Dylan Thomas e seu poema mais famoso
Hoje é o Dia Mundial da Poesia. E, para comemorar, resolvemos trazer para vocês a história de um dos poemas mais conhecidos do século XX e de seu criador, Dylan Thomas. Afinal, se é para comemorar, temos que comemorar em grande estilo.
“A poesia pode romper câmaras seladas de possibilidade, restaurar zonas entorpecidas ao sentimento, recarregar o desejo”, escreveu Adrienne Rich quando contemplando a função da poesia. “Na medida em que a poesia tem uma função social, esta é despertar os adormecidos de outra forma que não o choque”, disse Denise Levertov ao assertar sobre a natureza da poesia.
(Falando em poesia, confira também a resenha da biografia de Charles Bukowski)
Poucos poemas fornecem um tamanho despertar para a abertura das possibilidades como Do Not Go Gentle Into That Good Night – uma ode arrebatadora à tenacidade inabalável do espírito humano, cunhada pelo poeta galês Dylan Thomas (1914–1953).
Escrito em 1947, a obra-prima de Thomas foi publicada pela primeira vez no jornal literário italiano Botteghe Oscure em 1951, e logo foi incluída na sua coleção de poesia de 1952 In Country Sleep, And Other Poems. No outono do ano seguinte, Thomas – auto-descrito como “um poeta barulhento, bêbado e condenado” – bebeu até entrar em coma alcóolico durante uma turnê de leituras e palestras nos Estados Unidos, organizada pelo poeta e crítico literário americano John Brinnin, que depois se tornaria uma espécie de biografo de Thomas.
Naquela primavera, é famosa a história sobre Brinnin pedindo para sua assistente, Liz Reitell – que teve um romance de três semanas com Thomas – para trancar o poeta em uma sala para conseguir manter o prazo de completar o seu drama de rádio, transformado em peça de teatro – Under Milk Wood.
No início de Novembro de 1953, quando Nova York sofreu um pico de poluição do ar que exacerbou sua doença pulmonar crônica, Thomas sucumbiu a uma rotina particularmente pesada de bebida. Quando ele inevitavelmente adoeceu, Reitell e seu médico tentaram administrar os sintomas, mas ele deteriorou rápido. À meia-noite de 5 de Novembro, uma ambulância levou o comatoso Thomas para o hospital St. Vincent em Nova York.
Sua esposa, Caitlin Macnamara, voou da Inglaterra e entrou em uma espiral descendente de bebida quando chegou ao hospital onde o poeta estava moribundo. Depois de ameaçar matar Brinnin, ela foi colocada em uma camisa de força e mandada para uma clínica de reabilitação psiquiátrica privada.
Quando Thomas morreu na tarde do dia 9 de Novembro, ficou à cargo do fundador da New Directions, James Laughlin, identificar o corpo do poeta no necrotério. Apenas algumas semanas mais tardes, a New Directions publicou The Collected Poems of Dylan Thomas, contendo o trabalho que o próprio Thomas considerava mais representativo de sua voz enquanto poeta e, agora, de seu legado.
Legado esse que continua a influenciar gerações de escritores, artistas e gênios criativos: Bob Dylan mudou seu sobrenome de Zimmerman em uma homenagem ao poeta; os Beatles incluíram sua imagem na lendária capa de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band; e, mais recentemente, Christopher Nolan tornou Do Not Go Gentle Into That Good Night, que você pode ouvir abaixo na voz de Michael Caine, uma peça narrativa central de uma das maiores ficções científicas de todos os tempos – Interestelar.
Quando recebeu a notícia da morte de Thomas, a poetisa Elizabeth Bishop escreveu em uma estupefata carta para um amigo:
“Deve ser verdade, mas eu não consigo acreditar – mesmo que eu sentisse durante o breve período em que o conheci que ele já estava trilhando esse caminho… A poesia de Thomas é tão estreita – um conduíte direto entre o nascimento e a morte, eu suponho – sem muito espaço para viver no meio do caminho.”
Em uma outra carta para sua amiga Marianne Moore, Bishop posteriormente cristalizou o gênio singular de Thomas:
“Eu fiquei muito entristecida, como eu suponho que muitas pessoas ficaram, pela morte de Dylan Thomas… Ele tinha um dom incrível para um tipo de comunicação nua que faz com que muita poesia se assemelhe à tradução.”
O poeta irlândes vencedor do Pulitzer e editor de poesia da New Yorker Paul Muldoon, escreveu na edição de 2010 de The Collected Poems of Dylan Thomas:
“Dylan Thomas é aquela coisa rara, um poeta que tem isso nele para permitir a nós, particularmente aqueles entre nós que estão chegando à poesia pela primeira vez, acreditar que a poesia pode ser não somente vital em si mesma, mas também de algum valor em nossas vidas cotidianas. Certamente, não é um acidente que “Do Not Go Gentle Into That Good Night” de Dylan Thomas seja um poema lido em dois de cada três funerais.
Nós respondemos ao sentido nesse poema, como em muitos outros, que a engrenagem, do verso é tão ‘turbocarregada’ e o combustível tão cheio de octano que há uma distinta probabilidade de algo equivalente à uma decolagem vertical. Os poemas de Dylan Thomas nos permitem acreditar que nós podemos ser transportados, e essa crença é transportadora em si mesma.”
Do Not Go Gentle Into That Good Night permanece, de fato, o trabalho mais conhecido de Thomas e seu poema mais amado, assim como o mais redentor – é ao mesmo tempo uma mensagem universal e, em circunstância particulares, de como se tornou um contexto da vida do poeta galês.
No meio dos anos 40, tendo acabado de sobreviver à Segunda Guerra, Thomas, sua esposa e sua filha recém-nascida estavam vivendo em uma penúria a qual mal sobreviviam. Na esperança de obter uma estabilidade financeira, Thomas concordou em escrever e gravar uma série de transmissões para a BBC.
Sua voz imponente encantou o público do rádio. Entre 1945 e 1948, ele ficou comprometido em realizar mais de cem dessas transmissões, abrangendo desde leituras poéticas até discussões literárias e críticas culturais – trabalho que antecipou um número de oportunidades para Thomas, alavancando sua carreira como poeta.
No auge da sua celebridade como astro do rádio, Thomas começou a trabalhar em Do Not Go Gentle Into That Good Night talvez porque sua experiência em transmissões tenha afinado seu ouvido interior com seu ouvido exterior, e instigou nele um sentido ainda mais astuto da sonoridade rítmica da palavra enunciada, ele escreveu um poema dez vezes mais poderoso quando canalizado pela voz humana, do que quando lido no silêncio contemplativo do olho da mente.
Sendo assim, você pode ouvir essa obra-prima narrada em alguma famosas e imponentes vozes.
Confira!
Michael Caine:
Anthony Hopkins:
E, claro, do próprio Dylan Thomas: