O movimento fantástico no Sul – Você achava que no Rio Grande do Sul só tinha churrasco?
Enganou – se. Na terra onde o inverno de -5º é verão e verão é inferno, também existe um grande movimento fantástico de literatura, quadrinhos e da arte em geral, que traz referências que vão de Edgar Allan Poe até os autores mais contemporâneos.
Mas o assunto em si é bastante abrangente, e se eu fosse realmente listar todos os autores, autoras, músicos e desenhistas desse estado, os editores deste site iriam ter que reservar algumas semanas para a publicação de vários artigos. Tendo isso em vista, irei falar apenas das obras que mais me impactaram quando resolvi me aventurar por um outro lado do Rio Grande, que até poucos anos eu não conhecia.
Brasiliana Steampunk – Literatura clássica com vapor
Conforme já falado pela minha pessoa em um texto anterior para o Formiga Elétrica, Brasiliana Steampunk – toda a obra, e não somente o primeiro livro – é um dos grandes expoentes da literatura fantástica nacional. A grande sacada de Enéias Tavares, escritor de Santa Maria, é a inserção de personagens clássicos, “à lá Alan Moore”, em um contexto steampunk de um Brasil que nunca existiu, onde toda a tecnologia fora evoluída do vapor!
Okay, steam = fumaça, punk = galera muito doida. Mas um livro apenas? Não! A proposta desde o início para a série, é que sua narrativa seja contada em diversas mídias, e não somente nos livros. No ano de 2016, juntamente com uma empresa de São Paulo, Potato Cat, Enéias tenta uma ideia interessante para os parâmetros gerais da literatura: transformar sua narrativa em um universo expandido de boardgame.
O jogo foi idealizado pelos proprietários da Potato, que contém diferentes tipos de personagens – alguns inéditos, e outros já conhecidos do público que acompanha o livro. Com mais de 200 cartas, os viajantes de Porto Alegre dos amantes podem alternar entre times, hora sendo vilões, e outra hora sendo heróis, por diversos cenários, com as mais diversificadas e interessantes missões.
Continuando sua proposta transmídia, e aproveitando o gancho de ser professor da UFSM, o autor, juntamente com sua equipe, elaborou o suplemento escolar de brasiliana. Um cartaz informativo destinado a crianças jovens e até mesmo adultos, com arte de Karl Fellipe e diagramação de Jessica Lang, o complemento por si só já seria uma excelente obra de arte; onde normalmente se espera um padrão institucional, há uma bela obra de arte, digna de quadro.
Quer mais incauto leitor? Pois bem, a mente pensante de Enéias Tavares nunca pára: ainda existe um tremendo áudio-livro, onde o primeiro volume da série é totalmente adaptado para ser ouvido, sentido e imaginado. Como se não bastasse tudo isso, a série ainda tem um suplemento de RPG e pasmem: no final de 2017, foi anunciado a produção de uma web-série live action de Brasiliana, onde, pelo que pudemos saber até agora, serão histórias exclusivas, saídas direto das caldeiras de Brasiliana Steampunk!
Metalmancer: heavy metal e bruxaria
Imaginem que o que é bom, consegue ficar melhor ainda quando se misturam dois ótimos temas: música e bruxaria… Mas não aquela bruxaria comum – coisa do capiroto mesmo!
Com os conhecimentos malditos de Andrio Santos (de O Requiém do Pássaro da Morte) e o traço medonho da vampira necromante, Jéssica Lang, a proposta do quadrinho Metalmancer é a seguinte: pegar os elementos mais controversos e os largar em um universo permeado por headbangers e satanistas – com o diferencial de que sua personagem principal, Vitória, é uma necromante headbanger. Mistura interessante, não?
Mais interessante ainda é a trama, onde a necromante Vitória se vê entrincheirada em uma situação em que demônios que escaparam do inferno estão caçando os headbangers… mas por quê? Seria uma trama do próprio Príncipe das Trevas (não estamos falando de Ozzy Osbourne, ainda.), ou o que? Só lendo as páginas infernais para descobrir.
Agora um parêntese para a arte de Jessica Lang. Já conhecida pelos trabalhos em Brasiliana Steampunk e participações em outros projetos, aqui podemos ver a constante evolução em seu traço, onde, por ser uma temática com a qual já está habituada (música e coisas macabras), se vê uma liberdade em trabalhar com cores, luzes e sombras específicas que ajudam na ambientação.
As referências ao heavy metal, muito bem retratadas no traço infernal, são como passear pelo quarto de um adolescente fã de Dio, Iron Maiden, Judas Priest e toda a corja maldita dessa música infernal que amamos.
Bem, alguns odeiam, mas nesse caso, eu só espero que Vitória permita que os demônios os carreguem para as profundezas abissais do inferno do nosso senhor e salvador Lúcifer.