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Superman: Uma Biografia Não Autorizada

Um olhar sobre o fenômeno cultural em Superman: Uma Biografia Não Autorizada

Perto de completar seus oitenta anos de existência, o primeiro super-herói dos quadrinhos realizou um feito e tanto. Manter-se no imaginário coletivo, transcendendo o círculo de fãs, cada vez mais restrito, é uma tarefa digna dos seus super-poderes. Ainda que sua popularidade tenha caído bastante, a força arquetípica desta criação justifica um estudo como o livro Superman: Uma Biografia Não Autorizada (Superman: The Unauthorized  Biography).

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Resenha de Superman Uma Biografia Não Autorizada

Superman Uma Biografia Não Autorizada

Escrito por Glen Weldon e publicado originalmente em 2013, foi lançado no Brasil pela Leya em 2016. Enquanto Weldon finalizava o texto, Zack Snyder tinha uma nova versão cinematográfica do personagem no forno, que, evidentemente, não pôde ser incluída em sua análise. Uma pena, mas até ali já havia setenta e cinco anos de estrada. Uma jornada que começa com o estouro dos Comics, atravessa a ressaca do pós-Guerra quase desvanecendo, sobrevive ao cinismo setentista e continua de pé nestes tempos incertos.

É exatamente por isso que o Homem de Aço que hoje aparece em HQ’s mensais, além de filmes como Batman Vs. Superman ou Liga da Justiça, é um tipo bem diferente daquele de 1938. As transformações ao longo das décadas, acompanhando as constantes mutações do público e do mundo, são mapeadas por Glen Weldon. O que havia de genial neste alienígena de roupa colante circense, criado por dois garotos judeus de Cleveland? O autor busca explicar o sucesso e justificar sua longevidade entre os caminhos tortuosos de suas HQ’s.

Logo no início, o escritor já deixa claro que a intenção não é detalhar a cruzada de Jerry Siegel e Joe Shuster* por uma participação nos lucros gerados pelo seu personagem. De fato, as agruras da dupla de criadores são citadas apenas por cima, já que o real objetivo é o impacto e a permanência do Superman na cultura geral. Ele mesmo recomenda o livro de Gerard Jones, Homens do Amanhã, como uma fonte confiável para quem procura saber mais sobre eles.

*(Sobre Joe Shuster, assista a esse pequeno curta-metragem)

Superman: Uma Biografia Não Autorizada desconstrói o ícone através de suas várias personas nos quadrinhos, atualizado de tempos em tempos, além das encarnações em outras mídias. Independente da qualidade ou do sucesso destas adaptações, cada uma delas merece observações e comentários relacionados às decisões de roteiristas e produtores, além do momento histórico em questão.

Para fãs devotados e pesquisadores (que, às vezes, são as duas coisas…)

É perceptível a admiração de Weldon pelo mito moderno representado pelo Superman.  Entre as argumentações, nada muito polêmico ou buscando revolucionar a visão geral. No máximo, os leitores podem discordar dele em alguns pontos, mas é um texto coerente de uma forma geral. Aos que se interessarem pelo livro, é interessante como complemento, ou contraponto, o artigo de Lance Parkin sobre a dificuldade de posicionamento do personagem nos dias de hoje.

É exatamente pela sua carga de informação específica que a obra se destina  a um nicho bastante específico de leitor. É necessário que haja o gosto pelos detalhes enciclopédicos sobre quadrinhos, como datas, equipes criativas, particularidades de roteiro e tudo mais nesta linha. Se você não faz ideia do que significa Era de Ouro ou Era de Prata, entre outros tópicos sobre HQ’s, talvez seja melhor procurar o já citado livro de Gerard Jones antes.

Resenha de Superman Uma Biografia Não Autorizada

O visual do personagem através das décadas. Arte de Dusty Abell.

Os problemas do texto e da edição nacional

Em seu início, Superman: Uma Biografia Não Autorizada passa a impressão de ser uma leitura mais difícil do que realmente é. As descrições das primeiras aparições do Superman, acompanhadas pela informação das respectivas edições e sinopses das aventuras dão o tom do período da Era de Ouro. Qualquer análise psicossocial mais profunda acaba desprezada em favor destes dados.

Vencido esse começo, a organização das informações mantém a leitura agradável, mesmo que a superficialidade se mantenha. Não há como justificar isso por uma suposta proposta do autor, pois alguns assuntos acabam até mais corridos, como se houvesse um limite páginas cuja administração foi desleixada.

Ainda assim, uma fonte de consulta e pesquisa que vale a pena ter à mão, com as maiores esquisitices da Era de Prata e além devidamente catalogadas.  Nada ficou de fora do texto de Weldon, como os desdobramentos do surgimento de Bizarro ou a origem de Cometa, o Super Cavalo. Uma insinuação de aprofundamento se apresenta quando ele compara os diversos reboots que personagem sofreu até a fase conhecida como Novos 52, em 2011.

Infelizmente, o trabalho da Leya também ficou devendo. A primeira edição tem erros básicos como “…a editora Whitney Ellsworth”, sendo que trata-se de um homem, até traduções que ignoram as publicações regulares dos personagens no Brasil. O termo “redator” aparece no lugar de “roteirista”, entre outras bobagens que mostram descaso com a revisão. Algo observável, infelizmente, em vários outros livros recentes de editoras diferentes. Homens Difíceis, da Aleph, é um caso.

Coroando a tarefa  mal feita, entre as páginas 162 e 167, o leitor se depara com algo que parece obra do Sr. Mxyzptlk. Em todos os momentos que a palavra “Super” deveria aparecer, ela está trocada por “O’Neil”, uma confusão que parece ter a ver com as menções aos roteirista Dennis O’Neil. Difícil de entender ou imaginar? Só pensar que, durante cinco páginas, o nome do herói aparece por todo canto como “O’Neilman”.

Ainda relevante?

Julgar a importância atual de um personagem como esse vai de cada um. Conjecturar sobre seu futuro é algo ainda mais particular. Óbvio que muitos vão se apoiar nos fracassos cinematográficos para argumentar que ele já era, mas a resposta não é tão simples. Superman: Uma Biografia Não Autorizada é uma boa oportunidade para quem quiser encarar a reflexão.

Mesmo que se discorde das afirmações mais pessoais de Glen Weldon, as informações e a linha do tempo, no mínimo, ajudam o leitor a criar um juízo e um raciocínio claro sobre o Superman enquanto conceito. Exatamente por isso é que deve ser lido e comparado com outros trabalhos similares que, esperamos, sejam traduzidos para o português em breve. Ainda que você esteja entre os críticos ferozes do escoteiro azulão, não deve deixar de ler.

Mas quem ainda se emociona com a o tema criado por John Williams vai curtir bem mais!

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