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Sombra do Paraíso – Feito para o cinema!

David S. Goyer

David S. Goyer

Nome forte de outra mídia como co-autor de um romance… Ótimo negócio! Impossível dizer o quanto do texto coube a cada um dos responsáveis, mas atire a primeira pedra quem nunca teve a impressão que o tal famoso só lançou uma ideia e entrou como grife, afinal, quem vem em seguida nunca é tão conhecido quanto. Pelo menos, o público está garantido, nem que seja apenas pela curiosidade, e assim como Guillermo Del Toro juntou-se a Chuck Hogan para sua Trilogia da Escuridão, David S. Goyer trilhou exatamente o mesmo caminho, acompanhado por Michael Cassut.

Michael Cassutt

Michael Cassutt

Goyer é bem conhecido no mundo do cinema, associado a várias produções envolvendo super-heróis. Embora não tenha deslanchado como diretor, foi co-roteirista da trilogia do Batman de Christopher Nolan, com quem também trabalhou na história de O Homem de Aço, entre vários outros, assumindo também a função de produtor em ocasiões diferentes. Michael Cassutt é um veterano da TV, com créditos nos roteiros e na produção da segunda versão de Além da Imaginação e Barrados no Baile. A diferença principal entre eles é que Cassutt tem experiência como autor de ficção científica, então os dois se juntaram para criar uma trilogia, cujo primeiro volume, Sombra do Paraíso (Heaven’s Shadow, 2011), acaba de sair no Brasil pela Aleph.

Sombra do Paraíso - Aleph

Sombra do Paraíso – Aleph

Em 2016, a descoberta de um astro aproximando-se da Terra reinicia a corrida espacial, com a NASA de um lado e a coalizão Rússia/Índia/Brasil do outro. Classificado como NEO (Near Earth Object, Objeto Próximo à Terra em português), o astro é batizado de Keanu em referência ao filme Matrix, e uma aterrissagem em sua superfície para avaliação se torna o objetivo de ambos os grupos.  A uma premissa que lembra Encontro com Rama, de Arthur C. Clarke, Goyer e Cassutt adicionaram dramas muito pessoais aos personagens, criando um contraste interessante enquanto intenção, porém ineficaz como execução. O drama do comandante da missão norte-americana, Zack Stewart, é carregado de clichês, que até seriam perdoáveis, não fosse a previsibilidade – assustadora – do surgimento e desenvolvimento de seu dilema em Keanu até o fim. Somando isso a caracterizações estereotipadas de vários personagens (não soa estranho um astronauta brasileiro bonitão, cuja irmã já foi modelo da Victoria’s Secret?), além de atitudes completamente inverossímeis diante de algumas situações, Sombra do Paraíso apenas insinua alguns conflitos interessantes ao longo da narrativa, que acabam frustrando por não terem o impacto que prometiam, ou mesmo, em alguns casos, mostrarem-se inúteis para a história.

As edições originais da Trilogia!

As edições originais da Trilogia!

Por deixar claro que se trata de uma trama de primeiro contato, o livro começa estimulando nossa curiosidade, mas depois se arrasta por mais de quatrocentas páginas, onde o mais interessante é o aparente cuidado com procedimentos de viagens espaciais calcadas na tecnologia e leis da física do mundo real, além da terminologia utilizada. Felizmente, para o leitor mais curioso, existe esse atrativo, o que não deixa de ser irônico, pelo esforço maior dos autores em conferir um desenvolvimento mais profundo de personagens, dentro de uma ficção científica. Esse aprofundamento parece mais uma exigência de mercado, mirando desde o início uma adaptação cinematográfica com dramas palatáveis ao grande público, ao invés de questões realmente complexas que a literatura do gênero já produziu e ainda tem fôlego para muito mais. Exagero? Não parece, quando abrimos o livro e nos deparamos com uma lista de personagens e suas respectivas funções, algo que deve estar lá para poupar o trabalho dos produtores. Outra evidência é que a Warner já detém os direitos da adaptação, com Goyer como roteirista do primeiro filme. A conveniência da citação a Matrix, também da Warner, é algo difícil de encarar como puro acaso.

Não é impossível que se transforme em um bom filme, que faça sucesso e que Heaven’s War (2012) e Heaven’s Fall (2013) ganhem suas adaptações, fechando mais uma trilogia cinematográfica. É o que sobra para Sombra do Paraíso, cujas pretensões como literatura – se existiam – não vão muito longe, talvez por haver sido concebido com outra mídia em mente. Ajudaria muito se percebêssemos um esforço legítimo dos autores, ou apenas de David S. Goyer no caso, em agir como escritor ao invés de roteirista. No entanto, se o objetivo era apenas criar mais uma marca “transmídia”, mantendo-se empregado por uns bons anos, acertou na mosca.

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