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As Aventuras de Buckaroo Banzai – Um cult bizarro!

Buckaroo Banzai? Quem é esse cara?

É sempre um desafio para qualquer escritor bolar um personagem que seja crível nas virtudes e nos defeitos, não é? Claro que tudo depende da proposta da obra em questão, mas nosso objeto de discussão aqui é um caso especial. Vamos falar de um filme em que o protagonista é neurocirurgião, físico de partículas, piloto de provas e líder de uma banda de rock. É preciso acrescentar que a tal banda, os Hong Kong Cavaliers, é uma espécie de super-grupo de HQ e é bem provável que eu ainda tenha esquecido de citar alguma habilidade de Buckaroo Banzai.

As Aventuras de Buckaroo Banzai

O pôster estiloso!

Nunca ouviu falar? Se este é seu caso, compreensível. Diretamente daquela década que hoje todo mundo adora, As Aventuras de Buckaroo Banzai (The Adventures of Buckaroo Banzai Across the 8th Dimension) estreou nos EUA em 1984. Só chegou por aqui em VHS e andou pelos Telecines da vida lá pelo começo da década de 2000. Ainda que não chegue a ser obscuro, muito por conta de seu elenco, é aquele tipo de curiosidade fílmica que uma parcela garimpeira do público adora. Com razão, embora eu mesmo não consiga dar uma opinião pessoal e direta se o filme é bom ou não… Continue lendo e entenderá minha confusão.

O protagonista, pela descrição do primeiro parágrafo, já denota uma influência da era Pulp dos aventureiros da ficção. Sabe aquele estilo de herói cientista, com mais especializações que peças de vestuário?* Mais ou menos por aí. Isso faz do filme uma aventura nostálgica e descompromissada? Não necessariamente, pois o caso aqui é uma mistura muito louca de ficção científica (B, é claro), comédia, ação e romance que torce a cabeça do espectador. Bem difícil passar por uma sessão dele e não murmurar (gritar, quem sabe…) “Que P**** é essa?” em algum momento.

*Pensou em Doc Savage? Parabéns! Existem ainda mais referências.

Explicando qual é (tentando, na verdade)

Buckaroo Banzai, vivido por Peter Weller pré Robocop e pagando de galã, é uma celebridade absurdamente competente em qualquer coisa. Em um experimento com seu mentor, Dr. Hikita, ele pilota um carro-foguete equipado com sua invenção, o Overthruster, indo em direção a uma montanha em uma velocidade absurda. Não há colisão, já que a ideia era exatamente atravessar para a oitava dimensão, o que ele consegue e descobre vida por lá.

As Aventuras de Buckaroo Banzai

O bando dos heróis reunido em um final que lembra novela global…

O vilão surge em um experimento similar, realizado em um passado distante. O cientista italiano Dr. Emilio Lizardo, papel de John Lithgow, tentou a mesma coisa, ficando entalado entre as dimensões em uma situação típica de desenho animado. Antes de ser retirado, foi possuído pelo líder dos Lectroids vermelhos do Planeta 10, que viviam na oitava dimensão. Vai ficando cada vez mais estranho a partir de agora.

John Whorfin é o nome do chefe dos Lectroids vermelhos. Sabe-se lá por qual motivo, todos os habitantes do Planeta 10 se chamam John alguma coisa. Continuando a trama, uma vez que que a raça alienígena foi infiltrando-se aos poucos em nossa dimensão, criaram uma empresa de fachada para desenvolver tecnologia – a Yoyodyne Propulsion – que possibilitaria sua volta para o Planeta 10. Não só isso, o retorno também tem o objetivo de destruir os Lectroids pretos, responsáveis pelo banimento dos vermelhos para a oitava dimensão. Está acompanhando até aqui?

Finalmente, eis a tarefa do nosso protagonista. Complicando ainda mais essa premissa, os Lectroids pretos ameaçam destruir nosso mundo apenas para deter Whorfin, então cabe a Buckaroo Banzai e seu grupo derrotar o vilão em um curto prazo. E tome alienígenas com máscaras de borracha e John Lithgow se divertindo horrores com um sotaque hilário.

O roteiro ainda lida com o envolvimento inocente da Casa Branca na tramoia da Yoyodyne e com uma explicação para o episódio histórico da interpretação radiofônica de A Guerra dos Mundos, feita por Orson Welles em 1938. Entre outros tópicos!

As Aventuras de Buckaroo Banzai

John Lithgow em seu melhor momento de supervilão, torturando o herói!

Personagens exóticos em situações idem

Se Weller está no modo “herói canastrão”e Lithgow lembra os cientistas que você vê nos desenhos do Pica-Pau, não para por aí. Outras caras mais ou menos conhecidas marcam presença. Jeff Goldblum (A Mosca) faz o Dr. Sidney Zweibel, colega neurocirurgião que se junta, do nada, aos Hong Kong Cavaliers. O detalhe é que adota o codinome de New Jersey e passa a andar paramentado como cowboy!

Christopher Lloyd é o alienígena John Bigbooté, cujo sobrenome rende piadas dignas de A Praça é Nossa, já que seu líder insiste em chamá-lo de “Big-Booty”. Outro detalhe que deixa tudo mais truncado para o espectador é que os Lectroids alternam em sua forma original e o disfarce como humanos, dependendo de quem os enxerga.

Mais um caso surreal é Ellen Barkin como Penny Priddy. A mocinha aparece na história assistindo a um show da banda do herói em um bar. Ela tenta se matar no mesmo momento, mas sua função na trama é hilária e surpreendente. Depois descobrimos que ela era a gêmea perdida da esposa falecida de Buckaroo Banzai. Através de um diálogo, ficamos sabendo que o rapaz ficou viúvo graças a um vilão.

Existem também colaboradores mais ocasionais do protagonista. Digamos que, na década de 1980, não pegava mal ou causava constrangimento mostrar crianças empunhando armas de fogo.

As Aventuras de Buckaroo Banzai

Os Lectroids vermelhos são descobertos!

No mínimo, muito estranho

As Aventuras de Buckaroo Banzai foi concebido pela mente surtada de Earl Mac Rauth. Com apenas quatro créditos na carreira de roteirista, a curiosidade desta trajetória é que ele também escreveu o grande fracasso da carreira de Martin Scorsese na Nova Hollywood, New York, New York (1977). Seu último trabalho foi a cinebiografia falida de John Belushi, Wired (1989), que teve Michael Chiklis (The Shield) interpretando o comediante.

O diretor W. D. Richter estreou na função com este filme. Dirigiu apenas mais um em 1991, mas trabalhou no roteiro de Os Aventureiros do Bairro Proibido, o crédito mais famoso em uma carreira praticamente inexpressiva. A grande pergunta é se o resultado nonsense da nossa obra em questão é intencional. Esperamos que seja. De qualquer forma, tudo o que foi dito aqui não faz justiça à experiência de conferir o longa.

Independente da impressão sobre o filme, essas ideias de um herói cientista, às voltas com a oitava dimensão e seus habitantes, lembram muito algumas HQ’s que adoramos. Evidente que os recursos da época acabam deixando tudo com cara de galhofa, mas existe um componente muito atrativo nesta “mitologia”.

Já comentei que Immortel, adaptação de uma parte da Trilogia Nikopol, é um tipo bem específico de obra. Daquelas que, se você encontrar zapeando pela TV, parar no canal e acabar dormindo, terá dúvidas no dia seguinte se viu mesmo aquelas imagens ou se sonhou. Se isso for uma qualidade para você, o filme de W. D. Richter pode ser algo inesquecível. Se bem que o adjetivo também serve para casos negativos.

As Aventuras de Buckaroo Banzai, um cult para você adorar… ou não

Em uma escala muito menor, As Aventuras de Buckaroo Banzai passou por um processo semelhante ao de Blade Runner. Fracasso de bilheteria e crítica dividida, criou e manteve uma base fiel de fãs graças ao home vídeo. Curiosamente, outra produção do mesmo ano tem uma aura semelhante, em termos de ficção científica B: Repo Man, de Alex Cox.

A continuação anunciada no final do próprio filme – Buckaroo Banzai Against The World Crime League – nunca entrou em desenvolvimento. E a marca segue viva, propriedade da MGM, com o blu-ray lançado há cerca de dois anos nos EUA.

As Aventuras de Buckaroo Banzai

Buckaroo Banzai nos quadrinhos. O filme foi adaptado pela Marvel na mesma época e a Moonstone o reviveu em 2006.

Também precisamos falar sobre os inevitáveis quadrinhos derivados. A toda-poderosa Marvel lançou a adaptação oficial do longa entre 1984 e 85. Os roteiros ficaram a cargo de Bill Mantlo, enquanto Mark Texeira assinou a arte. Em 2006, a Moonstone reviveu o personagem na minissérie Return To Screw, com texto do próprio Earl Mac Rauth, aproveitando material de um projeto televisivo que não aconteceu.

Em 2013, W. D. Richter disse estar disposto a retornar a esse universo. Há mais ou menos dois anos, Kevin Smith teve seu nome envolvido em um remake em formato de seriado. Segundo ele mesmo, a ideia é recontar os eventos do filme em uma primeira temporada, entregando finalmente a continuação que muita gente espera a partir do segundo ano. Se você gostaria de adquirir o longa em uma edição brasileira, torça para que a série vingue, pois somente assim poderia haver um lançamento em DVD (Blu-ray é pedir demais) por aqui.

Independente disso, Buckaroo Banzai continuará circulando as bordas da Cultura Pop. Muita gente ainda vai descobrir e passar para frente, de uma forma ou de outra. Será que o multi-talentoso aventureiro conseguirá atravessar para a dimensão do mainstream? O tempo dirá.

Mas a boa vontade dos proprietários da marca pode ajudar bastante…

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