Bernardet é leitura obrigatória para o interessados em cinema
Jean-Claude Bernardet é uma lenda viva. Não apenas por ser um dos mais importantes críticos de cinema do país que ele adotou como seu (ele nasceu na Bélgica, passou a infância em Paris e veio para o Brasil aos 13 anos), mas por nunca se limitar a analisar as questões técnicas e artísticas de um filme e enxergar muitas possibilidades na arte.
Já atuou em seis longas-metragens, foi roteirista e produtor de outros tantos e uma das vozes mais atuantes na divulgação do movimento do Cinema Novo. Enquanto nossas telas passavam por uma revolução pelas mãos de nomes como Glauber Rocha e Nelson Pereira dos Santos, Bernardet fazia a sua revolução nas páginas dos jornais com críticas que questionavam criadores, atores, filmes e…a própria crítica.
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Trajetória Crítica, lançado pela editora Martins Fontes, reúne textos que Bernardet escreveu para diversas publicações entre as décadas de 1960 e 70. Ou seja, abrange uma época onde filmes que hoje são considerados clássicos estavam chegando às salas de exibição. Temos um relato emocionante e de cunho político sobre A Doce Vida, de Federico Fellini e uma análise precisa de Porto das Caixas, de Paulo César Saraceni. O livro também traz depoimentos e manifestos onde Bernardet argumenta em defesa do cinema brasileiro e da importância do público entender que “se ver” nas tramas e diálogos pode ser um processo doloroso, mas extremamente necessário.
(Confira também a resenha de História do Cinema Mundial)
Não apenas o amor pelo Cinema…
Percebe-se nas frases do crítico uma devoção pela Sétima Arte, um desejo de ver filmes como pequenas obras capazes de mudar mentes e até destinos. Mas a fé de Bernardet não o cega. Prova disso é que Trajetória Crítica contém comentários do próprio sobre seus próprios escritos, sem espaço para a nostalgia. Estamos diante de um homem que não tem problemas em rever opiniões, questionar conteúdos e assumir erros. Ao contrário de alguns vaidosos, que tratam seus textos como definitivos e inquestionáveis, ele ri de seu olhar juvenil sobre filmes que hoje ele entende a importância e também tenta entender porque gostou tanto de algumas produções que hoje já não lhe dizem quase nada.
Uma obra indispensável para cinéfilos e, é claro, críticos. Mas até quem não é assíduo frequentador das salas escuras irá encontrar um refúgio nas mais de 300 páginas do livro. Antes de ser uma antologia, um apanhado de uma fase frutífera em uma carreira, é um homem repensando a si mesmo e a arte que move seus dias. Bernardet conta, no texto que abre Trajetória Crítica (após um belo prefácio de Luiz Zanin), que sempre senta nas primeiras fileiras para poder viver o “prazer de ser esmagado por uma imagem cinematográfica”. Parece poesia, mas é crítica. Nos deixemos esmagar.