!

Fases Hq Mulher Maravilha

Fases 1 a 3 – Dos primórdios até a psicodelia sessentista!

Fase 1: Mulher-Maravilha em tempos de guerra

Em sua versão original, Diana foi criada por Hipólita, rainhas das amazonas, a partir de argila. Zeus deu vida a ela, e os outros deuses deram seus poderes. Um dia, Steve Trevor,  major da Força Aérea americana, cai em Themyscira, a ilha das amazonas, e conhece Diana, que o acompanha de volta ao “mundo dos homens”. O motivo? Lutar contra o mal (na época, o nazismo) e pelos direitos das mulheres.

Cabe aqui, porém, uma pequena digressão sobre Marston. Formado em psicologia, ele era casado com Elizabeth Holloway Marston, porém, o casal vivia com Olivia Byrne, que era uma “segunda esposa” do autor. Sua premissa, ao criar a heroína, era o de mostrar que o poder do amor era mais forte do que a violência. Sua intenção não era o de punir os criminosos, mas fazê-los se redimir. A intenção de Marston era o de doutrinar seus leitores, tornar as mulheres mais fortes e fazer os homens as aceitarem. Suas histórias continham ataques políticos, como os baixos salários das mulheres em relação aos homens. De fato, seu codinome, Mulher-Maravilha, era um termo utilizado para denominar uma mulher que fosse extremamente talentosa. Quando o autor faleceu, em 1947, sua personalidade foi lentamente alterada, igualada às de suas contemporâneas, como Lois Lane, que só se importavam com coisas fúteis como casamento e relacionamentos.

Fase 2: Família Maravilha

Já perto do fim do anos 1950, Robert Kanigher tinha a missão de revitalizar a heroína, e o fez seguindo os passos de Superman. O Kriptoniano tinha sua versão adolescente, que nada mais era do que ele mesmo no passado, então surgiu a Moça-Maravilha (Diana em sua adolescência) e a Criança Maravilha (Diana… quando era criança). Assim como Superboy, eram histórias paralelas, porém fizeram tanto sucesso que surgiu a Família Maravilha, uma série de histórias impossíveis (fato que as capas das histórias adoravam enfatizar), juntando Hipólita, Diana adulta, adolescente e criança. O sucesso da Garota Maravilha levou Bob Haney a incluí-la em Jovens Titãs… Exceto que não fazia sentido, pois ela era Diana quando adolescente! Eventualmente, houve uma explicação (Donna Troy era, na verdade, um tipo de clone mágico de Diana) e ela tornou-se um personagem à parte.

Da mesma forma que a popularidade veio, ela foi, e Kanigher se viu forçado a retornar a heroína às suas raízes, enfrentando supervilões. Nessa época, temos o surgimento da “Era de Prata”, com a criação de Barry Allen (também por Kanigher) e Diana entra na primeira formação da Liga da Justiça (a título de informação, Diana também foi membro da Sociedade da Justiça… como secretária. Saiba como foi isso neste artigo).

Fase 3: Mulher Modernosa

Ao final doa anos de 1960, mais uma “renovação” foi necessária. A escolha de Kanigher, porém foi uma total repaginação da heroína. As amazonas abandonaram a Terra, pois precisavam recuperar suas energias e Diana optou por permanecer, o que fez com que perdesse seus poderes. Na história anterior a essa, Diana foi forçada a abrir mão tanto de seu uniforme quanto de sua identidade secreta, passando a usar roupas contemporâneas da moda. Percebeu que, desta forma, estava mais em contato com as pessoas que visava proteger. Sem seus poderes, Diana foi treinada por um mestre cego (porque, claro, todos os bons mestres são cegos) chamado I Ching (O QUE?) e se tornou uma agente secreta. A revista de nossa heroína nunca deixou de ser publicada, desde sua criação, então o autor achou que essa mudança radical era necessária, principalmente para se livrar de Steve Trevor, que ele considerava a maior âncora que prendia Diana ao seu passado.

É interessante falar sobre Kanigher, pelas diferentes interpretações que seu trabalho teve. Há quem diga que sua Diana era feminista, pois seu foco era uma heroína forte e independente, e há quem diga que sua obra era machista, pois Diana quase sempre precisava da ajuda de um homem para vencer o inimigo. Minha opinião é que ele era um típico homem dos anos 1950, que tentou ser fiel ao material de Marston, contudo sua tentativa era barrada por sua sensibilidade que vinha de uma época que as mulheres não eram respeitadas (e eu gostaria de dizer “diferente de hoje em dia”, mas sabemos que, infelizmente, não é bem assim).

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Fases 4 a 6 – Retorno ao tradicional, grande momento com George Pérez e os péssimos anos 90!

Fase 4: Pré-Crise da Meia Idade

Diana recuperou seus poderes e retornou a combater supervilões como Mulher-Maravilha. Por que a volta? Porque 1) as vendas caíram novamente, mas principalmente 2) a série de TV da heroína, estrelando Lynda Carter, que estreou em 1975, era um sucesso absoluto (leia um artigo sobre o seriado). Tanto que, aproveitando-se do Multiverso introduzido nas histórias do Flash (em que foi revelado que Barry Allen fazia parte de um Universo, enquanto Jay Garrick, o Flash original da Segunda Guerra Mundial, era de outro), por um tempo, as histórias da Mulher-Maravilha foram revertidas à Segunda Guerra, pois a primeira temporada da série de TV se passava nesta mesma época. Na segunda temporada, quando a série chegou ao “presente”, paramos de acompanhar as aventuras de Diana da Terra-2 (como a Terra dos heróis da Segunda Guerra é chamada) e voltamos a acompanhar a Diana da Terra-1 (universo regular DC).

Outro fator importante foi o forte movimento feminista que surgiu no começo dos anos 1970, principalmente a criação da revista “Ms.”, idealizada por Gloria Steinem, cujo tema central era este. Em sua primeira edição, a capa foi a Mulher-Maravilha e sua matéria principal era como a personagem, forte e independente durante a Segunda Guerra, tornou-se frágil e supérflua.

Fase 5: Superando Crises

Quando a DC realizou a (necessária) Crise nas Infinitas Terras e seus heróis foram rebootados, George Pérez, que se define como “um feminista convicto”, tomou para si a missão de tornar Diana novamente relevante. Então, com a a ajuda de Steinem, Pérez abordou diversos temas que iam além de meramente combater o crime, como a obsessão da sociedade pelo corpo perfeito, suicídio e a abordagem da mídia sobre as mulheres.

Perez ainda atualiza brevemente a origem de Diana, principalmente sua chegada ao “mundo dos homens”, onde ela chega sem sequer falar inglês e precisa aprender sozinha. Steve Trevor não é mais um par romântico, sendo praticamente uma figura paterna que cuida dela. Perez ficou apenas 5 anos à frente da revista. Seu sucessor, William Messner-Loebs manteve as histórias no “padrão normal”, ou seja, simples combate ao crime.

Fase 6: Era Sombria (A.K.A. Anos 90)

Então, Diana tornou-se vítima do movimento corrente da época: personagens femininas eram super sensualizadas, sempre aparecendo em poses sexies. Com William Messner-Loebs ainda a frente da revista, mas com o brasileiro (e meu desenhista favorito) Mike Deodato, Diana passa por sua fase mais “apelativa” (Marston devia estar se revirando na cova). Nossa heroína volta para Themyscira e descobre que a ilha está em Guerra contra demônios. Ao falar com Hipólita, Diana descobre que se passaram 10 anos desde que visitou pela última vez o lugar, e não simplesmente alguns meses. Hipólita decide realizar um novo torneio, a fim de encontrar uma nova Mulher-Maravilha.

Ao final, Diana enfrenta Artemis e esta vence, tornando-se a nova Mulher-Maravilha e Diana passou a usar um novo uniforme. Essa fase não durou muito (longa história, Hipólita previu a morte da Mulher-Maravilha e trapaceou para que Diana perdesse, então, quando Artemis morre, Diana fica furiosa com sua mãe, por permitir que uma amazona morresse em seu lugar). Diana retorna, mas não por muito tempo…

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Fases 7 a 9 – Byrne decadente, Rucka mantém bom nível e em seguida… Prince, Diana Prince!

Fase 7: Byrne, baby, Byrne

John Byrne, o homem responsável por algumas das melhores histórias dos anos 1980, decide tentar sua mão na heroína, mas sem o mesmo sucesso. Suas histórias aqui são bem qualquer-coisa, até finalmente matar Diana e substituí-la por Hipólita, que aprende sobre o mundo dos homens com a ajuda de Donna Troy e Artemis (é, ela tinha morrido e ressuscitado). Diana é transformada em Deusa da Verdade por Zeus. Essa fase é bem esquecível, sendo seu maior legado a criação de Cassie Sandsmark, que viria a ser a nova Moça-Maravilha, depois da morte de Donna Troy.

Obviamente que Diana retorna e volta a ser Mulher-Maravilha. Pelos próximos anos (isso é, já no começo deste milênio), vamos seguindo com histórias “normais” até chegarmos, finalmente em Greg Rucka.

Fase 8: Pé no chão

Rucka decide por uma abordagem menos fantasiosa para Diana e, com a ajuda do onipresente Batman, se torna uma embaixadora de Themyscira na Terra (Themyscira ESTÁ na Terra, diga-se de passagem, pois foi destruída na saga Mundos em Guerra). Medusa retorna e Diana é forçada a se cegar para poder derrotá-la, status que permanece até ela enfrentar Hades, quando recupera sua visão. Porém, logo depois, começa os eventos de Crise de Identidade e Diana é forçada a enfrentar Superman, controlado por Maxwell Lord, e este confirma que a unica forma de libertar o kriptoniano é matando-o (Lord, não o Superman), e ela o executa.

Clark, assim como Bruce (Wayne) ficam horrorizados (principalmente pelos acontecimentos do Crise de Identidade, onde é descoberto que um grupo de heróis fez lobotomia no Doutor Luz) e se afastam da amazona. Ela é levada a julgamento, porém é forçada a fugir, pois Themyscira é atacada por OMACs, humanos transformados em ciborgues sem seu conhecimento. Diana repele a invasão, porém, como são humanos, a população acredita que as amazonas estão matando inocentes. Diana pede que suas irmãs fujam da Terra e ela ficará, pois precisa se “reencontrar”.

Fase 9: Diana Prince, agente secreta

Diana some por um ano e, com ajuda do onipresente Batman, arranja a identidade secreta de Diana Prince e passa a atuar como agente do Departamento de Assuntos Meta-Humanos. Nessa fase, ela lida com as consequências da morte de Maxwell Lord, além da ressurreição de Hipólita e uma guerra contra os humanos. Essa história se manteve por um bom atempo, até Gail Simone assumir a revista. Gail, uma feminista que detesta os estereótipos femininos, retornou Diana ao seu usual “combate aos supervilões”, porém sem o forte apelo sexual que predominava na revista na última década.

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Fases 10 a 12 – Batendo recordes, mais uma mega saga e Novos 52!

Fase 10: 600 não é um bom número

Somando todas as revistas já publicadas, Mulher-Maravilha chegou ao incrível número de 600 edições, então sua revista retornou a numeração original. Junto com isso, tivemos J. Michael Straczynski e o resultado… não foi muito bom. Diana estava presa em uma estranha realidade onde ela era uma órfã e Themyscira foi destruída. A história era tão ruim que Straczynski deixou de escrever completamente a revista na edição 605 e coube a Phil Hester, com os argumentos do antigo escritor, encerrar a saga.

Fase 11: Ponto morto

Durante a saga Ponto de Ignição, em que a realidade foi alterada porque Barry Allen volta no tempo e salva sua mãe (tipo, caramba, salvar a mãe dele fez TUDO ISSO? Bruce Wayne morrer, ao invés dos pais, Superman nunca ser encontrado pelos Kent, Hal Jordan nunca virar o Lanterna Verde…), as Amazonas e os Atlantes estão em guerra, com Diana está liderando o lado das guerreiras. É, eu deveria considerar um isso um “elseworld”, mas eu gosto de números redondos…

Fase 12: Novos 52

Diana foi uma das mais afetadas pelo reboot dos Novos 52, seu status quo completamente alterado. Ela agora é filha de Zeus, sendo a argila apenas uma desculpa para Hipólita esconder sua “culpa”. Nossa heroína tem um relacionamento com Superman e tornou-se a Deusa da Guerra, após derrotar Ares. Atualmente, durante o “Renascimento”, evento que visa retornar o Universo DC ao que era antes de Ponto de Ignição, Diana percebe que sua realidade foi alterada e busca respostas. Primeiro, tivemos uma ótima fase do Brian Azzarello, seguido de uma péssima fase do casal Finch… E, atualmente, Greg Rucka voltou ao comando.

Bom, isso cobre MUITO POR CIMA a história da Mulher-Maravilha. O mais evidente, porém, é que falar sobre ela é falar sobre as mulheres, contudo é falar sobre a sociedade como um todo também. A personagem é o produto de sua época, ao mesmo tempo que é a vanguarda e guia do que deveria ser. Com jato invisível ou não.

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