Um gótico estilizado e moderno pontua O Réquiem do Pássaro da Morte
O que define um livro gótico? Sua temática obscura, seus personagens sombrios, tristes e vazios? Vampiros? A donzela em perigo contra o cavaleiro negro misterioso, que aparece no momento oportuno? Sim? Não? Talvez? Não sabemos, pois são muitos os clichês e costumes desse gênero.
Mas e se, por uma obra do acaso(?), um jovem escritor gaúcho resolvesse recriar um Brasil gótico, onde o sobrenatural se fundisse com a poesia e personagens históricos fossem adicionados, junto com uma casta de jovens sombrios, donzelas nada inocentes e um pássaro misterioso? Pois é isso que Andrio Santos nos traz através de seu romance ou, sua torre negra, como ele mesmo diz. O Réquiem do Pássaro da Morte é tudo isso e muito mais – é uma ode ao gótico, a poesia e ao sobrenatural.
Narrado em primeira pessoa pelo nada convencional Douglas Gioreli, um poeta em decadência, que após seu último poema deixou sua antiga profissão…. Até que Anatole, carinhosamente chamado também de o Pássaro da Morte, aparece e lhe faz uma revelação: seu último poema criou vida, e está bem louco por aí causando um caos no tecido da realidade.
Até aqui tudo bem pois, com o emissário do além – o pássaro morto vivo ao seu lado – nada está perdido, por que afinal, o que poderia dar errado? Aí é que nos enganamos: Anatole recruta Douglas para uma caçada ensandecida, para que juntos possam recuperar Safira, musa inspiradora que irrompeu das páginas para o mundo real, tornando a caçada um tour em uma terra permeada pelo sobrenatural, pela poesia maldita, amores infernais, amizades que vão além do espaço tempo e fantasmas do passado – ou seriam do presente?
Referências no gênero
Nessa incrível aventura sombria, somos presenteados por referências que vão desde Mary Shelley a Lovecraft, passando – é claro – pelo rei da literatura policial sombria: Edgar Allan Poe. Esse último parece permear as páginas dessa canção maldita, cuja qual é cantada por diversos personagens coadjuvantes, que são tão interessantes que com certeza fariam qualquer livro de horror gótico ser muito mais interessante do que o normal, porque pelo modo como o autor os trata, cada qual é sombrio e misterioso que o outro.
Alguns mistérios valem ser citados, sendo o principal, é claro, o do Pássaro da Morte e seu incrível poder de metamorfose, que vai de homem a pássaro em um beliscar de bico! Trocadilho interessante, não é mesmo, caro leitor? Pois bem, não posso dizer que Andrio tenha enchido suas páginas de trocadilhos marotos, mas segundo ele mesmo, o escreveu pensando como se o livro fosse uma poesia, algo que pudesse ser passado de geração em geração de forma oral, pois suas páginas são as mais belas que já li, e que, com toda a certeza, você também irá ler.
Em uma obra que usa o exército de palavras como se fossem cantores líricos, temos diversas divagações e frases de Douglas, mas uma apenas me fez parar e refletir durante a leitura: “Quando você se sentir exposto, nu diante do mundo, é quando saberá que vive“.
Trama para o leitor definir
Durante a leitura podemos notar diversas mensagens nas páginas, mas a maior delas é a de que você pode sim externar suas ideias, fazer com que algo criado dentro do seu subconsciente possa se externar e ser algo positivo – ou não, pois na terra em que o réquiem é tocado, nada é o que parece. Repararam que enrolei e enrolei, e não falei muito sobre o enredo, e detalhei apenas Anatole?
Pois então, parece que uma certa senhora da cidade dos relógios, ou a Deusa de tempos passados não me permitiu. Convido você, que está lendo esse texto, a conhecer a obra, pois a mesma se encontra em Kindle e recentemente foi financiada em uma campanha coletiva no Catarse, então procurem e façam dessa aventura, desse réquiem, dessa canção algo a mais além de um livro.