Os golpes dos Músculos de Bruxelas extrapolaram os cinemas e atingiram os games de luta
Em 1976, Heavyweight Champ, o primeiro jogo de luta, era lançado pela SEGA no Japão, inaugurando um gênero de games que ainda traria muitas felicidades. Mas foi apenas 8 anos depois, com o lançamento de Karate Champ para os arcades, que a ideia pegou pra valer e começou a gerar jogos para os novos consoles. Nesse ano, uma singularidade do universo não só já havia nascido, como tinha 24 anos e muito provavelmente já alcançava uns 130 graus em seus espacates. Sim meus caros, estamos falando dele: Jean Claude Van Damme, o nosso grande dragão branco. Por falar nisso, a história que adorna esse artigo começa exatamente 4 anos depois, com a estreia do clássico O Grande Dragão Branco.
Karate Champ! Ei, era 1984. O que você esperava?
Esse foi o filme que projetou definitivamente a carreira de Van Damme para o mundo e foi influente o bastante para motivar a desenvolvedora Midway a produzir um game de luta inspirado no longa. Estamos falando de nada menos que Mortal Kombat. E, de fato, o sonho da pequena equipe responsável pelo game, comandada por Ed Boon, não era apenas utilizar os hiperbólicos alongamentos de Frank Dux para imaginar um lutador fictício; era contar com a presença do ator no desenvolvimento e digitalizar seus movimentos e aparência para um dos lutadores.
Nascia assim, Johnny Cage, que a princípio seria o protagonista. Mas Van Damme, na época, devido ao sucesso de Dragão Branco, não teve agenda pra entrar no projeto, e a ideia de um projeto assim a longo prazo lhe desagradava. A história foi modificada para que Liu Kang assumisse essa função e outro ator deu vida as piruetas do canastrão de Mortal Kombat. Mesmo assim, apesar da parceria não ter sido estabelecida, a ideia de criar um jogo baseado em Van Damme não foi em vão, pois Cage ainda foi inspirado nos conceitos criados ao redor do ator.
No mundo do jogo, o personagem é um ator de filmes de artes marciais e um dos principais heróis – além de ter golpes muito parecidos com os que Van Damme usa em O Grande Dragão Branco, incluindo o famoso e criminoso espacate com soco nos países baixos (porque ele é belga. Países Baixos? Ahn? Ahn?). Dói só de pensar! Não é exagero dizer, então, que o nosso belga kickboxer é o material humano diretamente responsável por influenciar a temática geral de um dos maiores títulos de luta do mundo dos games.
O original
A imitação
Já tá bom demais, né gente? Seu Van zerou a vida nessa, certo? Nada disso, senhoras e senhores!
Pois, bem antes de Mortal Kombat, em 1987, surgia o que muitos consideram a principal franquia de jogos de luta de todas, Street Fighter. Só que o sucesso para ela só viria com a continuação lançada em 1991, Street Fighter II, que, por sua vez, tornou o gênero de luta um dos líderes absolutos em consoles e arcades na época. Pois eis que surge a ideia da adaptação do game para as telonas – um mecanismo que não dá certo até hoje. O plano era tirar o foco de Ryu e Ken como protagonistas, para favorecer Guile, oficial das forças aéreas americanas, detentor de voadoras vertiginosas e uma simbólica e patriótica tatuagem dos “Esteitis” no braço. Um deleite para Hollywood certamente, mas só havia um homem capaz de protagonizar esse filme como Guile: o quebrador de tijolos que não revidam, Jean Claude Van Damme. O festival circense-marcial que é esse filme estreou em 1995.
Dessa forma, temos um ator belga interpretando um personagem americano em um filme baseado num jogo japonês. Mas quando os seres humanos criam perversões como esse filme, o universo faz questão que a roda gire por completo. E o signo da bizarrice brilhou quando, no mesmo ano, lançaram Street Fighter: The Movie, o jogo do filme baseado no jogo, que tem como protagonista um ator cujo filme de luta inspirou um jogo de luta, que inspirou um outro jogo de luta, que virou filme, com o cara que inspirou a inspiração do jogo que estava virando filme como protagonista do jogo. Entendeu?
Yeap. Isso existiu mesmo.
É claro que não. E não importa. O fato é que a imagem e os golpes matadores do maior dos atores-bailarinos da Terra foram finalmente digitalizados para os games de luta – certamente uma facada no coração dos desenvolvedores de Mortal Kombat. Mas a vingança é prato que se come com voadoras (?), e não é preciso lembrar que nem o filme e nem o jogo caíram nas graças do público; fato normalmente também lembrado para lamentar que a despedida do grande Raul Julia deste mundo tenha sido com essa desgraça. Mas ninguém irá negar que são capítulos notáveis na história de Street Fighter e dos games de luta como um todo.
O homem que dançou com Gugu e Gretchen, chutou o queixo de Jô Soares e voou em aventuras selvagens ao lado do Comandante Hamilton (lê-se Amílton tá?!) é um grande expoente nos games de luta, tendo participação importantíssima naquelas que são consideradas duas maiores franquias do gênero.
Que homem, meus caros! Que bailarino!