Baú de Gibis é um deleite para nostálgicos e curiosos
A turma que curte mesmo HQ’s, não importando o gênero, está sempre em busca de curiosidades sobre sua paixão. Falando de Brasil, sempre houve reclamação sobre a pouca oferta de livros sobre o assunto, mas a coisa vem mudando. Com um mercado consumidor como o nosso, o material de pesquisa para autores nacionais com disposição é vasto. Baú de Gibis – Memórias dos Quadrinhos no Brasil é uma excelente iniciativa neste sentido.
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(Confira nosso vídeo sobre livros teóricos sobre Quadrinhos, assim como as resenhas de Marvel Comics: A História Secreta, que também rendeu um podcast, Homens do Amanhã e Superman: Uma Biografia Não Autorizada)
Lançado no fim de 2017 pela editora Noir, o livro compila textos de Marcus Ramone sobre inúmeros tópicos da história editorial brasileira. São artigos que já haviam sido publicados no Universo HQ, onde o jornalista é colaborador regular, atualizados para a edição, entre outros escritos com exclusividade. Sobre a disposição citada no parágrafo anterior, Ramone está acima de qualquer suspeita, o que não é novidade para quem já acompanhava seu trabalho.
A gama de assuntos abordados chama atenção. As páginas de Baú de Gibis se ocupam da trajetória dos quadrinhos dos Trapalhões (assunto de outro livro), séries que migraram para as HQ’s, o estouro do Terror nas bancas brasileiras, personalidades da TV que viraram personagens e a lista é longa. Além do mérito da variedade, chama atenção como o autor consegue desenvolver uma escrita agradável a partir de um tópico, aparentemente, pouco atrativo. É o caso do texto dedicado ao título Heróis da TV, que – muito antes do formatinho com heróis da Marvel – já havia abrigado personagens bem diferentes.
Não há apenas artigos que se ocupam diretamente das HQ’s. O índice mostra uma organização esperta do material, onde estão separados mais dois grupos. Um dedicado às coleções, de quadrinhos ou relacionadas a eles de alguma forma, e outro com curiosidades de bastidores. Os leitores encontrarão o relato de um inusitado crossover metalinguístico entre Hulk e Zé Ramalho, além do empreendedorismo brasuca que deu origem à Família Halley, criada para capitalizar em cima da alardeada passagem do cometa pelo céu terrestre.
Não importa a idade
Evidente que Baú de Gibis tem um apelo inquestionável sobre leitores que vivenciaram algo, ou tudo, abordado em suas páginas. Esse é um valor sólido da edição, que vai arrancar muitos sorrisos enquanto as lembranças fluem. No entanto, os mais jovens também terão prazer em deslizar por esse manancial de informações quadrinhísticas, com o perdão do neologismo. A escrita fluida de Marcus Ramone garante que o fluxo de detalhes se mantenha interessante.
A descontração deste conteúdo é tanta que não há necessidade de ler os textos em qualquer ordem. Mais um fator que valoriza a edição, que nem por isso deixa de ser uma fonte de pesquisa para quem quiser se aventurar pelo mundo da Nona Arte no Brasil.
Poucas ressalvas em um saldo final mais do que positivo
Sobre a diagramação de Baú de Gibis, páginas de revistas utilizadas como ilustração, assim como recortes de jornal, estão pequenos demais. Isso inviabiliza a leitura dos mesmos, forçando o leitor mais persistente a usar uma lente de aumento. Claro que essa é uma reclamação relativa, mas é certo que vários curiosos tentarão ler os textos destas imagens. Sabemos que as dimensões do livro (20,8 x 13,8) não ajudam e que essas figuras talvez ocupassem muitas páginas a mais, mas não deixa de causar uma leve frustração.
A revisão também deixou passar uma ou outra coisa. Nesta primeira edição, o último parágrafo da página 61 traz uma referência ao Sandman de Neil Gaiman como “Orpheus”, quando o correto é “Morpheus”. Na página 117, o quinto parágrafo se refere ao vilão da galeria do Batman como “Baine”, ao invés de “Bane”.
Os deslizes não apagam o brilho da empreitada da editora Noir e a qualidade da escrita de Marcus Ramone. Baú de Gibis – Memórias dos Quadrinhos no Brasil é um banquete para quem busca informação em um formato leve e gostoso de ler. Será que o futuro trará uma Parte II?
Tomara, porque esse baú parece ter muito mais em seu conteúdo…