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Clube da Luta Feminista – Divirta-se durante a batalha!

Inteligente e leve, Clube da Luta Feminista convida à reflexão sem esquecer o bom-humor

Muitos leitores, homens e mulheres, fugirão desta resenha pelo simples fato da palavra feminista fazer parte do seu título. Sem problemas. Sabemos que ela ainda causa medo, dúvida e até asco em muita gente. Porém, se a curiosidade for mais forte e você estiver aqui mesmo sendo um fugitivo de carteirinha da tal palavra e seus significados, respire fundo. É possível que você mude de opinião antes mesmo de chegar ao último parágrafo. Isso porque Clube da luta feminista, que tem como subtítulo Um manual de sobrevivência (para um ambiente de trabalho machista), pode parecer um panfleto passional, mas não é. E talvez por isso funcione tão bem.

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A jornalista Jessica Bennett, assim como muitas outras mulheres que buscam conhecer melhor o feminismo por meio de livros e artigos, tinha a cabeça cheia de conceitos e ninguém para compartilhá-los. Daí nasceu o Clube da Luta Feminista que inspirou o livro. Quer dizer, mais ou menos, já que as teóricas e as definições dos múltiplos feminismos foram deixados um pouco de lado. As moças reuniam-se, mensalmente, para trocarem experiências, especialmente as vividas em seus ambientes de trabalho. Na imaginação fértil dos que odeiam o feminismo (mas muitas vezes não sabem explicar o porquê de tanto ódio), esse clube deve ser um grupo de mulheres histéricas, falando mal dos homens e destilando inveja às mulheres com as quais trabalham.

Renderia boas cenas de uma comédia clichê, mas não, as coisas são mais melancólicas que divertidas na vida real. O clube do qual Jessica faz parte coloca em atitudes o que os livros sobre feminismos (sim, no plural, pois são várias subdivisões) trazem em suas páginas. Por mais bem informadas que sejamos sobre termos como mansplaining ou situações onde sabemos que a decisão é culpa do patriarcado e não nossa, nada diminui nossa frustração e nosso medo no ambiente de trabalho, por melhor que ele seja. E Bennet sabe fazer graça de cada situação, sem perder o foco na batalha de tornar as coisas um pouco melhores para si e suas parceiras de luta.

Eis que alguém vai dar como solução um local só com mulheres trabalhando. Desculpe, não resolve. Mulheres também reproduzem atitudes e pensamentos machistas. Clube da Luta Feminista deixa isso muito claro já no seu início, para que o restante da leitura seja um aprendizado prazeroso. Ok, não é tão delícia assim ler que nossos salários ainda são menores e escolher ter filhos influencia mais na hora da contratação do que um diploma. A cada capítulo, Bennett vai nos apresentando situações vividas por ela e por suas parceiras de clube e propondo mudanças de comportamento nada radicais, mas que fazem muita diferença.

Resenha Clube da Luta Feminista

A escritora Jessica Bennett, integrante e divulgadora do clube

Sororidade na prática

Entre os muitos meios de machismo sutis abordados no livro, o mais citado, sem dúvida, é a agressividade como ponto negativo para as mulheres. Entende-se agressividade aqui como abordagens precisas, decisões rápidas e capacidade de organizar grupos para realizar trabalhos de forma mais eficiente. Você resolve tudo, mas se a concentração lhe impede de ter um sorriso agradável no rosto o tempo inteiro, você é perigosa. Vale lembrar de outra publicação que também aborda mulheres que pisaram firme em suas profissões, o ótimo Afiadas, da também jornalista Michelle Dean.

O título se refere ao adjetivo em comum das escritoras que tiveram sua vida e obra analisadas no livro. Ao mesmo tempo que remete a sagacidade e precisão, também pode significar alguém cortante, que fere. Qual você acha que foi o significado escolhido? Sim, não podemos ser espertas demais. O mais triste, e isso é constatado tanto por Dean quanto por Bennet, é que nos falam isso por segurança. A vida da trabalhadora que gosta de ser proativa e que abre mão de alguns elementos ditos femininos (cabelo comprido, saltos altos e até simpatia excessiva) para garantir a praticidade na hora de produzir, é muito mais complicada. Clube da Luta Feminista orienta as leitoras (e leitores) que as coisas só vão começar a mudar de verdade quando nossas reivindicações tiverem força. E isso não quer dizer que devemos falar mais alto. Devemos é falar todas no mesmo tom. Unidas.

Sororidade é uma palavra ainda em falta em muitos dicionários, apesar de estampar camisetas em muitas vitrines. Mas não adianta pagar pela blusinha e julgar a roupa de outras mulheres com o mesmo olhar preconceituoso que tanto execramos nos homens. É no diálogo e na troca que o feminismo acontece e deixa de ser um conceito para ser algo que pode mudar nossas vidas para melhor. Sairemos com algumas cicatrizes, mas valerá a pena.

Assim como todo clube, Clube da Luta Feminista têm suas regras. A primeira delas parodia o filme Clube da Luta, de David Fincher, dizendo que, ao contrário do que proclamava o roteiro que fez sucesso no ano de 1999, você deve e precisa falar sobre o clube. Para sua mãe e suas amigas. Para quem senta do seu lado no ônibus e puxa conversa. Para a sua vizinha antipática que não te cumprimenta no elevador, mas que com certeza já deve ter escutado  tanta ladainha machista quanto você. Ou até deve ter dito, vai saber.

Mulheres ajudam mulheres. Cai o mito (machista) do ninho de cobras. Nos reunimos para motivarmos umas às outras. Pode parecer pouco motivador que seja preciso uma mulher escrever um livro para que isso seja compreendido por outras mulheres, já que todas somos vítimas do patriarcado e isso seria suficiente para termos empatia com a próxima. Mas já que é preciso escrever (e desenhar, pois o livro tem poucos e ótimas ilustrações), vamos encher as prateleiras. Ao terminar sua leitura de Clube da Luta Feminista, coloque as luvas e o protetor bucal. Quando se coloca em prática o feminismo, muitos vão querer vencer por nocaute. Garanta seu cruzado de direita.

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