A thatgamecompany mudou o que nós entendíamos por “arte” em jogos eletrônicos com flower e Journey, ambos games muito aclamados pela crítica. Não é por acaso que Abzû se assemelha muito com a experiência e até mesmo com as mecânicas de Journey. Após sair da antiga desenvolvedora indie, Matt Nava fundou seu próprio escritório, a Giant Squid. Justamente, seu game de estreia é o assunto dessa análise.
Quem já jogou os títulos já citados, sabe que se tratam de experiências pautadas pela sinestesia vinda do gameplay. Ou seja, Abzû não é de forma alguma um jogo de narrativa, com objetivos claros que visam guiar o jogador até a conclusão. O game começa com seu protagonista sem nome, um nadador humanoide, já no meio do oceano. Ao testar os controles para mergulhar no fundo do mar, o jogo se transforma a cada minuto.
Impossível não ficar impressionado pelo poderio visual do game que aposta em texturas lisas e design minimalista dentre a quantidade massiva de cores vindas dos incontáveis cardumes de peixes que encontramos já nesse primeiro cenário. Ali, o jogo define suas regras apresentando o botão de ação que faz o personagem soltar um ruído muito similar com o que o protagonista de Journey faz.
As similaridades não param por aí. O espectro de Journey ronda a experiência quase que em sua totalidade. Obviamente, por se tratarem de propostas similares, não significa que o jogo é um plágio sem mérito algum, pois não é disso que se trata. Enquanto exploramos as áreas razoavelmente grandes e nos acostumamos com os controles um tanto complexos de navegação – após alguns minutos, é possível dominar bem o personagem, descobrimos pequenas naves submarinas que acompanham Abzû durante a jornada e até auxiliam na abertura de alguns portais para as próximas fases do jogo.
Aliás, todo o roteiro é bastante lógico e estrutural, apesar de tentativa de ser um jogo fora dos padrões. A sequência é sempre a mesma: exploramos uma grande área, resolvemos um puzzle para a abertura de uma câmara menor cheia de corredores, nela descobrimos um pouco da história do jogo através de hieróglifos gravados nas paredes, para então cairmos em uma correnteza de formato on-rails até chegarmos em outra câmara obscura cheia de tons frios e sombrios. Dali, caímos para outra dimensão, ativamos um mecanismo que magicamente torna o ambiente inóspito em algo cheio de vida e alegre outra vez. Repetimos esse processo 4x até fecharmos o game que dura por volta de 130 minutos.
A cada nova fase, descobrimos mais da história que é aberta totalmente para a sua interpretação, mesmo que seja fácil entender bem o que os desenvolvedores tentam transmitir aqui. É algo simples, belo e sombrio de mensagem poderosa culminando nos minutos finais absurdamente maravilhosos da jogatina.
A razão é muito simples: o jogo é extremamente eficiente em sua proposta. Ele faz com nos maravilhemos com a interação com a vida marinha, ao nadar ao meio de cardumes e até mesmo sobre peixes maiores. É mesmo mágico graças a atmosfera encantadora da forte trilha musical clássica de Austin Wintory que guia o jogo inteiro, além dos gráficos maravilhosos e da engine que comporta a quantidade massiva de peixes nadando em diversas direções ao mesmo tempo. Obviamente, a paleta de cores, além de muito variada, sempre denota o clima leve ou depressivo das fases. É de encher os olhos, literalmente.
Abzû certamente não é um jogo de grande público. É preciso que goste de games que apostem mesmo em experiências desse gênero de jogos. Se gosta de flower e Journey, além desse senso de narrativa livre e de exploração intensa, com certeza é o game certo, apesar da certa dificuldade em dominar os controles. Custando por volta de trinta reais, certamente é um ótimo convite para conhecer um dos oceanos virtuais mais belos que verá em videogames.