Quatro anos após a chegada do controverso Super Mario Sticker Star ao 3DS e da falta de identidade do jogo ter resultado em pesadas críticas por parte dos fãs, o Wii U acaba de receber sua sequência, Paper Mario Color Splash.
Como não poderia deixar de ser, a recepção do jogo foi cheia de desconfiança por parte dos amantes da versão do bigodudo em papel. E com razão, já que além de ser o último título de peso para o console que a Big N vem matando aos poucos desde o anuncio do NX (agora já revelado como Nintendo Switch), a franquia é alvo de cobranças por ter perdido seu viés de RPG e ter adotado um estilo adventure um tanto discutível e propenso a abandonar o jogador num mundo desinteressante e pouco intuitivo.
Sabendo de tudo isso e tendo adquirido o titulo um tanto receosa, porém confiante na capacidade da Nintendo de se reinventar, procurei dar início as aproximadamente 30 horas de campanha com a mente aberta.
O jogo começa lento e pouco promissor, porém de cara a beleza dos cenários impressiona e minha primeira recompensa foi ver que o carisma dos personagens, do mundo e o charme dos diálogos, todas características que tinham se perdido em Sticker Star, estavam de volta e eram capazes de colocar um sorriso no rosto até dos jogadores mais apegados a antiga tradição de RPG da franquia.
Como em todo jogo do encanador temos uma plot bastante simples, que por si não teria força, mas se vale da habilidade criativa e lúdica dos seus roteiristas para conquistar com maestria a simpatia do jogador. Dessa vez Mario recebe uma carta, ou melhor, um envelope contendo um Toad drenado de suas cores, vindo ilha Prism Island e segue para lá com o companheiro e a Princesa Peach afim de averiguar a situação. Na chegada somos introduzidos a lata de tinta Huey, um companion inteligente e encantador que imediatamente serve de ponte para que os dilemas vividos por cada habitante da ilha devido ao roubo de suas cores se tornem importantes para nós.
Depois do capitulo introdutório as surpresas começam a aparecer numa sequência que prende o jogador a ponto de não querermos largar o controle. Cada capítulo tem uma temática diferente onde nos vemos em ambientes como um circo, hotel, restaurante, consertando um trem para salvar um grupo de Toads e várias outras situações inusitadas.
Em nenhuma delas a jogabilidade é genérica ou previsível como aconteceu em Sticker Star. Aqui o mundo é vivo, dinâmico, respira alegria e bom humor e as interações com o cenário não cansam de adicionar elementos inesperados durante a resolução de cada um dos mistérios apresentados nas fases. Enquanto jogava não apenas me peguei sorrindo, mas cheguei a rir alto várias vezes e sem dúvida o jogo entrou para a lista daqueles com humor melhor elaborado que já tive a oportunidade de conhecer. Nesse ponto infelizmente é mandatório comentar que a falta de legendas em português irá comprometer grande parte da experiência para aqueles que não dominarem bem a língua inglesa.
Apesar de um rápido suspense inicial sobre quem possa ter roubado as cores da ilha e de termos a companhia da Princesa por algum tempo, não demora para que o objetivo padrão dos jogos da franquia Mario se estabeleça. Bowser aparece, a sequestra e se revela mais uma vez como nosso vilão. Porém a jornada para derrotá-lo é bastante diversificada e além de colocar Mario na posição de resolver os problemas dos moradores locais, temos a agradável tarefa de reconstruir a cidade utilizando as cores que vamos recuperando pelo caminho.
Em ambas as situações somos confrontados com puzzles bem mais acessíveis que os do jogo anterior, que chegavam a nos colocar na posição de “adivinhar” soluções algumas vezes sem muito sentido. Outra ótima solução para evitar que aquela frustração dos jogadores presos nos cenários se repetissem foi adicionar a hilária figura de um Toad escondido numa lata de lixo, a quem podemos consultar quando quisermos para receber orientações sobre o melhor caminho a seguir. É importante ressaltar que se trata de algo opcional e os jogadores mais puristas não tem razão para se sentirem guiados na experiência, já que ainda é possível jogar as cegas.
O sistema de batalha é outro ponto onde o jogo cresceu. A primeira coisa a ser notada é que agora as batalhas em turnos, embora não resgatem o sistema de leveling dos RPGs antigos da série, não são mais inúteis. Elas nos recompensam com o aumento de nosso tanque de tinta, essencial para o progresso e também com cards que irão fazer toda diferença nas futuras batalhas com subchefes.
Ainda assim, caso você chegue em algum deles sem a carta ideal para a vitória, é possível fugir temporariamente da luta ou iniciar um mini game que nos possibilita adquiri-la, outra adição muito bem-vinda.
Também é necessário um novo nível de estratégia que dá profundidade a cada luta, pois agora a escolha de uma carta tem impacto na eficiência de todas as outras, e uma má decisão inicial pode custar a vitória. Já nos verdadeiros chefes a Intellingent Systems, desenvolvedora do jogo, optou por repetir o inconveniente sistema de Sticker Star onde determinadas cartas chave continuam sendo essenciais para a vitória. É preciso explorar bem cada canto dos cenários para encontrá-las, porém, a construção dessa vez mais objetiva e até mesmo organizada do jogo não abre mais tanto espaço para que o jogador ignore ou desperdice esses trunfos sem perceber.
Color Splash é um jogo tão variado e rico de possibilidades que se torna difícil cobrir todo seu conteúdo em um review e sempre ficará a sensação de que há mais a ser falado para transmitir a mensagem do quanto a Nintendo foi capaz de acertar em uma serie que parecia definitivamente perdida. Apesar de não atender ao clamor dos fãs dos primeiros RPGs de Mario e se manter essencialmente como um adventure, a IS conseguiu entregar um conteúdo solido e extremamente divertido dentro da sua proposta. Agora cabe a nós jogadores nos desprender um pouco do passado para aproveitar esse grande presente de despedida do Wii U.