Aproveitando o lançamento do filme Jurassic World (confira nossa crítica), a Editora Aleph publicou uma nova edição de Jurassic Park, livro que deu origem à franquia cinematográfica iniciada por Steven Spielberg.
Escrito pelo estadunidense John Michael Crichton em 1990, o título ganhou adaptação para as telonas três anos depois. Crichton formou-se em medicina pela Harvard Medical School, mas ficou famoso por seus trabalhos na literatura e no audiovisual. Além de escritor, ele também era produtor de filmes, séries (foi o criador de ER – Plantão Médico) e até se arriscou na direção – Crichton dirigiu o filme Coma, adaptação do livro homônimo de Robin Cook, que também era médico.
Em Jurassic Park, estamos em uma corrida industrial da engenharia genética. Várias empresas investem em pesquisas para poderem manipular, literalmente, os componentes básicos que formam a vida. Então, uma das empresas mais vorazes nessa busca, a International Genetic Technologies (InGen) descobre uma técnica de recuperação e clonagem de DNA de seres pré-históricos. Com recursos praticamente ilimitados, o ambicioso e megalomaníaco John Hammond decide utilizar essa nova técnica para recriar dinossauros e montar um parque temático com esses fascinantes e extintos animais.
A narrativa começa preparando um pano de fundo muito interessante através de seu prólogo, que fala da evolução da biotecnologia – nessa parte, a graduação de Crichton ajuda, e muito, na credibilidade da escrita – e mostra alguns incidentes com pessoas que foram mordidas por animais estranhos. Tudo isso ajuda a construir um clima de thriller muito bom com duas linhas de suspense: a da espionagem industrial e outra sobre os estranhos eventos relacionados às mordidas.
A história em si começa quando um grupo é selecionado para inspecionar o parque. Neste grupo, encontra-se o paleontólogo Alan Grant, a bióloga Ellie Sattler, o matemático Ian Malcolm e as crianças Tim e Lex Murphy, netos de John Hammond. Seguimos os personagens explorando o parque até a metade da narrativa, e é nesse segmento que o leitor mais aficionado por ficção-científica enche os olhos.
Todo o processo de recriação dos dinossauros e as falas de Alan Grant fazem qualquer um, que tenha certa curiosidade sobre o mundo jurássico, virar as páginas sem perceber o tempo passar. Mesmo que estudos recentes invalidem muita coisa descrita por Crichton, tanto em termos genéticos quanto taxonômicos, a leitura é muito fluida e instigante. As próprias falas de Malcolm sobre a Teoria do Caos aplicada no parque são um dos pontos mais interessantes do livro, mesmo que inseridas de maneira forçada dentro da história. Afinal, não faz muito sentido o matemático estar alí. Ian Malcolm serve mais para Crichton poder falar sobre Teoria do Caos do que como elemento narrativo.
Os problemas da história começam justamente quando os dinossauros escapam e perseguem os protagonistas. Pode parecer estranho, já que o fator aventura deveria ser, supostamente, a melhor parte. A questão é que o autor não consegue criar uma tensão literária capaz de gerar uma reação no leitor. A descrição dos momentos de ação é muito imagética, de modo que percebe-se que um filme seria muito mais eficaz nesse sentido – Spielberg manda lembranças. Diferente da primeira parte do livro, Crichton utiliza pouco os recursos da linguagem literária, tornando a leitura cansativa.
Outro empecilho é que muitos personagens estão lá de maneira gratuita. Além daqueles que servem unicamente como alimento para as feras, as crianças existem na trama apenas para gerar tensão maior – pois é muito mais assustador uma criança correr de um dinossauro do que um adulto, não é mesmo? Os personagens mirins também são descritos de uma maneira muito ingênua e que destoam da narrativa. A garotinha Lex, de 9 anos, grita de desespero ao ver um dinossauro, só que no instante seguinte reclama que está com fome ou que ficar lá escondida com os outros esperando o animal ir embora ”está muito chato”. Esse tipo de reação, além de inverossímil, atrapalha a fluidez da leitura.
O clímax do livro também traz um problema. Na verdade, o clímax é composto por toda a segunda parte da obra. Desde o momento que o primeiro dinossauro escapa até a última página, não temos uma divisão de atos muito clara e isso faz com que qualquer chance de catarse deixe de existir. Tirando a quantidade de páginas que restam, não há um ritmo na história que faz com que saibamos que o final está chegando. O impacto climático de verdade acontece apenas no epílogo. Além de mostrar as causas dos fenômenos ocorridos no prólogo, este capítulo bônus ainda dá um gancho muito interessante para a continuação O Mundo Perdido – cuja qualidade é muito questionável.
Apesar de seus problemas narrativos, Jurassic Park é divertido e possui o grande trunfo de ter trazido para o imaginário popular o encontro dos seres humanos com os dinossauros. Por mais que outras histórias de ficção tenham colocado o homem junto desses monstros jurássicos, Crichton o fez de uma maneira mais ”plausível“, utilizando a biotecnologia ao invés de uma terra inexplorada ou a – sempre presente – viagem no tempo.