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Cenas De Uma Revolução – Velho x Novo!

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Sempre foi e sempre será complicado apontar uma data, ou um evento específico, que dá início a algum movimento artístico. Confunde ainda mais quando o tal período em questão tem uma denominação que pegou, mas não tem um manifesto, uma proposta direta ou um conjunto de regras rígidas de identificação. De qualquer forma, aquilo que convencionou-se chamar de Nova Hollywood compreende o fim da década de 1960 e toda a seguinte, ideia que coexiste com vários outros argumentos que adiantam seu nascimento ou antecipam sua morte – ou ambos – em vários anos. Talvez o termo não seja familiar a alguns leitores, mas os filmes que compõem toda essa história certamente o são, como M.A.S.H. (1970), Operação França (1971) e O Poderoso Chefão (1972), só para citar alguns dos mais famosos.

Mark Harris

Mark Harris

Para o jornalista Mark Harris, em seu primeiro livro, foi mais interessante focar em apenas um momento desta trajetória. A cerimônia do Oscar de 1968 teve como concorrentes ao prêmio de Melhor Filme Bonnie e Clyde, A Primeira Noite de um Homem, No Calor da Noite, Adivinhe Quem Vem Para Jantar e Doutor Dolittle e o distanciamento histórico permitiu analisar essa escolha de indicados como um novo pensamento tentando se impor, enquanto o conservadorismo lutava para manter-se. Essa é a linha de raciocínio de Cenas De Uma Revolução (Pictures at a Revolution), lançado em 2008 e publicado no Brasil pela L&PM em 2011.

Bonnie e Clyde

Bonnie e Clyde

Mesmo que o Oscar tenha toda essa importância para o argumento do autor – até nos contornos políticos, já que a cerimônia foi adiada em virtude do assassinato de Martin Luther King – não bastaria ficar apenas nisso para que se compreendesse o que estava em curso ali. Harris aponta o nascimento da Nova Hollywood nos relatos detalhados das idas e vindas destas cinco produções, com Bonnie e Clyde e A Primeira Noite de um Homem como precursores da nova cara da indústria. O primeiro, surgindo na cabeça de dois jovens roteiristas deslumbrados pela nouvelle vague, David Newman e Robert Benton, não mudou apenas a forma como a violência era mostrada, graças ao diretor Arthur Penn, como também provou que não era impossível um ator produzir seu próprio filme, e a carreira do galã Warren Beatty tomou um novo rumo. No caso do segundo, Mike Nichols, egresso do teatro e em seu segundo longa, desafiou as convenções do cinema comercial ao colocar Dustin Hoffman no papel principal, desconstruindo a figura de um personagem que o estúdio imaginava interpretado por Robert Redford, tudo a serviço de uma crítica contundente às instituições tradicionais, muito questionadas naquele período.

A Primeira Noite de um Homem

A Primeira Noite de um Homem

Com No Calor da Noite e Adivinhe Quem Vem Para Jantar, o carismático Sidney Poitier estrelou duas produções concorrentes ao prêmio máximo no mesmo ano. O jornalista analisa os motivos do sucesso do ator negro em uma sociedade tão preconceituosa, além de indicar como esses dois filmes tinham discursos muito diferentes. Se no primeiro o diretor Norman Jewison colocou Poitier como um competente policial ajudando a polícia do Sul dos EUA, e até revidando um tapa no rosto que leva de um dos influentes locais, o segundo tratou o tema do casamento inter-racial da forma mais açucarada possível, pisando em ovos para não desagradar a Academia e não “chocar” o público. O diretor Stanley Kramer mostrou que era um dos que não percebia que as plateias estavam mudando. A pior tarefa coube a Richard Fleischer, a quem a Fox incumbiu de ressuscitar os grandes musicais com Doutor Dolittle, uma temática datada, uma produção atribulada e um fracasso comercial que precisou de muito lobby para chegar à disputa do Oscar.

Sidney Poitier

Sidney Poitier

Cenas De Uma Revolução é um livro obrigatório para quem gosta de cinema e se interessa pelo período. Muito diferente do outro único livro sobre o assunto publicado por aqui, Como a Geração Sexo, Drogas e Rock’n’Roll Salvou Hollywood, de Peter Biskind, ele pode parecer menos interessante pelo foco, mas ganha em conteúdo pela quantidade de informações de bastidores que carrega. Mesmo aqueles que não consideram o ano de 1967 como marco da Nova Hollywood vão concordar que é um trabalho de pesquisa fantástico e completo, assim como um retrato bacana de uma época em que a indústria precisava se reinventar.

Será que demora muito até a próxima revolução?

(Leia também o artigo e assista ao Formiga na Tela sobre a Nova Hollywood!)

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