Ainda é difícil colocar em palavras a experiência que é (e será para você) de assistir Sob a Pele (Under the Skin). Diferente de tudo o que a hollywoodiana Scarlett Johansson já fez, o filme também é uma grata surpresa do diretor Jonathan Glazer. Seus outros filmes mais conhecidos, Sexy Beast, com Ben Kingsley, e seu penúltimo filme Reencarnação, com Nicole Kidman, não chegam perto do que ele apresenta em Sob a Pele. Importante dizer que não estou afirmando preferências ou que um é melhor ou pior que o outro, são apenas distintos.
Se você gosta de classificar o gênero dos filmes, a história de Sob a Pele pode ser uma ficção-científica dramática. A trama é até trivial e tem como cenário uma cidade escocesa, que vamos descobrindo aos poucos através dos sotaques, ruas de mão contrária e etc… O principal personagem, interpretado por Scarlett Johansson é um alien. Acompanhamos sua trajetória rotineira de dirigir uma van pelas ruas, seduzir homens solteiros e levá-los para um lugar misterioso onde se tornam vitimas (não sei definir do que exatamente). E assim caminha o roteiro até ela mudar esta rotina.
A ideia de uma visita extraterrestre foi pauta de inúmeros filmes ao longo do tempo, desde a enxurrada de filmes na metade do século passado, que funcionavam como uma grande metáfora da Guerra Fria, até a exemplos de uma abordagem mais pessoal sobre o assunto, como E.T. de Steven Spielberg, Starman de John Carpenter e O Homem que Caiu na Terra, com David Bowie. Podemos então direcionar Sob a Pele para o lado destes filmes citados.
Sendo assim, vamos às palavras para tentar descrever o que você irá presenciar. Em primeiro lugar, saiba que não é uma narrativa cinematográfica ordinária. Não espere ação, caracterização fácil de personagens (até onde lembro não há nomes, por exemplo) ou trama pautada em surpresas ou reviravoltas. Em contrapartida, o roteiro é linear, o que pode facilitar o entendimento, porém é lento e irá requerer certa paciência. Se você tiver (espero que tenha), possivelmente irá vivenciar o que o filme traz de melhor, uma expressiva experiência visual e sonora.
O primeiro diálogo aparece por volta dos 10 ou 15 minutos de filme. Neste período, pouca informação é revelada e uma composição de elementos é jogada para sua própria interpretação. Não espere por respostas o que, como, quem e porque, pois a compreensão será mais trabalhosa para quem esperar explicações muito claras.
O cenário obscuro, a frieza dos personagens e o ambiente estranho, que me fizeram lembrar os filmes enigmáticos do francês Leos Carax, são traços que definem o estilo do filme e irão te atrair como uma indução hipnótica, da mesma forma que Scarlett Johansson encanta e seduz suas presas como se estivessem sob o efeito de alucinógenos. Neste caso, estou contando com sua boa vontade de entrar de cabeça na ideia e sentir este clima, é claro.
É possível supor que há uma abordagem subentendida sobre amor, sexo e solidão, ao acompanharmos a evolução do personagem de Johansson e ver também sua descoberta do lado humano, ou crise de existência, que inclusive é uma discussão comum a qualquer filme que segue a linha “convivência alienígena na Terra”. Porém até nisso as reações trazem algo diferente e singular. E o desfecho completa com chave de ouro.
Enfim, após os créditos finais perguntei a mim mesmo se o filme é pretensioso ou artístico demais, daqueles que os fãs de filmes de arte adoram valorizar, e cheguei a uma conclusão. O melhor é deixar isso pra lá e aproveitar o que esta rica experiência audiovisual tem a oferecer. Possivelmente você não terá muita certeza do que realmente assistiu, mas sabe que viu algo estimulante.
Abaixo segue o trailer que tenta passar um pouco desta bela viagem: