É inegável que o cinema brasileiro desenvolveu-se de maneira meteórica nos últimos 20 anos, desde então, fomos contemplados com obras como Central do Brasil(1998), Cidade de Deus(2002) e Tropa de Elite(2007), dentre tantos outros filmaços. É inegável também, que da mesma maneira que surgiram tais obras, outras tantas vieram a tona; essas com um estilo diferente, talvez transgressor, talvez inovador. Esse tipo de filme, por fugir dos “padrões clássicos” de cinema, certamente encontra dificuldades ao ser realizado, e com Ventos de Agosto, de Gabriel Mascaro, não é diferente.
A narrativa do filme é claramente dividida em três etapas diferentes. Na primeira, acompanhamos a história de Shirley (Dandara de Morais), uma jovem amante de rock e tatuagens, que é obrigada a morar com sua avó, em um vilarejo paupérrimo de pescadores. Após essa primeira parte, somos apresentados a um misterioso rapaz (interpretado pelo próprio Mascaro), que com seus diversos apetrechos, procura captar o som dos ventos do local. Em seguida, acompanhamos a jornada de Jeison (Geová Manoel dos Santos), par romântico de Shirley, que em um dia de pescaria encontra um cadáver. Jeison desenvolve uma estranha obsessão pelo corpo, cuidando do mesmo, até achar um “fim digno” para o defunto.
Em uma analogia, podemos comparar o filme a uma montanha-russa; nele, encontramos diversos pontos altos e baixos. Dentre todos, como ponto alto, vale a pena destacar o trabalho de som do filme. Praticamente sem uma trilha sonora, o filme desenvolve-se apenas com sons diegéticos, que aliados com alguns outros aspectos, como a simplicidade dos atores, e os belíssimos planos abertos feitos por Mascaro, conferem um tom orgânico à película.
Em contraponto a esses aspectos, nos deparamos com a absoluta incapacidade do filme de prender o espectador 100% do tempo. A total falta de ritmo faz com que por diversas vezes nos distanciemos do universo da obra. A ausência de uma reviravolta, ou algum fato que nos emocione mais, pode ser considerado um ponto fraco do roteiro (escrito pelo próprio Mascaro e por Rachel Ellis), fazendo com que um sentimento de vazio permeie o espectador ao final. Ainda é importante ressaltar que em termos de fotografia (mais uma vez, feita por Mascaro), nada de inovador é apresentado, fazendo com que a mesma não comprometa, mas também não ajude o bom andamento do filme.
Com tudo isso em mente, podemos dizer que Ventos de Agosto é um filme que confere ao cinéfilo uma experiência apenas burocrática, que entretém, mas nada além disso.
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