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A Noite dos Mortos-Vivos, por John Russo – Que descansem em paz!

Embora estejamos na fonte, livro de John Russo não consegue despertar os mortos em meio ao enfado 

Robert Kirkman, quando começou The Walking Dead, disse que tinha um propósito bastante simples: entregar uma história de zumbi que não acabasse. Porque, segundo ele e inúmeros fãs do gênero, essa era a principal angústia em relação aos filmes: o que acontecia com o mundo depois que aquele recorte era mostrado? Bem, Kirkman não apenas conseguiu isso, como também a proeza de fazer todos ficarmos, na verdade, meio cheios de zumbis. Por isso, um retorno ao básico como A Noite dos Mortos Vivos e A Volta dos Mortos Vivos, lançado pela DarkSide que tem na batuta o próprio escritor que trabalhou com George Romero, John Russo, poderia parecer uma chance de revigorar o interesse pelos desmortos em busca de miolos. Mas não foi bem nossa impressão.

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Como dito acima, são, na verdade, dois livros em um: o clássico que você já conhece, e uma continuação que é bem pouco conhecido, e acabou meio esquecida. No primeiro tomo, A Noite dos Mortos-Vivosum casal de irmãos viaja por quase duas horas rumo a uma igreja. Seu objetivo era, mais especificamente, o cemitério atrás da mesma, onde seus pais estavam enterrados. Johnny, o mais velho, está extremamente mal humorado por ter perdido seu tempo com isso, mas Bárbara está resoluta quanto a prestar essa homenagem aos pais.

O que os dois jovens não sabiam era que, durante sua viagem, por motivos não explicados totalmente, os mortos retornaram a vida, só que em forma de seres irracionais, que querem carne humana. Após descobrirem isso da forma mais trágica possível, Barbara acaba por se juntar a um homem chamado Ben e, juntos com o grupo mais instável e improvável da literatura, irão tentar sobreviver a essa praga que só tem um objetivo: consumir seus corpos.

Em A Volta dos Mortos-Vivos, que se passa alguns anos após o primeiro levantar dos mortos, a sociedade, que em sua maioria já se esqueceu dos acontecimentos relacionados aos defuntos, vive sua vida normalmente, até que, novamente, os mortos se erguem. Dessa vez, acompanhamos uma família que foi rendida por assaltantes nesse ínterim caótico, e a luta dos policiais Dave e Carl para ajudarem as 3 irmãs a se libertarem dos marginais, que só pensam em lucrar em meio a todo o caos com os mortos.

O texto de Russo é dinâmico e até envolvente. O livro sofre de um único problema que, na verdade, não é um problema do livro em si, mas do gênero: não existe nada de novo ou surpreendente aqui. Nada. Eu imagino que o amigo leitor possa estar me acusando de desonestidade intelectual, visto que mesmo este colunista acabou de dizer que trata-se da adaptação de um clássico dos cinemas. Mas retorne ao primeiro parágrafo, e você retomará o problema do gênero já explicitado – nós acabamos de passar por uma overdose de zumbis.

Empapuçados de miolos

No fim, Kirkman estava errado. Existem sim, zumbis demais. A mídia audiovisual – séries e cinema – exploraram o gênero e extraíram dele até a última gota. Mesmo subversões divertidas do gênero, como Zumbilândia, já não parecem interessantes. Mesmo obras genuinamente boas, como Invasão Zumbi, são vistas com desconfiança pelo público antes de serem apreciadas, devido à sobrecarga do gênero. Dentro desse contexto, um livro como o clássico de Russo não exerce a maior qualidade que poderia exercer: seu potencial nostálgico. De lembrarmos de algo que é muito interessante, mas que estava ligeiramente esquecido. E veja, estamos falando do cara que escreveu o roteiro do filme que começou com isso. Pense na ironia: a mídia não permite que esses mortos sejam enterrados, para que eles possam voltar à vida com força total.

Ao contrário, mesmo The Walking Dead – que fez o interesse pelos mortos se renovar – se tornou enfadonho ao ponto de o protagonista pedir para ser morto. O desgaste da fórmula fez com que a grande qualidade metafórica dos zumbis – uma crítica fantástica e sutil aos excessos da sociedade – se diluísse em funkos e filmes fetichistas que emulam porcamente a diversão de um fps (first person shooter). No fim, o livro de Russo sobre os mortos vivos, que ele mesmo ajudou a criar, parece apenas um melancólico epitáfio, lembrando-nos vagamente do interesse e do choque que um dia A Noite dos Mortos Vivos original nos provocou.

Lembrando, caso não tenha ficado claro: o livro é sim bem escrito, e a história, envolvente. Russo não se delonga mais do que o necessário, preservando o impacto de sua narrativa descritiva. Materialmente, o tratamento de luxo dado pela DarkSide só torna a peça mais interessante – toda a parte visual faz com que seja um daqueles itens para se destacar na estante.

Mas nada disso compensa o fato de que o livro se resume a isso: um belo item de colecionador para exibir na estante. Porque apenas os fãs muito hardcore – ou então alguém que viveu numa caverna nos últimos 50 anos e não sabe do que zumbis se tratam – vai conseguir realmente achar o volume instigante de qualquer forma.

Tudo graças aos excessos da sociedade… tão criticados pelos próprios zumbis.

O Mortos-Vivos estão mortos. Vida longa aos Mortos-Vivos.

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