Nunca espere de David Cronenberg um filme qualquer. Goste ou não do cidadão, para o bem do cinema, caras como ele existem…
Enquanto na década de 1980 o entretenimento no cinema estava em filmes dirigidos por Steven Spielberg, Richard Donner e Robert Zemeckis, a mente perturbada e visionária do diretor canadense David Cronenberg vinha na contramão criando filmes desconfortáveis como Scanners, Videodrome, A Mosca e Gêmeos – Mórbida Semelhança. Nos anos seguintes, deixou de lado as transformações corporais e as cenas indigestas destes primeiros filmes, mas continuou trazendo experiências ofensivas e de impacto como Crash – Estranhos Prazeres e Spider – Desafie sua Mente.
De uns tempos para cá, alguns de seus últimos filmes como Marcas da Violência, Senhores do Crime, Um Método Perigoso e Cosmópolis tem sido mais toleráveis para o público em geral. Mesmo assim, o diretor continua ultrapassando limites, como é o caso deste aparente drama trivial, Mapa para as Estrelas, que me faz retornar à primeira frase deste texto e dizer, nunca espere de Cronenberg um filme qualquer.
Baseado em um romance de Bruce Wagner, que assina o roteiro também, a história divide sua atenção entre vários personagens complexos, ambientados nos arredores de Hollywood. Agatha (Mia Wasikowska) é uma jovem, com um passado problemático, que acabou de chegar a Los Angeles. Conhece e se interessa por Jerome Fontana (Robert Pattinson), um jovem motorista de limusine que sonha se tornar ator. Ela começa a trabalhar para Havana Segrand (Julianne Moore), uma atriz decadente desesperada para conseguir o papel principal de uma refilmagem de sucesso estrelado por sua mãe, há décadas atrás. Paralelamente, existe o garoto Benjie Weiss (Evan Bird) que atingiu fama e sucesso no cinema muito cedo e aos 13 anos já havia sido internado em uma clinica de reabilitação. Ele tem a atenção total de sua depressiva mãe (Olivia Williams) que cuida de seus interesses e contratos milionários. Seu pai (John Cusack) tenta despontar com livros e treinamentos de autoajuda, mas não vem animando muito o mercado. Assim, estas figuras desenrolam suas vidas perturbadas na terra do glamour cinematográfico americano.
Em um passado recente, você viu o americano Sam Mendes em 1999 virar do avesso os valores de uma família comum em Beleza Americana. Se exagerou ou não, tem muita verdade naquela história, que se fosse transportada para uma família que respira os ares de Hollywood e tivesse o toque “doa a quem doer” de Cronenberg, chegaríamos em Mapa Para as Estrelas. Claro que não é a primeira e nem a última vez que personagens ou famílias disfuncionais hollywoodianas são transportados para as telas. Billy Wilder, por exemplo, já havia sido impiedoso em Crepúsculo dos Deuses, no longínquo ano de 1950. Porém, é inegável que faltava Cronenberg, um transtornado gringo nos EUA, dar o seu toque brutal e pessimista para o tema.
Ao conhecer ao longo da trama os personagens criados pelo autor do romance, e dirigidos por Cronenberg, tenha consciência de que o céu será o limite. Você vai embarcar em uma narrativa de atitudes pouco previsíveis, exageradas em partes, mas divertidas loucuras de comportamento. As neuroses e a superficialidade são expostas sem dó. Tabus sexuais quebrados e cenas que o deixarão desconfortável em sua cadeira… Afinal, estamos falando de um filme de David Cronenberg.
O que temos aqui é uma terrível (no bom sentido) sátira sobre o mundo de Hollywood e está longe de ser um filme de entretenimento. É importante que você saiba onde está pisando, portanto, se você não se intimidar, prepare-se porque este diretor está afiado e sem medo de ser feliz!
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