É evidente que a maior motivação para ler o livro Drive é a curiosidade que o (ótimo) filme de 2011 gerou, isso se você gostou bastante dele. Caso contrário, é quase certo que vai preferir passar longe do livro. Mesmo assim, seria uma pena. Arrisco dizer que o material original pode cair em suas graças, independente de qualquer coisa, por um simples motivo: Existem grandes diferenças entre os dois.
Escrito em 2005 por James Sallis, que já trabalhou como professor de escrita criativa e de música, terapeuta, crítico literário e roteirista entre outras funções, o livro Drive colecionou ótimas críticas nos Eua durante seu lançamento. Se você ainda não viu o filme, a história gira em torno de um protagonista cujo nome nunca é revelado, sendo referido pelo narrador apenas como Driver, traduzido aqui como Piloto, que trabalha como dublê em filmes que exijam manobras automobilísticas. Isso durante o dia. À noite ele trabalha como motorista de fugas em assaltos.
“Eu dirijo. Isso é tudo que eu faço. Você me diz onde começamos, em que direção devemos ir, para onde devemos seguir depois, em que horário. Não me meto, não conheço ninguém, não ando armado. Eu dirijo.”
A fala do personagem já disse tudo. Depois de se afeiçoar por sua vizinha, que cuida sozinha do filho pequeno, o Piloto conhece o ex-marido dela, recém-saído da cadeia, que o convida para um trabalho. Até aqui, livro e filme são quase iguais. A diferença fundamental está na estrutura narrativa. O livro conta uma história mais fragmentada, fazendo com que o leitor cinéfilo se lembre de Tarantino, também pela ironia, os tipos de personagens e humor negro presentes no texto. Outra grande diferença, que pode frustrar os fãs do tipo de persona criada por Ryan Gosling no cinema, é que temos muitas informações sobre o passado do Piloto, além de alguns vislumbres até sobre seu futuro. Isso não chega a ser spoiler, pois o autor já havia anunciado uma continuação do livro. Se também será filmado, até agora ninguém disse nada.
Com suas poucas 160 páginas e capítulos curtos, o livro Drive pode passar uma impressão errada a quem o folheia na livraria. Mesmo parecendo um daqueles best-sellers feitos para quem tem preguiça de ler, está bem longe de ser superficial. Ágil, moderno e esperto, é uma leitura bastante interessante para quem curte o gênero policial/crime e aprecia personagens sombrios, desajustados e irônicos, na melhor tradição do noir. Ponto para a editora Leya, responsável pela edição nacional. Que venham logo suas continuações nas letras e nas telas*….
*Mantendo Nicolas Winding Refn dirigindo e Ryan Gosling como o Piloto, é claro!