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As Virgens Suicidas – Cinco garotas interrompidas!

As Virgens Suicidas, uma história de descoberta e tragédia

Em 1999, o mundo descobriu que Francis Ford Coppola tinha uma filha talentosa. Críticas e público perceberam um olhar singular e um talento para criar cenas poéticas em Sofia Coppola (do recente O Estranho Que Nós Amamos) com a estreia de As Virgens Suicidas (The Virgin Suicides), seu primeiro trabalho em longa-metragem. É um belo e tocante filme. Pelo menos é isso que pensamos até termos em mãos um exemplar do livro homônimo de Jeffrey Eugenides. Perto dele, o filme de Sofia é uma pluma de tão leve.

Resenha de As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides

Lançado originalmente em 1993, atualmente no catálogo da Companhia das LetrasAs Virgens Suicidas, traz uma atmosfera de tragédia grega para um bairro suburbano dos Estados Unidos dos anos 1970. Rock, descobertas, sexo e morte estão em cada linha da história de quatro amigos na faixa dos 40 anos que se reúnem para relembrar uma tragédia dos tempos de escola, onde as cinco filhas do casal Lisbon deram fim às próprias vidas no auge da juventude. As irmãs Cecilia, Lux, Bonnie, Mary e Therese, entre os 13 e 17 anos, podem ser definidas como o grande mistério do bairro.

Se outras histórias com o mesmo mote tratam de casas abandonadas e vizinhos sinistros, aqui temos cinco meninas que criaram um mundo próprio devido a rígida educação que receberam dos pais, ambos católicos fervorosos, criando uma aura fantástica em torno das protagonistas. A prosa de Eugenides, que dosa melancolia e angústia, nos coloca diante de quatro garotos que se apaixonam pela ideia que têm das meninas, e não pelo que elas realmente são. Muito do erotismo que eles enxergam é fruto da imaginação. Elas se mostram aos pedaços, atiçando a curiosidade. Se em um adulto isso já desperta ideias, imagine em um adolescente. Isso é transferido para as páginas. Dar uma pausa na leitura é complicado em As Virgens Suicidas. Parece até que a sedução das protagonistas, com suas peles alvas e cabelos loiros, transborda nas palavras.

Várias virgindades

O termo virgem do título não refere-se apenas a questão sexual, mas a outras descobertas. Mais que temer o contato das filhas com o sexo oposto, o casal Lisbon teme os acordes dos discos dos Rolling Stones, os gritos dos filmes de terror, os livros da geração beat. Suas meninas são virgens de experimentar a vida. Se no começo da história elas parecem meninas normais, apesar da pouca interação com os colegas de escola, logo após o suicídio da caçula, Cecília, chegamos ao extremo. Elas são trancadas em casa, seus discos são queimados numa fogueira e nem a televisão é mais permitida. Parece um castigo pesado demais, mas a densidade verdadeira está na dor que não é a do corpo, mas da alma. Um tapa sempre dói menos que uma proibição.

Resenha de As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides

Cena da adaptação dirigida por Sofia Coppola.

O autor demonstra conhecimento das agruras em que o verbo crescer nos coloca. Quando devíamos desvendar quem somos e tentar entender quem são os outros, alguém poda nossas asas. O que sobra para as irmãs Lisbon são prazeres silenciosos, como aparecer na janela para serem observadas pelos vizinhos. Sentem-se desejadas e fazem com que os meninos fiquem mais que excitados. Há algo estranho no ar. Tanto eles quanto elas sabem que um acontecimento fatal se aproxima. Passar a vida presa não está no plano de nenhuma das irmãs. Há que se buscar a liberdade. Neste caso, a busca é nas fontes erradas, mas que pareciam as melhores para as meninas Lisbon.

Eugenides, vencedor do Pulitzer no mesmo ano de estreia do filme baseado em sua obra, traça um bom retrato das jovens, mas seu auge na escrita se dá nos pensamentos dos quatro homens que rememoram aquelas cinco meninas inesquecíveis e como elas permearam a vida deles mesmo que a convivência tenha sido curta, provando que mais que os primeiros amores, os que marcam de verdade são os não correspondidos, os proibidos, os apenas sonhados.

Mulheres são incógnitas. Homens também. As Virgens Suicidas planta a dúvida no leitor e não cobra solução. O “e se…” é o que importa. É ele que torna a vida essa coisa tão complicada e fascinante.

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