Genérico? Parece, mas Vida vai além…
Em um momento em que a Fox tem Alien: Covenant (se não viu, veja o trailer) próximo da estreia, o lançamento de um filme como Vida (Life) pode dar a impressão de ser um mero pretexto para lucrar no embalo da franquia de sucesso. Se pararmos para pensar nas premissas de ambos, a produção dirigida por Daniel Espinosa (de Crimes Ocultos) parece mesmo um mero rip-off (se não conhece o termo, dê uma olhada nesta lista), mas essa é uma conclusão precipitada, já que ele tem bem mais a oferecer no conjunto.
(Confira também o Formiga na Cabine sobre o filme)
Ancorado em um contexto mais realista, já que a ação se desenrola na Estação Espacial Internacional, a proposta de Vida é trabalhar mais próximo da verdadeira ficção científica, em comparação ao universo de Alien. Mesmo assim, o componente “terror” é um fator de muito destaque dentro desta narrativa. O incidente que desencadeia esta trama é a recuperação de uma sonda com material do solo de Marte, aguardada ansiosamente pela equipe alocada na estação, comandada por Miranda North (Rebecca Ferguson, de Missão: Impossível – Nação Secreta).
Quando o material chega ao grupo, o biólogo Derry (o desconhecido Aryion Bakare) descobre um pequeno organismo e tem a primeira prova incontestável de vida fora da Terra. O problema é a rapidez com que essas células se organizam, logo formando um sistema reativo a qualquer estímulo. A coisa cresce e essa tripulação terá que lidar com um alienígena hostil a bordo, altamente apto a sobreviver a uma série de condições extremas.
Além do fator científico, o roteiro de Rhett Reese e Paul Wernick (de Deadpool) tenta se destacar dando um pano de fundo mais detalhado a alguns personagens, como é o caso do Dr. David Jordan, vivido por Jake Gyllenhaal (de Animais Noturnos), mas erra a mão no excesso de didatismo. Ao procurar explicar para o espectador o que faz um ser humano querer passar tanto tempo no espaço, acaba subestimando seu próprio público. Melhor desenvolvido é o já citado Derry, felizmente, que parece ter uma função clichê como cientista dentro deste tipo de narrativa, mas o texto consegue surpreender, colocando-o em uma situação mais complexa do que se esperaria.
Completando o grupo, os personagens de Ryan Reynolds, Olga Dihovichnaya e Hiroyuki Sanada, cumprem seus papeis a contento, ainda que o renomado ator japonês merecesse mais espaço e um personagem melhor construído no texto. No entanto, a escalação deste elenco se mostra bem esperta e utilizada a favor da história. É raridade em qualquer blockbuster atual, mas Vida consegue quebrar algumas expectativas.
Um bom diretor, mas pode evoluir
Com um belo plano-sequência, trabalho de câmera conveniente para emular a sensação de gravidade baixa no espectador, Espinosa inicia muito bem o filme. Mesmo lembrando Gravidade, a cena funciona e chama atenção do público. Embora os próximos minutos de calmaria possam desanimar qualquer espectador, quando a ameaça surge e o suspense se instaura, o diretor realmente consegue deixar a plateia apreensiva e presa à cadeira. Como esse é o objetivo principal do filme, é ótimo que não decepcione neste quesito.
Auxiliado pela boa performance dos atores e a fotografia de Seamus McGarvey, trabalhando com uma iluminação mínima, sem deixar tudo escuro demais, o visual e o clima trabalham de mãos dadas, entregando o que a narrativa realmente precisava. A dependência da trilha sonora para esse resultado é um fator negativo, claro, mas o conjunto funciona no fim das contas. Talvez tenha sido por pouco, mas foi eficiente. Daniel Espinosa ainda escorrega de leve no momento de fechar a história. Nada grave novamente, mas algumas pessoas podem achar ligeiramente previsível por conta da construção da cena. No entanto, nada me tira da cabeça que ele pode melhorar muito em um futuro próximo, desde que escolha bons projetos .
Enfim, Vida tem personalidade, acerta mais do que erra e não é simplesmente um genérico. Os resultados nas bilheterias deixam incerto se ganhará continuação, mas, independente disso, vale o tempo investido, tanto para os fãs de terror como os de ficção científica. Ah, você gosta muito dos dois? Neste caso, não perca…