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Interpretação e Superinterpretação – Umberto Eco e a teoria da crítica!

Umberto Eco refletindo sobre a percepção da arte em geral

Em um mundo onde qualquer pessoa despeja “opiniões” a seu bel-prazer na internet, é bem comum encontrar certas declarações que causem estranhamento em quem as lê/ouve. No mau sentido, na maioria das vezes, pois percebemos que algumas dessas “análises” não fazem muito sentido, no fim das contas. Uma boa pergunta surge daí: alegar que se trata de uma visão particular torna a observação válida automaticamente? Para quem já se encontrou com dúvidas similares a essa, uma boa recomendação é Interpretação e Superinterpretação, de ninguém menos que Umberto Eco (O Nome da Rosa).

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Resenha de Interpretação e Superinterpretação

Atualmente no catálogo da WMF Martins Fontes, o livro foi publicado originalmente em 1992, mas a relevância de seu texto é enorme hoje, beirando a urgência. Eco, que dispensa apresentações, deixou declarações ácidas sobre a Era Digital, antes de falecer em 2016. Ironicamente, neste estudo sobre crítica literária, que acaba abrangendo a arte como um todo, encontramos mais um ponto para discutir a profusão de falas desconexas que a rede possibilitou.

A verdade é que essa breve leitura – menos de 200 páginas – é bastante útil para quem vai se aventurar, ou já está, no caminho da crítica, mas não se restringe a esse grupo. Não importa se é de Literatura, Cinema, HQ, Teatro ou qualquer outro tipo. Isso porque todas elas têm obras que se propõe a múltiplas interpretações, o que pode, vez por outra, confundir quem tenta elaborar um raciocínio próprio. Afinal, não é incomum, para quem escreve sobre o trabalho dos outros, questionar se sua própria visão é coerente com a obra.

É neste sentido que Umberto Eco elabora algumas perguntas simples que devemos fazer a nós mesmos no exercício da análise. Não é preciso explicar o significado da palavra “interpretação”, mas por “superinterpretação” o autor entende as conclusões que ultrapassam as fronteiras argumentativas lógicas e, exatamente por isso, falham em elaborar um discurso razoável sobre a obra. Não que ele pretenda ser impositivo ou arbitrário de alguma forma, mas é necessário um olhar mais atento a uma produção que, entre suas funções, se destina a formar público.

Resenha de Interpretação e Superinterpretação

As intenções do autor e da própria obra

É um fato que hoje existe um público que anseia por “finais explicados”. Não apenas isso, quando algum filme, quadrinho ou seja lá o que for ousa propor um final mais aberto, convidando sua plateia a participar mais ativamente deste processo, não mais basta a satisfação criada pela experiência. A própria imprensa fomenta uma centena de teorias, atormentando os próprios criadores para que expliquem ao mundo o que eles fizeram.

Pois bem, digamos que o diretor X explique sua obra Y em uma entrevista. Além de ser um desserviço enorme ao exercício criativo artístico, o que acontece se alguém, um espectador qualquer, interpretou de outra forma? Essa pessoa precisa, necessariamente, abandonar sua visão e admitir que errou? Bem, trazendo mais substância a esse caldo, a conclusão que Eco nos oferece é que as intenções de um realizador podem não interessar muito para nossa apreensão do produto final.

Sim, isso mesmo. Quem discorda do que determinado diretor disse sobre o final de seu filme pode não estar errado, desde que fundamente bem sua visão. Mas isso também não implica que o tal cineasta esteja errado, somente que, em termos de obras de arte, quando o resultado deste processo complexo ganha o mundo, ele já não é de propriedade exclusiva de seu criador. É neste raciocínio que Umberto Eco defende o conceito de vida própria da obra, às vezes trilhando um caminho interpretativo diverso na mente de seu público, independente do que o criador pensava.

Mais do que indicado para críticos profissionais e amadores em geral, Interpretação e Superinterpretação também interessa a um público mais afeito às camadas menos evidentes da análise artística. É um tópico introdutório, puxando um fio interminável dentro do, aparentemente, simples processo de reflexão sobre qualquer obra de arte, enriquecendo qualquer debate, em qualquer círculo.

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