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X-Men: Fênix Negra – Nada fabuloso, mas funciona!

O final da trajetória dos mutantes da Fox em X-Men: Fênix Negra

Antes de partir para os méritos e defeitos de X-Men: Fênix Negra (Dark Phoenix), algumas considerações são pertinentes. Os fãs que acompanharam o desenrolar da franquia, iniciada em 2000, também testemunharam o passo-a-passo até o domínio dos super-heróis Marvel no cinema. No entanto, a Disney, proprietária dos personagens, teve que engolir por alguns anos a falta de uma das propriedades mais importantes da editora de quadrinhos, licenciada para a Fox muito tempo antes. Para os que não curtiam um tom mais leve e descompromissado, isso era até bom, já que a pegada que definiu os rumos da cinessérie estava um pouco longe disso.

Crítica de X-Men: Fênix Negra

Essa era chegou ao fim com a Disney comprando a Fox, em uma transação que pegou o mundo de surpresa. Sobretudo, os realizadores que tinham produções em curso naquele momento. Neste contexto, nada mais natural que os novos donos queiram fugir da orientação que já estava estabelecida, mas era preciso um encerramento oficial. Eis que a despedida, melancólica para uns e comemorada por outros, ficou nas costas de Simon Kinberg, diretor deste sétimo filme do super grupo.

Se existiu algum tipo de pressão ou ingerência da parte dos produtores sobre ele, não deve ter sido algo tão forte. O primeiro indício é o fato dele escrever o roteiro sozinho, uma raridade neste tipo de produção. Presente na franquia como roteirista e produtor desde o indigesto X-Men: O Confronto Final, Kinberg também encarou aqui o desafio de dirigir seu primeiro longa. Por tudo isso, podemos supor que ele teve mais liberdade que de costume, mas isso é uma faca de dois gumes, até por conta da sua inexperiência.

A boa notícia é que X-Men: Fênix Negra é bem melhor resolvido do que o anterior, o arrastado X-Men: Apocalipse. A começar pela sua duração de pouco menos de duas horas. No entanto, como se trata de uma despedida, também não espere algo tão marcante quanto Logan, fim da linha do Wolverine vivido por Hugh Jackman. Na verdade, nem é mesmo tão bom quanto X-Men 2 ou Dias De Um Futuro Esquecido, bons momentos da carreira de Bryan Singer, mas segura muito bem uma sessão graças ao seu ritmo e um roteiro que investe mais nas relações e dinâmica entre personagens.

É preciso lembrar que, dentro do que vem estabelecido pelo filme anterior, existem detalhes que beiram a ingenuidade. Por exemplo, a aceitação dos X-Men como heróis adorados pelo povo, jogando no lixo o clima que a própria franquia instituiu em seu início. Dentro desta proposta, os mutantes são mostrados em Fênix Negra como um grupo que tem contato direto com o presidente dos EUA, atuando em missões de emergência. É no salvamento de um ônibus espacial, no meio de uma tempestade solar, que Jean Grey (Sophie Turner) recebe uma dose de radiação desconhecida, ampliando seus poderes telecinéticos e telepáticos ao extremo.

A nova condição, agravada por conta de uma personalidade fragmentada em uma infância difícil, acaba revelando segredos e erros de julgamento no passado por parte do mentor dos X-Men, Charles Xavier (James McAvoy). É o incidente que provoca uma cisão no grupo e evidencia as falhas do líder. Enquanto Jean lida com esses problemas, pedindo até ajuda a Magneto (Michael Fassbender), o cerco vai se fechando e os mutantes vão perdendo seu status de heróis. Em paralelo, uma raça alienígena chega à Terra em busca da entidade que possuiu a moça e aumentou seu poder.

Crítica de X-Men: Fênix Negra

Erros e acertos no conjunto

Com um começo interessante, mostrando Jean quando criança em 1975 e sua adoção na escola de Xavier, Fênix Negra de ocupa depois da missão espacial do grupo no presente da narrativa, em 1992. É animadora a forma como a equipe age, onde cada um utiliza seu poder de uma forma lógica na situação, com cada integrante agindo como parte vital. Se você acha que isso é pouco, lembre-se do esquecível Liga da Justiça, onde todos só estavam ali para bater nos inimigos.

A partir daí, o filme segue em suas revelações e conflitos decorrentes que se propõem a afastar o maniqueísmo comum a este tipo de filme. Porém, isso acaba comprometido pelos alienígenas atrás da entidade Fênix, cuja figura principal é vivida por Jessica Chastain. Os D’Bari (fan service para os leitores veteranos da Marvel) estão ali apenas como os malvados da vez e nem demonstram emoções, o que é um dinheiro fácil para a atriz, mas indica a falta de empenho do roteirista.

As motivações são convincentes, o que ajuda a levar a trama em frente e é um mérito a se destacar. Além disso, o filme ainda se beneficia do calibre de alguns de seus intérpretes, o que ajuda a atenuar certas atitudes pouco lógicas tomadas por personagens que deveriam ser mais inteligentes. Nesta seara de motivação/conflito, o longa se segura, ainda que não chegue nem perto do potencial dramático que essa jornada poderia ter. No entanto, além do quesito competência, é bom refletirmos sobre o cansaço e a saturação deste tipo de narrativa. Sobretudo, para quem acompanha de perto super-heróis no cinema há quase duas décadas.

Com cenas de ação que, se não são brilhantes (nem poderiam, já que é o primeiro longa do cineasta), não chegam a decepcionar, existem dois comentários relevantes sobre a parte técnica. A fotografia de Mauro Fiore parece ter sido prejudicada pela conversão ao 3D, escurecendo-a demais. A imprensa brasileira não teve acesso à cópia em 2D, mas é recomendável que você o assista assim, pois não estará perdendo absolutamente nada e ainda vai economizar uns trocados no ingresso. O filme também conta com a trilha sonora do sempre ótimo Hans Zimmer, conferindo um tom que se destaca dos outros filmes.

Crítica de X-Men: Fênix Negra

Poderia ser um desastre, mas…

As expectativas eram baixas, muito por causa do filme anterior. É claro que qualquer fã mais ardoroso gostaria que fosse um encerramento épico, que o fizesse cair em prantos no cinema. Evidente que não é, apesar da premissa e das HQ’s que o inspiraram. Simon Kinberg ainda precisa melhorar muito como cineasta, mas, além dos acertos já comentados, conseguiu um ritmo que salvou o filme de tornar-se cansativo.

Para uma produção que já chegou ao seu público com gosto de último dia no emprego, X-Men: Fênix Negra cumpre sua função de entretenimento inofensivo sem novidades. Resta agora esperar a nova e inevitável encarnação cinematográfica dos mutantes.

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